Ao escutarmos a liturgia da Palavra deste 11º domingo do tempo comum, poderíamos dizer que estamos diante da liturgia do Reino de Deus. Também poderíamos dizer que estamos no domingo do Reino de Deus.
A primeira coisa que esta liturgia quer nos mostrar é que o Reino de Deus não é uma realidade apenas para depois desta vida. É claro que todos nós caminhamos para o Reino definitivo de Deus, todos nós almejamos chegar nesse Reino e experimentá-lo, plenamente. Mas a liturgia deixa claro pra nós, que este Reino está se dando nesta vida, está presente entre nós. Mesmo que nós tenhamos, talvez, tantos motivos, tantos exemplos, até para nos questionarmos se este Reino, de fato, está se dando, é preciso que hoje, todos nós tenhamos um olhar de fé e reconheçamos que, de fato, como o próprio Jesus, nos diz, no evangelho (Lc 17,21) o reino de Deus está no meio de nós.
Na verdade, todos nós precisamos nos lembrar, que o próprio Senhor, o próprio Jesus é a manifestação do Reino de Deus. Unirmos a nossa vida a Ele é, na verdade, participarmos do Seu Reino, é fazermos parte da Sua vida, é fazermos com que o Seu Reino, também toque a nossa vida, e assim, nós vivamos de acordo com o Reino de Deus. Mas ouvindo o Evangelho (Mc 4,26-34) e contemplando as duas parábolas que Jesus nos conta, precisamos aprender que o Reino de Deus acontece, mesmo quando não colaboramos.
A primeira parábola de Jesus é interessante, o homem lança a semente e a semente vai germinando, vai se transformando, com o passar do tempo. O homem está dormindo e não controla o que aquela semente está fazendo, não controla o efeito daquela semente dentro da terra, pra nos lembrarmos que o Reino de Deus, mesmo quando não colaboramos, continua acontecendo. O Reino de Deus está se dando, mesmo quando nós não vemos.
Olhamos a terra e contemplamos que dentro dela existe uma semente que está fecundando a terra, que está germinando, mas nós não vemos, não percebemos. Só depois de um tempo é que veremos os sinais. Assim é o que acontece com o Reino de Deus. Mesmo que nós não o vejamos, mesmo que não possamos tocá-lo, materializá-lo, ele está se dando, ele está se dando dentro de cada um de nós, e por isso ele está se dando no meio de nós, no meio de nossa sociedade. É preciso então, que nós consigamos dar espaço em nossa vida, para que o Reino de Deus aconteça.
Por outro lado, Jesus detalha esta parábola, para nos mostrar que este caminho feito por esta semente, é um caminho gradual, paulatino, é dia após dia, para nos lembrarmos de que o Reino de Deus também não acontece de modo imediato, de modo instantâneo, como gostaríamos que fosse, como nós, muitas vezes, esperamos que os outros ajam, que consigamos também, agir assim.
Nós estamos, cada vez mais, vivendo uma sociedade da pressa, da correria, da agitação, do instantâneo, do imediato. Antigamente, queríamos as coisas pra ontem… hoje não dá mais, hoje queremos tudo pra anteontem. De tanta pressa que temos, de tanta rapidez que queremos que a vida aconteça… e o Reino de Deus acontece dia após dia, na tranquilidade e na serenidade de um dia que passa após o outro.
O Reino de Deus hoje nos convida a aprendermos a respeitar o nosso ritmo, o ritmo das coisas, o ritmo dos outros, e a sairmos desta lógica frenética na qual muitas vezes vivemos, e aprendermos a ter paciência, a ter calma. Olhando pra nossa vida, percebemos isso: quanta coisa queríamos mudar em nós, e já estamos tentando há 10, há 20, há 30, há 40, há 50, talvez há 60, 70, 80 e continuamos tentando, e quanta coisa ainda não mudou, e quanto coisa ainda não vai mudar.
É preciso ter calma, ter paciência, e reconhecer que o Reino de Deus está se dando, está se dando como um rio, que segue seu fluxo, mas talvez gostaríamos que ele fosse mais rápido, que fosse mais agitado, que tivesse mais ondas! e o rio segue, na tranquilidade do seu caminho. Assim é o Reino de Deus, acontecendo entre nós.
E depois, no Evangelho, Jesus mostra que o Reino de Deus é, também como um grão de mostarda, pequenino, que lançado na terra cresce e se desenvolve e alcança todos, cumprindo aquilo que o profeta Ezequiel (Ez 17,22-24) nos dizia, nos lembrando que o Reino de Deus é, também o reino das coisas pequenas. Nós gostamos das coisas grandiosas, dos gestos maravilhosos, dos espetáculos, e o Reino de Deus está se dando… no grão de mostarda.
Aprendamos a valorizar as coisas pequenas, aprendamos a reconhecer Deus agindo no pequeno da nossa vida, no ordinário da nossa vida, em coisas que nós, talvez, nem vejamos bem, como um grão de mostarda, que poderia passar despercebido, mas ali o Reino está presente e é ali que o Reino de Deus acontece.
É preciso que nós aprendamos hoje, como o próprio Senhor acabou de nos mostrar, no evangelho, que nunca vamos compreender todas as coisas. Não vamos compreender, plenamente, o Reino de Deus. Nós queremos compreender tudo, queremos resposta pra tudo, queremos resolver tudo, mas estamos constatando que não temos resposta pra tudo, que não resolveremos tudo, e que não solucionaremos todos os problemas, nem os nossos, quanto mais os dos outros. Assim é o Reino de Deus.
É preciso que aprendamos a não querer dar resposta, nós gostamos de resposta! Parecemos aquela criança de 3 anos, que pergunta, ‘mãe, por que isto?’ e você responde, ‘mas por que isto, por que isto?’ E parece que vai esgotar. Nós nunca vamos esgotar as perguntas da vida, nunca vamos esgotar os nossos “porquês”! Talvez carreguemos os “porquês” da vida… a vida inteira. E talvez, só no céu teremos respostas pra tantos “porquês” que estejamos nos perguntando agora.
Que nós, hoje, acolhamos o convite de Paulo (2Cor 4,13-18-5,1), que nos convidava a reconhecer que somos peregrinos, caminhamos com o olhar da fé, reconhecendo que a fé não nos dá materialidades, a fé não nos dá a possibilidade de concretizar tudo, mas a fé nos dá a certeza de que Deus está no comando, mesmo quando não O vemos, mesmo quando não percebemos a Sua ação, Ele está ali, Ele está agindo.
Que possamos hoje, iluminados por essa Palavra, fazer o nosso caminho e, de fato, como peregrinos, almejarmos um dia, em que todos nós, como disse Paulo, compareceremos diante do Senhor e prestaremos contas do que fizemos de bom e do que fizemos de mau. Que nós, como Paulo (2Cor 4,18) dizia, caminhemos com os olhos nas coisas invisíveis, e reconheçamos que o Reino de Deus se dá, mesmo quando não o vemos, mesmo quando não o tocamos, mesmo quando não o sentimos, o Reino de Deus está no meio de nós!
Somos peregrinos, longe do Senhor, pois caminhamos na fé, e não na visão clara! (2Cor 5,7)
Postagens Relacionadas
Padre Douglas – É assim a geração dos que procuram o Senhor!
Nós somos membros da geração que procura o Senhor. Nós somos aqueles que desejamos o Senhor, que queremos…
PADRE DOUGLAS: Está aqui um menino, com 5 pães de cevada e 2 peixes! Mas o que é isso, para tanta gente?
O evangelho de hoje (Jo 6,1-15) narra pra nós, uma das cenas mais comentadas pelos evangelistas: a cena…
Padre Douglas – A minh’alma tem sede de Vós e Vos deseja, ó Senhor
O que lemos no Salmo 62 é, na verdade, uma declaração de amor que eu e você fazemos…
DOM JOSÉ FRANCISCO – UM JEITO NOVO
No século XVII, numa Londres assolada por pragas e pestes, sequer havia medicamentos. Antibiótico, nem em sonho! Foi…