O evangelho de hoje (Jo 6,1-15) narra pra nós, uma das cenas mais comentadas pelos evangelistas: a cena que nós conhecemos como a multiplicação dos pães, cena esta tão importante da vida de Jesus, de seus apóstolos e dos seus discípulos, que todos os evangelistas citam-na e a comentam.
Mas ao escutarmos essa palavra hoje, ao ouvirmos esse relato no hoje da nossa vida, poderíamos nos perguntar: o que ela tinha a nos dizer? O que ela tem a nos ensinar? O que ela tem a nos recordar, no dia de hoje? E a primeira coisa que chama a nossa atenção é uma multidão. Que corre ao encontro de Jesus!
São João narra que aquela multidão havia contemplado todos os sinais realizados por Jesus. Via os sinais que Jesus realizava na vida do povo. Via as curas que Jesus já havia realizado. Aquela multidão se sentia atraída por Jesus. E por isso ia ao Seu encontro.
Aquela multidão, na verdade, é a imagem da humanidade, é a imagem de todos nós, que nos sentimos também atraídos por Ele, que também, de fato, vamos ao Seu encontro, viemos ao Seu encontro porque nós fomos atraídos por Ele, nós O desejamos. Nós podemos dizer, como o salmista , “a minh’alma tem sede de voz ó Senhor, como terra sedenta e sem água.” (Sl 42,2) Nós O desejamos! Mas nós também vamos ao Seu encontro, como essa multidão! Nós queremos a cura, nós queremos a resolução de um problema, nós queremos isso, nós queremos aquilo, nós temos muitas coisas… a pedir ao Senhor.
Mas o que mais nós precisamos? O que mais nós precisamos hoje? Quando nós vamos ao encontro de Jesus, o que nós mais queremos e o que nós mais precisamos é Ele mesmo. Mesmo que estejamos enfermos, mesmo que estejamos num mar de problemas, mesmo que estejamos… com tudo e mais um pouco, como dizemos popularmente.
O que precisamos, o que necessitamos hoje é do Senhor. Por isso que nós vamos ao Seu encontro, porque nós necessitamos dEle, precisamos dEle. Na verdade, nós hoje queremos que Ele não apenas nos dê um dom material, nos dê uma cura, nos dê uma resolução de um problema ou outro. Nós queremos o Senhor! Queremos que Ele fique conosco.
Na verdade, o evangelho de hoje é o início do capítulo 6 de São João, quando Jesus vai fazer o grande discurso do pão da vida! E agora, ao multiplicar os pães, Jesus na verdade Se mostra: Ele é o pão verdadeiro descido do céu. É dEle que nós temos fome. É dEle que nós precisamos nos alimentar, e por isso, nós, também hoje, precisamos nos colocar diante dEle, como homens e mulheres sedentos de sermos alimentados pelo próprio Senhor, e reconhecermos como Ele nos mostrará, nas próximas algumas semanas, que Ele é o pão vivo, descido do céu, que Ele veio para nos alimentar! Ele veio para nos saciar, porque só Ele nos sacia plenamente.
Não adianta querermos nos saciar com coisas, com pessoas, com conquistas, porque nós seremos homens e mulheres eternamente insatisfeitos. Nunca queira satisfazer alguém, nunca se iluda achando que você vai satisfazer seu marido ou sua esposa, porque não vai. Eu e você nunca teremos essa capacidade, porque o nosso coração anseia por Deus, deseja Deus, só Deus nos sacia, só Deus faz-nos sentir plenos, e nunca nesta terra. Porque desejamos o céu! Lá, sim, eu e você estaremos plenos, satisfeitos, plenamente realizados. Por isso que nós hoje vamos ao encontro de Jesus. Por isso que nós hoje, também como Ele, subimos a montanha, para reconhecermos que nós precisamos de atitude.
Mas o evangelho vai além. O evangelho não para simplesmente na multidão que vai ser satisfeita pelo Senhor. Jesus tem uma preocupação concreta, também. Ao mesmo tempo em que Ele sabe que Ele é o pão da vida, que é Ele quem alimenta aquela multidão, sabe que aquela multidão, como eu e você, precisamos de coisas concretas, porque nós não somos anjos, nós não vivemos no céu, nós vivemos aqui e agora. Estamos enraizados nesta terra.
Felipe se volta para Jesus e pergunta: “onde nós vamos comprar pão, para que eles possam comer? para que eles fiquem satisfeitos, fisicamente, precisam se alimentar!” Mas Felipe reconhece que não tem uma resposta! Felipe reconhece que humanamente, ele não pode resolver o problema. Felipe é a imagem de todos nós, que reconhecemos, que em alguns momentos da nossa vida não somos nós que vamos resolver, não somos nós que vamos dar a última palavra.
Mas ao mesmo tempo, aparece André, irmão de Simão Pedro. Vejam que palavra curiosa André diz: “Está aqui um menino, com 5 pães de cevada e 2 peixes!” Mas ele continuou, dizendo, ‘mas o que é isso para tanta gente?’ Como se estivesse dizendo, esse menino não serve pra nada, só tem isso! larga de mão! Desprezam o menino.
Curiosamente, Jesus diz: “Fazei sentar as pessoas”. Como se estivesse dizendo, ‘basta o que esse menino tem pra oferecer. É o suficiente, é o que nós precisamos’. André é também a imagem de todos nós, quando na verdade, nós achamos que o pouco que temos não vai resolver nada. Nós, às vezes, dizemos, o que é isso, não vai adiantar mesmo, e a gente joga a bandeira e entrega o jogo, como a gente diz, e desiste. E nos esquecemos, de que a porta do milagre está, exatamente, no pouco que esse menino tinha para oferecer! Esquecemo-nos de que os milagres da nossa vida passam pela nossa oferta gratuita e generosa, de 5 pães e 2 peixes.
O evangelho de hoje nos faz lembrar que os milagres de Jesus, em nossa vida e na vida dos outros, não são milagres que caem do céu, como se só Deus fizesse a sua parte. Também nós fazemos a nossa! Caberá sempre a nós ofertar 5 pães e 2 peixes. O Senhor podia mandar descer pão do céu. Podia mandar pular peixe do mar.
Mas o evangelho nos faz lembrar, de que nós temos e teremos sempre a nossa responsabilidade. Essa palavra nos convida a sair da nossa comodidade, a sair da nossa passividade e achar que Deus tem que fazer tudo, resolver tudo. Nós precisamos oferecer 5 pães e 2 peixes. O número 7, nós sabemos que na escritura é o número da perfeição, é o número da plenitude! Esse menino oferece tudo, esse menino não tem nome, não sabemos quem era, mas ele oferece tudo o que tinha. E é um tudo ofertado na generosidade, na gratuidade, que faz com que às vezes Jesus realize o milagre.
E curiosamente, o que acontece? Cumpre-se a profecia de Eliseu, na primeira leitura. (2Rs 4,42-44). Todos são satisfeitos, todos são alimentados. Cumpre-se o que cantamos no Salmo Responsorial (Sl 144), reconhecendo que só Deus nos sacia plenamente. Cumpre-se o que Paulo disse na segunda leitura (Ef 4, 1-6), quando nos fazia lembrar que nós somos membros uns dos outros. Nós somos um só corpo. Essa palavra nos ajuda hoje, a olhar para o alto, a olhar para o Senhor, a reconhecê-lo como centro, como o pão vivo descido do céu. Mas nos convida também, a olhar pro alto, a olhar pra frente, a olhar pra quem está ao nosso redor, que depende de nós. A palavra de hoje nos convida a entrar na dinâmica da fraternidade, da partilha.
É preciso que hoje, ao escutarmos essa palavra, nós, de fato, sejamos capazes de entrar na dinâmica da partilha entre nós. Jesus é tão cuidadoso que ainda manda os apóstolos recolherem tudo o que sobrou, para que nada seja desperdiçado. Uma palavra, meus irmãos, tão atual, que nós poderíamos dizer que essa palavra foi escrita ontem, mas foi escrita há muito, muito tempo atrás, nos convidando a ser previdentes, zelosos, cuidadores, a não entrarmos na lógica do descarte, do desperdício, e aprendermos a ser um povo da partilha e da comunhão.
Não é possível que eu e você, daqui a pouco, nos dirijamos à mesa do altar, para nos alimentarmos do corpo e do sangue do Senhor, se nós não formos capazes de nos reconhecer como corpo, de nos reconhecermos como membros uns dos outros, de não nos reconhecermos como uma só família, que tem um Deus como Pai.
Que a palavra de hoje de fato nos interpele, nos motive e nos impulsione a buscar o Senhor como o pão, do qual necessitamos para viver. Mas que a palavra de hoje também nos ajude a reconhecer, que tantos irmãos e irmãs, a nossa volta, estão esperando, simplesmente, a nossa generosidade, a nossa gratuidade, para oferecermos nossos 5 pães e 2 peixes e deixarmos que aí o Senhor faça o Seu milagre e sacie a você, a mim e a toda a multidão, que ainda hoje corre ao encontro do Senhor, porque de fato, temos sede e fome daquEle que só Ele pode nos saciar plenamente.
Aqui está um menino, com 5 pães de cevada e 2 peixes.
Mas o que é isso para tanta gente?