Nós somos membros da geração que procura o Senhor. Nós somos aqueles que desejamos o Senhor, que queremos estar com o Senhor.
O salmo (SI 23) nos faz lembrar daquele canto que costumamos usar no início da Santa Missa, quando dizemos, “Senhor, quem entrará no Santuário? Quem tem mãos puras e inocente coração”. É exatamente este o desejo que Deus coloca em nossos corações hoje, o desejo de fazermos parte de seu povo, da sua geração, fazermos parte da sua casa, de caminharmos para junto dEle.
É exatamente por isso que encontramos como que a nossa certidão de nascimento, a certidão de nascimento do cristão, filho de Deus, quando S. João nos diz: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu, de sermos chamados filhos de Deus e nós o somos”(1 Jo 3,1-3). S. João quer fazer com que todos nós jamais nos esqueçamos de que somos filhos de Deus. Ou como ouvimos, popularmente, e encontramos até em parachoque de caminhão, “Eu não sou dono do mundo, mas sou filho do dono”.
Eu e você precisamos nos lembrar de que somos filhos de Deus. Filhos de um Deus que é pai, que cuida de nós, que nos ama, que nos sustenta, que nos conduz ao longo da nossa vida e que não deseja outra coisa, senão estarmos com Ele, entrarmos na Sua casa, fazermos parte da Sua vida. Foi pra isso que Ele nos criou, é pra isso que Ele deseja que cada um de nós possa caminhar.
Todos nós ao celebrarmos a solenidade de todos os santos, reconhecemos que, de fato, o santo não é outra coisa senão um homem, uma mulher, que vive como filho de Deus.
Por isso, essa vocação, esse chamado, não é para algumas pessoas, não é para um grupo privilegiado, não é para alguns predestinados. A santidade é pra todos nós, o chamado do Senhor engloba a todos, porque todos nós fomos criados à imagem e semelhança de um Deus que é santo. E mais ainda, como diz a própria liturgia, um Deus que é três vezes santo. Por isso, se nós, de fato, somos filhos de Deus, é preciso, que nós vivamos como filhos de Deus. Que nós sejamos semelhantes a esse Pai do céu que todos nós temos, para que desse modo, as pessoas possam dizer que nós, de fato, parecemos com o nosso Pai. Nós somos a cara de nosso Pai, pela nossa maneira de viver, pelas nossas palavras, pelo nosso testemunho, nós provamos, pra nós mesmos e para os outros, que somos filhos de Deus.
Mas sabemos nós, que este caminho precisa ser trilhado, percorrido. Não é apenas uma graça que Deus nos dá, mas é também a nossa correspondência a essa graça que Ele nos concedeu. Assim, nós, ao perguntarmos ao Senhor, “o que precisamos fazer para ser santo? o que precisamos fazer para viver como filhos de Deus?” E a primeira coisa que o Senhor nos faz recordar é que, antes mesmo de fazer alguma coisa, nós já somos seus filhos. Ele já nos trouxe para junto dEle, Ele já nos fez seus filhos. Agora, o que vamos fazer para viver como seus filhos? É o que o próprio Senhor nos apresenta no Sermão da Montanha.
A proposta que Jesus nos faz, no início do capítulo 5, do evangelho de São Mateus, não é uma proposta meramente de cumprimento de normas, mas na verdade é um convite à felicidade! O bem-aventurado é o feliz! O feliz, o bem-aventurado, não é outra coisa senão o santo. E ele vive, como Deus vive! Jesus, então, nos convida hoje a subir um pouco mais, porque São Mateus diz que Jesus sobe ao monte, senta-se e começa a ensinar. Nós, como seus discípulos, nos reunimos ao seu redor, como hoje estamos fazendo, a escutá-lO.
E o que Ele hoje nos diz? “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino do céu. Bem-aventurados os mansos, bem-aventurados os pacíficos, que promovem a paz, bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, bem-aventurados os misericordiosos, bem-aventurados os que sofrem por causa da justiça”.
Somos nós, nós somos os bem-aventurados, se vivermos esta palavra, uma palavra concreta, que pede, de cada um de nós, um empenho sincero. E não é à toa, que Jesus começa o sermão, dizendo, bem-aventurados os pobres de espírito. Bem-aventurados aqueles que se reconhecem dependentes de Deus, aqueles que reconhecem que podem ter tudo, todas as pessoas ao seu lado, mas reconhecem que tudo é passageiro, mas a sua riqueza é o Senhor, que não passa, por isso ele é o pobre, porque ele não se segura em coisas e em pessoas, mas ele se segura na única riqueza verdadeira, presente e permanente, em sua vida, que é o próprio Deus.
Por isso, eu e você somos chamados a experimentar esta bem-aventurança. Mas também a bem-aventurança de sermos entre nós, homens e mulheres da misericórdia, capazes de perdoar, capazes de fazer com que o perdão que recebemos seja também o perdão doado, sejamos capazes de construir a paz, de promovermos a paz.
No mundo em que estamos, marcado por tantas guerras, dentro e fora de nossas casas, o Espírito nos impele a promovermos a paz. A sermos construtores da paz, com nossas palavras, com nossas atitudes, como um Deus da paz, o Deus que é nosso Pai.
E ao mesmo tempo, também, vivermos o desafio da justiça, trabalharmos pela justiça. A justiça entre nós, nas nossas relações, na nossa sociedade, esse é um dever de um filho, da filha de Deus. É pra isso, realmente, que Deus nos dá sua graça, para construirmos uma comunidade de fé, para construirmos uma sociedade justa, é o que o Senhor pede, a mim e pede a você.
Mas Jesus nos alerta, que aquele que viver esta palavra, aquele que viver as bem-aventuranças, o que vai experimentar? Na 9ª bem-aventurança, ou a conclusão, a síntese, de todas as outras, Jesus nos diz uma palavra a que, humanamente falando, não aderiríamos. Sem dúvida alguma, não deixaríamos de viver esta palavra, mas é a proposta que Ele faz a todos nós: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem”, e mais ainda, “e mentindo disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de Mim”. O que vamos experimentar? “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa no céu”. O filho, a filha de Deus sabe que passará por perseguições.
Acabamos de testemunhar, exatamente, isso. Há poucos dias, na França, homens e mulheres de fé, perseguidos por esta mesma fé. Mas meus irmãos, isto não é privilégio de alguns, todos nós, se vivermos o evangelho, se vivermos como filhos e filhas de Deus, se vivermos o chamado à santidade, se vivermos as bem-aventuranças, também nós, muitas vezes, seremos perseguidos, seremos maltratados, seremos caluniados, mas o que o Senhor nos convida a experimentar, a alegria e a exultação, porque estamos no caminho certo, e mais ainda, porque como lembrava São João, ainda vamos experimentar algo muito maior do que agora estamos experimentando. Sejamos nós motivados por essa palavra, pra reconhecermos, na verdade, a visão de São João, no seu Apocalipse (Ap 7), é a visão de todos nós.
Somos nós, membros daquela multidão, somos nós, membros daquela geração, aquela geração que está diante do Senhor, diante do trono do cordeiro imolado, como estamos em cada santa missa, somos todos nós, aqueles que trajavam vestes brancas e carregavam na mão uma palma. Uma imagem clara, que nos remete, imediatamente, ao nosso batismo, quando eu e você fomos revestidos de Cristo e assumimos a veste batismal. Uma nova vida, uma nova caminhada, como filhos e filhas de Deus, com a certeza de que mesmo que aquela veste fosse manchada, possa ela ainda ser manchada, nós podemos lavá-la, purificá-la, alvejá-la, pelo sangue do cordeiro, que recebemos a cada confissão.
Que nós reconheçamos, também, que um dia, seremos nós a levantar a palma do martírio, a palma do testemunho, a palma do sinal do justo que perseverou na sua fé. Desse modo, reconhecemos que podemos passar por uma grande tribulação, como o próprio Senhor nos mostrou (Ap 7,2-4.9-14). Mas a certeza que temos é a certeza do céu, a certeza de que um dia, eu e você estaremos na casa do Pai, onde Ele preparou para nós um lugar, uma morada, onde Ele nos aguarda, onde nossos irmãos e santos já nos esperam. Que assim nós, um dia, experimentemos, plenamente, ser membros dessa geração que busca o Senhor. Porque o Senhor nos lembrou que Ele é, de fato, o nosso Pai.
“Vede o grande presente de amor o Pai nos deu, de sermos chamados filhos de Deus, e nós o somos”.
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É simplesmente maravilhoso sabermos que verdadeiramente somos filhos de Deus!
Mas fica a pergunta: Será que , de verdade eu vivo como tal?? Confiando na misericórdia deste Deus que nos ama, às vezes nos acomodamos e não correspondemos ao que Ele nos oferece.
As bem-aventuranças , belo tesouro que nos é dado, têm que ser vivenciadas como tal…..
Peço a Deus a graça de, passo a passo , conseguir atender ao seu chamado à santidade!!!!!………
Padre Douglas, as palavras, que o Sr caridosamente nos envia, nos alimentam espiritualmente E nos ajudam muito a trilharmos o caminho seguro !! Que Deus o abençoe sempre!