PE. DOUGLAS – Aqui estão minha mãe e meus irmãos

Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe!

Ao escutarmos estas palavras do evangelho (Mc 3,20-35), poderíamos dizer que estamos diante do domingo da família de Jesus. Estamos diante do domingo que retrata pra nós, com muita clareza, o que significa estar com Jesus e fazer parte da Sua família, da Sua comunidade.

O evangelho narra pra nós tantas pessoas que iam ao encontro de Jesus, tantas pessoas que estavam com Jesus. Mas como aquelas pessoas estavam com Jesus? Talvez hoje nós pudéssemos nos perguntar, “como nós estamos com Jesus?”

Hoje, eu e você também estamos ao redor de Jesus, também estamos procurando Jesus! Mas o que nos faz, de fato, estar com Ele? O que, de fato, queremos com Jesus? Pergunte a você mesmo, agora: “O que eu quero com Jesus? O que eu vim fazer hoje, aqui?” Talvez eu e você tenhamos vindo aqui porque já fazemos isto todo domingo, como se não fizéssemos outra coisa. Faz parte da nossa programação, talvez eu e você estejamos hoje, aqui, porque estamos esperando algo em troca, porque queremos uma graça de Jesus, porque queremos que Ele faça alguma coisa entre nós, e para nós. Talvez estejamos hoje aqui, porque, de fato, fazemos parte da sua família. Porque queremos caminhar com Ele, porque queremos escutar a Sua voz, porque queremos fazer a Sua vontade, porque queremos viver, como Ele nos propõe.

Aí sim, podemos dizer que nós fazemos parte da Sua família. Por quê? Porque nós fazemos e buscamos fazer a vontade do Pai que está no céu, como o próprio Jesus descreve, no evangelho.

A imagem que São Marcos usa é muito curiosa, porque existem pessoas do lado de fora da casa e existem pessoas dentro de casa, ao redor de Jesus. Mas curiosamente, quem está fora da casa, também são pessoas que fazem a vontade do Pai. Do lado de fora estão os discípulos de Jesus, os seus apóstolos, e a Sua própria mãe! E dentro de casa, estão outros discípulos, pra nos lembrarmos de que, com Jesus, nós temos que superar estes limites físicos que colocamos, como se estivéssemos pensando: nós somos os discípulos, que estamos aqui dentro, e quem está lá fora, quem está no mundo, está todo mundo perdido. Nós somos os salvos, e eles os condenados.

Esta não é a imagem do evangelho, a imagem do evangelho é o contrário… é a imagem daqueles que querem fazer a vontade de Deus. Não importa se estão dentro ou fora da casa, importa que estejam querendo fazer a vontade do Pai que está nos céus. É isto que nos caracteriza como discípulos de Jesus, é isto que faz com que sejamos Seus irmãos, Suas irmãs, Sua mãe.

É a imagem clara que Jesus nos dá, de que o que nos une, profundamente, a Ele, é o Pai, o Pai que é nosso e que é dEle (Jo 20,17), é o único Pai, do qual todos nós somos filhos.

Mas o evangelho também mostra, claramente, que nem todos compreendiam Jesus, nem todos estavam dispostos a um encontro com Jesus.

Vejam, meus irmãos, isso pra nós pode parecer muito tranquilo, mas também diríamos, como essas pessoas podem fazer isso? Não nos iludamos, porque podemos fazer a mesma coisa. Podemos estar com Jesus, caminhar com Jesus, mas nem sempre aceitá-lo, nem sempre concordar com a Sua proposta, e nem sempre reconhecer que a sua ação está acontecendo em nossa vida.

Aqueles contemporâneos de Jesus foram ao extremo, chegaram a pensar, inclusive, que era o próprio demônio, que estava agindo em Jesus, através dEle. Talvez não cheguemos a este extremo, mas talvez nem percebamos que o Senhor está agindo em nossa vida.

Hoje em dia está cada vez mais na moda, colocarmos tudo na conta do demônio. O demônio faz tudo e parece que nós não fazemos mais nada, parece que não temos mais responsabilidade… a responsabilidade é dele, é ele que pensa, é ele que nos perverte, é ele que nos corrompe, e aí ficamos como Adão e Eva, tentando culpar, um acusando o outro.

A imagem do livro do Gênesis (Gn 3,9-15) é clara, quando o autor mostra, exatamente, um casal chamado a viver na comunhão com Deus, um casal criado, pensado, para a comunhão com Deus. Mas aceitaram a tentação, aceitaram a ilusão da tentação, que é sempre uma proposta que nos seduz.

É uma fake news, é uma proposta que, na verdade, nos engana, mas acreditamos, porque parece tão real, parece melhor estar na tentação, do que estar com Deus. E por isso se corrompem, corrompem a comunhão com Deus. É a imagem clara da nossa vida, quando nós, também somos seduzidos, iludidos, por poucas propostas e trocamos o Senhor pelas tentações, que estão o tempo inteiro a nossa volta.

Mas o texto do Gênesis nos questiona, porque Adão e Eva não foram capazes de ser maduros, de assumir seus erros, e precisavam culpar os outros.

É a imagem clara da nossa vida. Quantas vezes somos aquelas crianças que nunca cresceram. Quando duas crianças estão brigando, primos, irmãos ou amigos, é tão curioso… se você pergunta, o que aconteceu,  imediatamente, eles apontam um para o outro, ‘foi ele’.

E nós já somos velhos, já passamos da infância, pelo menos, cronológica, mas continuamos a fazer o mesmo: foi ele, foi o meu marido, foi a minha esposa, foram os meus filhos, foram os meus netos, foi o meu colega de trabalho… É a dificuldade que eu e você temos, como Adão e Eva, de dizer: a culpa foi minha, eu que escolhi, eu que fiz, eu que optei por isto ou por aquilo.

Cresçamos, meus irmãos, na fé, sejamos capazes de olhar cara a cara e dizer, o erro foi meu, eu que escolhi, não foi ele que me condicionou, fui eu que optei por isto ou por aquilo. Sejamos maduros, sejamos homens e mulheres capazes de dizer, a escolha foi minha. Eu até fui tentado, eu até fui seduzido, mas eu quis, eu escolhi. Nenhum de nós está condicionado à tentação, nenhum de nós está amarrado à tentação. Podemos sempre escolher, podemos sempre dizer, eu quero, ou eu não quero, porque somos homens e mulheres livres, assim Deus nos fez.

Por isto, no evangelho, Jesus nos convida a fazermos parte da Sua família, uma liberdade que gera responsabilidade, que nos faz cristãos maduros, capazes de enfrentar todos os desafios, porque estamos com Ele, como Paulo nos mostrava (2Cor 4, 13-18-5,1), estar com Jesus, fazer parte da Sua família, não fará com que nós estejamos livres de todas as tentações, de todas as dificuldades. Talvez seja até o contrário, talvez nós sejamos mais tentados, mais provados, mas somos também mais agraciados pelo Senhor, porque estamos com Ele. Paulo nos lembrava: por isso, não desanimemos. Mesmo se exteriormente, estivermos abatidos, cansados, fatigados, mas Paulo nos lembrava, interiormente, estamos firmes e resistimos.

Deveríamos guardar os dois versículos, 17 e 18, como uma palavra que ilumina nossa vida: “Com efeito, o volume insignificante de uma tribulação momentânea acarreta para nós uma glória eterna e incomensurável. Mesmo que nós nos abatamos, mesmo que nos cansemos, que sintamos o peso da vida, dos debates, das tentações, cremos que tem algo muito maior reservado pra nós.” Paulo continua: “Isto acontece porque voltamos os nossos olhares para as coisas invisíveis, e não para as coisas visíveis, pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno.”

Que nós, hoje, consigamos colocar os óculos da eternidade, que nos fazem enxergar o alto, que nos fazem buscar as coisas do alto, que nos fazem olhar pra cima, e reconhecer que aqui embaixo tudo é passageiro.

Que o Senhor, hoje, nos dê a graça de nos sentarmos ao Seu redor, nos unirmos a Ele, nos sentirmos parte da Sua família, porque é pra isso que Ele nos chamou, e que, de fato, nunca nos esqueçamos de que quem faz a vontade de Deus, esse sim, é o irmão, a irmã, a mãe de Jesus. O que nos define como discípulos de Jesus é o cumprimento da vontade do Pai, que está nos céus.

Aqui estão minha mãe e meus irmãos.

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