PADRE DOUGLAS – Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor!

O que rezamos neste Salmo (SI 88) é, na verdade, uma manifestação do mais íntimo de cada um de nós, reconhecendo que diante da maravilha de Deus, que entra em nossa história, somos impulsionados a cantar a Sua presença, o Seu amor, durante toda a nossa vida.

Nós, de fato, não nos cansaremos de cantar, eternamente, o amor de Deus, por cada um de nós, porque, de fato, Deus amou tanto o mundo, que nos deu Seu Filho. Esta é a certeza que estamos celebrando no mistério do Natal. E por isso, a liturgia nos coloca diante deste mistério, de uma maneira muito mais forte, pra reconhecer Deus, que agora entra em nossa história e se faz um de nós. E por quê? Porque nos ama. Obviamente, não faria isso, se não nos amasse… se não nos amasse profundamente.

Só que a liturgia nos dá a oportunidade de contemplar a imagem e a figura da Virgem Maria, no evangelho de Lucas (Lc 1, 26-38).

E diante deste relato, nós hoje precisamos, primeiramente, deixar brotar, do nosso coração, da nossa mente, um ato de ação de graças, um ato de gratidão à Virgem Maria, porque disse sim, ao plano de Deus, porque abriu mão da sua vontade, do seu plano, para que a vontade e o plano de Deus acontecessem em sua vida. Hoje, eu e você não estaríamos aqui, se não tivesse acontecido essa cena do evangelho. Nós não estaríamos aqui, se não fosse por causa da Virgem Maria. Hoje, eu e você não poderíamos nos chamar cristãos, se não fosse por causa do “sim” da Virgem Maria. Por isso, somos gratos a ela, e seremos, eternamente gratos, porque ela disse “sim”.

Mas diante do “sim” da Virgem Maria, olhamos o nosso sim, olhamos a nossa vida, e à luz deste evangelho, percebemos o quanto nós queremos e devemos aprender com ela, a viver nossa vida, como cristãos, no hoje da nossa história.

A primeira coisa, no evangelho, que chama nossa atenção, é quando diz que o anjo Gabriel foi enviado por Deus, e vai ao encontro de Maria, onde ela estava. Uma imagem clara de um Deus que vem ao nosso encontro. Muitas vezes, pensamos em ir ao Seu encontro, em procurá-lO, em buscá-lO, em estar com Ele, mas o evangelho nos mostra que é Deus que vem ao nosso encontro. E vem ao nosso encontro, onde nós estamos, na nossa casa, na rua, no trabalho. Onde quer que estejamos, podemos ser encontrados por Deus, desde que nós queiramos, desde que nós deixemos que Ele nos encontre. Desde que não troquemos de lado, como quando encontramos alguém, que estamos vendo mas não queremos encontrar aquela pessoa, mudamos de lado da rua, disfarçamos, olhando uma vitrine, para não encontrar, para não dar de cara com aquela pessoa. Assim, podemos fazer com Deus, também. Ele vem ao nosso encontro e nós mudamos de lado, nós O ignoramos, nós O desprezamos, e deixamos passar, na caminhada da vida.

Mas ao mesmo tempo, Lucas nos mostra algo que nunca podemos nos esquecer. A grandiosidade deste mistério pediria que o próprio Deus fosse ao encontro de Maria, fosse Ele mesmo, em pessoa… mas Deus não fez isto. Deus vai ao encontro de Maria através de Gabriel, como vai também, e como vem ao nosso encontro, através de pessoas, através de situações, através de tantas realidades!

O AT narra pra nós, Deus que fala, através de Natã, com Davi, Deus que fala com Balaão através, até de sua mula, para nos mostrar que Ele continua nos falando; muitas vezes, encontramos pessoas, que nos dizem alguma coisa e a gente pensa, Deus está me falando, através disso, esta palavra é Deus que está me enviando.

 É a certeza que temos, de que na caminhada da nossa história, encontramos, muitas vezes, um novo Gabriel, que nos aponta pra Deus, que nos fala de Deus, que nos fala dos planos de Deus. E diante da grandiosidade desta missão, é óbvio que a Virgem Maria tem medo, que a Virgem Maria se assusta, como eu e você, nos assustamos diante dos desafios da vida, temos medo, diante dos desafios da vida, mas escutamos Gabriel, que nos diz: não tenhas medo, não temais.

Por que não vamos temer? Porque é obra de Deus, porque é Deus quem conduz a nossa vida! Por isso é que nós não paralisamos, diante do medo, porque mesmo que o sentimento venha, nós temos a consciência de que Deus está comigo. O anjo disse à Maria, “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo”! O Senhor está comigo, o Senhor está conosco! É a certeza de que, de fato, Ele está com cada um de nós.

E assim, a Virgem Maria pôde, na liberdade, questionar o anjo, questionar Deus, nos ensinando que nós, também, precisamos aprender a dialogar com Deus, a falar o que sentimos, a falar o que pensamos, a falar o que estamos vivendo!

Mas um diálogo, pra ser fecundo, como o foi o da Virgem Maria, precisamos aprender a escutar. E se existe hoje, alguma coisa em que temos dificuldade, é escutar. Nós entramos na igreja, pra escutar Deus e imediatamente começamos a bater papo, de tão difícil que é – desculpe a expressão – calar a boca, pra escutar Deus que nos fala no silêncio. O problema é que nós crescemos, aprendendo a falar, não aprendendo a silenciar. Normalmente, nós não encontramos um pai ou uma mãe, dizendo pro filho, “senta, pra você aprender agora a escutar”.  Nós aprendíamos assim: fala mamãe, fala papai, fala vovó, e a gente repetia como um papagaio. Eu, pelo menos, não tive a experiência de meu pai e da minha mãe, dizendo, senta, pra agora você aprender a escutar.

A escuta é um aprendizado, e a Virgem Maria nos ensina a escutar Deus, a escutar a nós mesmos, e a escutar uns aos outros, silenciando o nosso coração. Assim, poderemos dialogar com Deus, assim poderemos dialogar com os outros, assim poderemos dialogar conosco. E diante do medo, da insegurança, da incerteza, o anjo dá uma palavra a Maria, que dá soluções. Como acontecerá isso? como nós vamos fazer? como vamos enfrentar esta ou aquela situação da vida, como será o próximo ano? “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá”.

É a certeza de que não estamos desamparados, não estamos sozinhos. O Espírito de Deus nos é oferecido, nos é enviado, nos é franqueado, para que sigamos em frente, com a certeza de que estamos caminhando com o Espírito de Deus, fortalecidos por esse Espírito, porque somos Seus filhos, como lembra Paulo, aos Coríntios (1 Cor 3,16s).

Deste modo, a Virgem Maria pôde então dizer: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim, segundo a Tua palavra.”

Que assim, nós também possamos dizer, todos os dias da nossa vida, a cada novo dia, a cada nova manhã, a cada noite, nos levantarmos, nos voltarmos para o Senhor, e dizer: eis aqui a serva do Senhor, eis aqui o servo do Senhor. Faça-se em mim, segundo a Tua palavra e não a minha, segundo o Teu projeto e não o meu, segundo a Tua vontade e não a minha. Só assim, poderemos cantar, eternamente, o amor do Senhor por cada um de nós, porque Deus amou tanto o mundo, que nos deu o Seu Filho Unigênito (Jo 3,16).

“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a Tua palavra.

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