PADRE DOUGLAS: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede.” (Jo 6,35)

Mais uma vez o evangelho narra para nós uma multidão à procura de Jesus. Ao longo do capítulo 6º de São João, que começamos a ouvir semana passada, nós percebemos uma multidão sedenta e faminta. Na verdade, nós não estamos diante de uma multidão distante de nós. Na verdade, somos nós essa multidão. Somos nós a multidão faminta e sedenta que procura o Senhor. Hoje, ao sair de nossas casas, saímos também como essa multidão. Estamos, exatamente aqui e agora, como essa multidão à procura de Jesus. Uma multidão faminta e sedenta, que somos todos nós.

Mas é preciso que nos perguntemos ‘o que de fato queremos com Jesus?’ O que, de fato, eu e você queremos com Ele? O que de fato nós queremos com Jesus? Ao nos encontrarmos agora com Ele, que nos fala, olha nos nossos olhos e nos pergunta: ‘o que você quer comigo hoje?’ Qual seria nossa resposta? Talvez nós hoje, também como essa multidão, digamos a Ele, ‘senhor, semana passada nós nos alimentamos, porque o senhor multiplicou 5 pães e 2 peixes, e hoje nós queremos mais’. Talvez nós cheguemos para Ele: Senhor, eu preciso de solução para um problema na minha vida. Senhor, eu preciso de uma cura, Senhor, hoje eu estou aqui porque eu quero pedir por um familiar meu, Senhor, eu estou aqui por isso, por aquilo…

Talvez hoje nós diríamos tantas coisas para Ele! Mas talvez hoje, deveríamos dizer uma única coisa: ‘Senhor eu estou aqui porque eu preciso de Vós. Eu estou aqui porque necessito da vossa presença na minha vida. Eu não quero saber o que o Senhor vai fazer, o que o Senhor fez, ou o que o Senhor faz hoje. Porque o que eu preciso mesmo, é do Senhor, é do Senhor que eu preciso. Preciso hoje, preciso amanhã, e precisarei ao longo de toda a minha vida’.

Hoje, ao ouvirmos essa palavra, nós de fato nos sentimos cada vez mais necessitados dEle, que se revela a nós hoje, como o verdadeiro pão do céu. O pão do céu, que nos é oferecido, que nos é dado, que nos é franqueado, hoje, amanhã, e todos os dias da nossa vida. O Senhor hoje se revela a nós: ‘Eu sou o pão da vida, eu sou o alimento de que você precisa. Na verdade, eu sou o alimento mais importante que você precisa para viver’, é o que o Senhor hoje nos diz, e nos convida a procurá-lO, não por uma necessidade qualquer, não por uma necessidade pontual. Mas procurá-lO por uma necessidade vital, porque dEle é que nós precisamos para caminhar.

E assim, o Senhor hoje nos convida, não a buscarmos o alimento que passa. Não a nos esforçarmos pelo alimento passageiro, mas ao contrário, Ele próprio nos dizia, “esforçai-vos pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o filho do homem vos dará.” Quando escutamos essa palavra e olhamos a nossa vida, percebemos o quanto nós já nos esforçamos por tantas coisas por tantas necessidades? Por tantas coisas que queremos alcançar. Mas nós nos esforçamos para tê-lO, para nos alimentarmos dEle.

Assim, nós nos reconhecemos hoje, claramente, como o povo de Israel na primeira leitura (Êx 16,2-4.12-15), que ao caminhar depois do Egito, em direção à terra prometida, sente-se desfalecendo e percebe que precisa de algo a mais, percebe que vai sucumbir. E o que Deus faz com esse povo? Manda o maná. Manda o alimento necessário para nos lembrarmos sempre que também nós na travessia da vida, na caminhada no meio do deserto, sempre estaremos assistidos por Deus.

Mas é preciso que nós hoje aprendamos a não ficar chorando pela cebola do Egito. Aprendamos hoje, a não ficar chorando pela vida de escravidão do passado. Mas aprendamos a passar pelo deserto, para chegar na terra prometida. É curioso que todos nós queremos a terra prometida, que todos nós queremos a terra em que corre leite e mel. Mas nem sempre nós queremos passar pelo deserto. E nos esquecemos de que para chegar lá, o povo precisou passar pelo deserto. Para chegar na terra prometida, eu e você também passaremos por muitos desertos. Mas em todos eles seremos assistidos pelo Pai, que nos doa sempre, o pão do céu.

Por isso, hoje, nós podemos caminhar na certeza de que seremos sempre sustentados e amparados por quem de fato nós precisamos. Por isso, de fato, hoje, essa palavra nos leva a uma profunda ação de graças a Deus, porque nos doa o Seu filho. E Jesus, ao entrar no mundo, ao assumir a sua carne, diz a todos nós “Eu sou o pão da vida, a Minha carne é dada por vós”. Ele nos doa a si mesmo, e nos doa a cada santa missa, no pão da palavra, no pão da Eucaristia. E o que estamos fazendo com esse dom, que é Ele mesmo? Acolhemos o dom, ou O estamos desprezando?

Quantas vezes, meus irmãos, nós encontramos pessoas que já se acostumaram a não comungar? E já não sentem falta de receber o verdadeiro pão do céu. Quantas vezes, nós até achamos: eu sou indigno, eu não posso comungar! Mas a comunhão é pra você, a comunhão é pra mim e pra você, que somos pecadores. Por isso é que nós nos reconciliamos com Deus, para nos mantermos em comunhão, por isso que nós O buscamos, porque precisamos dEle.

A Eucaristia não é prêmio dos vitoriosos, não é amuleto da sorte, a Eucaristia é o pão do caminho. É o Senhor que se doa a nós, que se doa todos os dias, se eu e você quisermos, todos os dias. Nós o recebemos na Eucaristia todos os dias, todas as semanas, todos os meses, todos os anos da nossa vida. Nós precisamos, cada vez mais, alimentar o nosso coração dEle, para que assim, nós vivamos então o que Paulo nos dizia na segunda leitura, nos convidando (Ef 4,17.20-24) a deixarmos uma vida pagã para trás.

Tenhamos cuidado, porque muitas vezes, nós somos cristãos, mas na verdade, por dentro, somos verdadeiros pagãos. Vestimos a fantasia do cristão, vamos à missa, pagamos o dízimo, fazemos isso, fazemos aquilo, mas por dentro, quem vive na verdade é um pagão. As palavras, os pensamentos, as atitudes são próprios de um pagão. Hoje a Eucaristia nos convida a deixar para trás tudo aquilo que é atitude, pensamento e palavra de pagão, porque nós somos cristãos, nós somos o povo de Deus a caminho.

E alimentados pelo Senhor, nós, de fato, somos convidados hoje a nos despojarmos do homem velho, a deixarmos para trás, deixarmos de lado, o que não condiz com a nossa vocação, e nos revestirmos do homem novo, do batizado, do cristão, do fiel, que é alimentado pelo Senhor.

Que essa palavra nos leve a clamar ao senhor como o povo, agora no capítulo 6º de São João, Senhor, dá-nos sempre desse pão, e Ele sempre nos dará o seu corpo ofertado a nós. “Tomai todos e comei. Isto é o meu corpo, que é dado por vós”. Não desperdicemos o maior dom que o Senhor nos concedeu e nos concede, todos os dias da nossa vida, porque de fato, Ele é o pão da vida.

“Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede.” (Jo 6,35)

 

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