Ao vivenciarmos o mês das Missões, todos nós somos impulsionados pela a reconhecermos, primeiramente, que todos nós somos missionários. Exatamente por isso, o tema do Dia Mundial das Missões, neste ano, foi uma palavra do Papa Francisco, em que ele diz: “A vida é missão”.
A nossa vida já é uma missão. Eu e você viemos a este mundo como missionários, desde a criação. Exatamente por isto, o lema proposto para nossa reflexão é a palavra do profeta Isaías, quando se sente também, chamado por Deus, e diz: “eis-me aqui” (Is 6,8). A prontidão do profeta deve ser também a nossa prontidão, a nossa disposição em vivermos na dinâmica da missão.
Mas a primeira coisa que precisamos lembrar é que ser missionário não é outra coisa, senão viver a nossa fé. Ser cristão já é ser missionário. Quando eu e você vivemos a nossa fé, em casa, na comunidade ou no trabalho, onde quer que estejamos, ao viver a nossa fé, já estamos fazendo missão, já estamos anunciando, com a nossa própria vida, o evangelho da salvação.
Mas é claro que também reconhecemos, tantos homens e mulheres espalhados pelo mundo inteiro, que se dedicam a anunciar o evangelho a outros povos, a outras culturas. E por isso, para eles, nós também oferecemos nossa oração, nossa intercessão, para que o Senhor os sustente no caminho missionário. Da mesma forma, também, oferecemos a nossa partilha material.
Mas se prestarmos bem atenção ao trecho de 1Ts 1,1-5, nós veremos algo que passa despercebido para nós. Paulo elogia os tessalonisenses porque estavam vivendo na fidelidade de sua fé, e é esta que é recebida pelo próprio Paulo, recebida pelos cristãos que anunciavam aos tessalonisenses. Mas Paulo destaca, claramente, que esse evangelho não chegou até eles somente por meio de palavras, mas também, mediante a força, que é o Espírito Santo. E diz Paulo que isto com toda abundância.
Não nos esqueçamos que podemos evangelizar, podemos anunciar, e devemos anunciar, mas é o Espírito sempre que nos precede, é o Espírito que vai a nossa frente. Às vezes nós pensamos que seremos nós a fazer tudo, se não fizermos, as pessoas não vão se converter? Não! O Espírito sempre estará na nossa frente, nós só continuamos uma obra que é iniciativa dEle. E essa obra missionária não é outra coisa, senão anunciar a palavra do Senhor e dizer essa palavra, reconhecendo que o Espírito nos convida a reconhecer o senhorio de Deus sobre nós. A soberania de Deus sobre a nossa vida, sobre a vida do mundo, sobre a vida da sociedade, Deus é o soberano, Deus é o Senhor.
É exatamente o que Mt 22,15-21 nos mostra e por isso nos faz lembrar que nós, que vivemos em sociedade, temos também autoridades, que estão a nossa frente, autoridades que já começamos a experimentar dentro da nossa própria casa, com nossos pais, depois experimentamos as autoridades civis, experimentamos também as autoridades que nos conduzem em nossos trabalhos, na comunidade. Todas elas estão e estarão, sempre, abaixo de Deus. Todas elas exercem autoridade, e devem exercer esta autoridade como imagem, como um sacramento da autoridade de Deus, da soberania de Deus, da providência de Deus. É Deus que nos conduz, é Deus que nos governa, e usa homens e mulheres para conduzir o Seu povo.
Is 45, 1-6 traz a palavra de Deus, em que Ele próprio elogia um rei pagão. Elogia o rei Ciro, e chega a descrevê-lo como ungido, como quem está tomado pela Sua graça.
O povo de Israel, o povo eleito, foi libertado do exílio da Babilônia e pôde voltar pra sua terra. Um ensinamento claro pra nós, tomarmos consciência de que Deus também se utiliza de homens e mulheres que não professam a nossa fé. Deus também realiza Suas obras através de homens e mulheres que nos conduzem e talvez não professem a nossa fé, porque é Ele que conduz a história. Mas ao mesmo tempo, o Senhor nos lembra de que Ele é o Senhor. Ele é o Senhor, e fora dEle não há outro.
O salmista (Sl 95) ainda nos lembra: “um nada são os deuses dos pagãos”, pra nunca nos esquecermos de que ninguém, nem nada pode ser colocado no lugar de Deus. E esta palavra nos questiona, profundamente, quando ainda hoje, vivemos, muitas vezes, o endeusamento das nossas autoridades, quando nós, de certa forma, reconhecemos nossas autoridades quase como se fossem seres divinos, e as exaltamos e esquecemos que eles e nós, somos todos filhos de Deus. Somos todos criaturas de Deus, estamos todos no mesmo nível.
É preciso que nós, hoje, ao meditarmos esta palavra, nos perguntemos: quem é o Senhor da nossa vida? Será que nós podemos dizer, hoje, que de fato, Deus é o Senhor da nossa vida? É Ele que nos governa? É Ele que nos conduz? É a Sua palavra que está na nossa caminhada? Ou será que, talvez, tenhamos outros senhores?
Quantas vezes, nós mesmos, nos colocamos no centro da nossa vida, somos nós que vamos determinar tudo, somos nós que vamos controlar tudo, e com o passar do tempo nós experimentamos a vida que escapa pelas nossas mãos. Nem nós, nem ninguém pode ocupar este lugar que é dEle. Ele é o Senhor, Ele é o único Senhor. Por isso, precisamos ter muito cuidado, quando vemos autoridades que se identificam quase como se fossem um deus. Não são, e não somos nós a endeusá-los. Tenhamos cuidado pra não canonizar ninguém, nem de um lado nem de outro, para identificarmos, claramente, que são autoridades passageiras.
Em Mt 22,15-21, Jesus, então, nos coloca diante desta palavra que nos ajuda a reconhecer quem é o Senhor. Aproximando, nós estamos ouvindo Jesus advertindo os fariseus, advertindo os mestres da lei e chamando a atenção do povo de Israel, que não acolhia a sua palavra, que não acolhia a sua proposta.
Os fariseus questionam Jesus sobre a autoridade do Imperador, sobre a autoridade de César. E de forma sutil, Jesus percebe a armadilha, percebe a armação, percebe a hipocrisia dos fariseus, que queriam colocá-lo como um reacionário, queriam colocá-lo como um revolucionário, como alguém que acaba com todas as autoridades. E Jesus mostra exatamente, que isto não cabe a nós, nem a mim nem a você! Quando Ele é perguntado, se é lícito pagar imposto a César, Ele poderia responder “É lícito”. É preciso pagar os impostos, como é preciso pagar os impostos hoje. Não é porque sonegam, que nós sonegaremos, não é porque roubam, que nós roubaremos. O mal que individualmente, eu e você praticamos, é um mal para a sociedade, para a comunidade em que vivemos. Não podemos, meus irmãos nos justificarmos pelos erros dos outros. Não podemos nos justificar e viver uma vida errada, fora da lei, porque encontramos outros que assim vivem, porque encontramos autoridades que assim vivem! Não! Eu e você somos chamados a uma vida consciente, responsável, a uma vida cidadã.
É exatamente o que o Senhor nos mostra nesse trecho do evangelho. E por isso, destaca algo que nós também podemos deixar passar despercebido, quando Jesus pede para que eles lhe mostrem aquela moeda em que estava a imagem do imperador, imperador que era divinizado. E Jesus lembra que aquele não era o lugar dele, daquele homem, o lugar de Deus é para Deus, e só para Ele. Não podemos canonizar, não podemos divinizar uma autoridade. E por isso Jesus diz: “Dai pois a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Quem é de Deus somos nós, quem tem a imagem de Deus somos nós, eu e você, nós que pertencemos a Deus, nós somos propriedade dEle. Foi Ele que nos criou, foi Ele que nos pensou e nos plasmou a Sua imagem.
E por isso nós precisamos ter sempre um cuidado na dinâmica da nossa vida, de não colocarmos pessoas no lugar de Deus. Porque quando as perdemos, experimentamos aquela expressão: “estou sem chão”! Quando Deus é o nosso chão, o nosso alicerce, podemos perder tudo, pessoas, coisas, até a nossa vida, mas Ele continua sendo o nosso sustento, Ele continua sendo o Senhor soberano da nossa vida.
Que possamos hoje, renovar a nossa disposição, de viver esta palavra, e sobretudo, que a exemplo dos tessalonisenses elogiados por Paulo, nós também, apesar de tudo, vivamos, de forma perseverante, na fé, na esperança e na caridade. E não permitamos que nada nem ninguém nos impeça de viver esta palavra, nos impeça de reconhecer Deus como o Senhor da nossa vida, porque de fato, Ele nos diz:
Eu sou o Senhor, não existe outro: fora de mim não há Deus.
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