As palavras que cantamos através do Salmo 15 não são apenas palavras, que expressam o nosso desejo de sermos guardados pelo Senhor, mas são palavras que nos dão a certeza de que Deus nos guarda, de que Deus nos protege, de que Deus nos ampara, de que Deus nos conduz, desde que O deixemos conduzir a nossa vida. Quando nós cantamos, pedindo ao Senhor essa graça, nós vamos tomando consciência de que Ele vai nos guardando ao longo de toda a nossa vida, de tal maneira, que nós poderíamos dizer: o que vamos temer? o que nos causará medo? o que nos causará insegurança? angústia? Hoje, essa palavra faz ressoar em nossos ouvidos aquelas palavras de São Paulo, aos romanos (8,31), quando dizia: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Fome, tribulação, perigos, praga… Em tudo isso somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou.
Hoje essa liturgia, de fato, enche o nosso coração e a nossa mente de esperança, por nos dar a certeza de que o nosso Deus nos guarda todos os dias da nossa vida. E por isso, ao escutarmos a liturgia de hoje, a primeira coisa que deveríamos fazer é deixar que o Espírito de Deus reaviva, em todos nós, a virtude da esperança. Mas ao mesmo tempo, é uma liturgia também, que reaviva em nós a virtude da fé.
Na segunda leitura (Hb 10,11-14.18), o capítulo 10º da Carta aos Hebreus nos mostrava Jesus que entrega a Sua vida, a Sua oferta definitiva ao Pai, e depois dessa entrega, Jesus senta-se à direita do Pai, e agora, com o Pai e o Espírito, nos guarda, nos governa, nos conduz, para nos lembrar sempre de que, apesar de tudo, apesar de tantas coisas difíceis pelas quais passamos, a mão providente de Deus repousa sobre nós. Mesmo no meio da dor e da tribulação, nós precisamos ter a confiança de que a mão de Deus está sobre nós. A mão de Deus está nos guardando, nos amparando e nos protegendo, e assim, o autor sagrado dizia que de lá, da direita do Pai, Jesus há de vir, há de voltar. Uma segunda vez virá ao nosso encontro, é o que nós chamamos, na nossa fé, parusia, a vinda de Jesus, mistério esse que professamos todos os domingos e que vamos aprofundar daqui a 2 e 3 semanas, quando estivermos celebrando o tempo do Advento.
Mas o Senhor, no evangelho (Mc 13,24-32), trouxe para nós uma narrativa que nos faz pensar na sua vinda. Quando ouvimos o evangelho de hoje, talvez num primeiro momento, nós ficamos receosos e até preocupados, nos perguntando: mas como acontecerá isso? quando acontecerá isso?
No final do evangelho, Jesus é extremamente claro: “Nem os Anjos, nem mesmo o Filho sabe o dia. Somente o pai”. Como se estivesse nos dizendo: isso não é pra você se preocupar, não se preocupe com o dia e com a hora. Até porque, como nós dizemos, popularmente, quem não deve não teme. Se estamos em comunhão com Deus, se vivemos a sua palavra, se buscamos o seu Reino, acima de tudo, como acabamos de cantar, não temos o que temer. O Senhor pode vir agora, pode nos encontrar agora, ou será que nós temos alguma pendência? Ou será que nós precisaremos dizer, ‘Senhor espera um pouquinho que eu tenho que ir lá em casa, resolver um problema, espera um pouquinho, que eu preciso me reconciliar com fulano ou beltrano, espera um pouquinho, porque eu não fiz isso, eu fiz aquilo’! Não deixemos para amanhã o que podemos e devemos fazer hoje, até porque nós não sabemos se teremos amanhã…
Desse modo, meus irmãos, a vinda de Jesus não deveria causar em nós medos. Ao contrário, deveria causar em nós uma profunda felicidade, porque encontraremos, definitivamente, Aquele que seguimos e estamos em comunhão com Ele. Se vivemos a Sua palavra, esse encontro só continuará, para nós, sendo a experiência de caminhar com Ele, porque depois desse encontro definitivo, o que vamos experimentar? A continuidade do que nós vivemos aqui, o céu que começamos aqui entre nós, será depois vivido plenamente.
Mas é interessante, porque o evangelho é claro, quando Jesus relata que a Sua vinda será precedida por um momento de grande tribulação, por um momento de grande angústia, por um grande desafio, pelo qual a humanidade passará. Mas nós não podemos nos esquecer do que Daniel profetizou, na primeira leitura (Dn 12,1-3). Mesmo nesse contexto, mesmo no momento de grande tribulação, de grande angústia, Deus estará nos guardando e nos conduzindo, porque somos seus filhos… e mais ainda, Daniel profetiza que se levantará Miguel para combater a nosso favor. É a mesma imagem que São João, depois do Apocalipse (12,7) terá, quando vir o grande combate dos filhos de Deus contra o demônio, e Deus, novamente, envia Miguel e Miguel combate a favor do povo de Deus. Por isso que nós cultivamos, alimentamos, a devoção a São Miguel, porque como príncipe dos anjos, vem ao nosso encontro, como um Arcanjo que em nome de Deus combate a nosso favor.
Meus irmãos, no combate da vida, nós não estamos sozinhos, não estamos desamparados. Deus está conosco, os seus Anjos estão conosco, os Santos estão conosco, nós somos povo de Deus, que caminha em comunhão. Nenhum de nós deveria sentir-se sozinho, diante do combate da vida, porque estamos sempre amparados e sustentados, porque nós somos Igreja, nós não somos uma ilha, não estamos desamparados… e ao mesmo tempo, Daniel contempla uma imagem que nos ajuda a pensar uma outra verdade da nossa fé, quando ele diz que aqueles que dormem no sono da morte ressuscitarão, aquilo que daqui a pouco nós vamos dizer: Creio na ressurreição da carne. Cremos que todos nós, como o próprio Jesus, um dia também ressuscitaremos. Diz Daniel, uns ressuscitarão, despertarão para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno, para o castigo eterno. Na verdade, o que Daniel está profetizando é a certeza que a fé nos dá de que depois dessa vida, nós vamos vivenciar aquilo que já experimentamos aqui. O céu, depois dessa vida, não é para nós uma novidade total, porque o céu começa aqui, porque já estamos vivenciando o céu, já estamos experimentando o céu! Agora, se nós vivemos longe do Senhor, se nós vivemos independentes do Senhor, depois dessa vida não há porquê querer viver com Ele. Nós vamos viver depois dessa vida o que começamos aqui. O céu, daqui a pouco, é a continuidade do céu entre nós, e quem irá pro céu? Se nós fizéssemos essa pergunta, Daniel responde no final: os que tiverem sido sábios, esses brilharão como o firmamento, e os que tiverem ensinado a muitos homens, os caminhos da virtude brilharão, como as estrelas, por toda a eternidade.
Que a liturgia de hoje reavive em nossos corações a esperança e a fé, mas sobretudo o amor, para que nós reconheçamos que temos um Deus que nos ama, apaixonadamente, e que nos ama todos os dias da nossa vida, mesmo quando nós não O amamos, Ele continua nos amando… E mais ainda, que assim consigamos fazer a experiência, também, de nos amar, para amar os outros como a nós mesmos, como o Senhor dizia há duas semanas atrás!
Que a Virgem Maria, nossa mãe, que é companheira da nossa jornada, nos ajude a nunca nos esquecermos, nem um só dia, nem um só momento da nossa vida, o que acabamos de cantar no Salmo 15:
Guardai-me ó Deus, porque em vós me refugio!
Postagens Relacionadas
DOM JOSÉ FRANCISCO – Símbolos do Natal (3)
Para preparar o Natal, temos falado dos símbolos que povoaram a nossa imaginação desde a infância. AS BOLAS…
DOM JOSÉ FRANCISCO REZENDE DIAS: Outubro Rosa
São impressionantes os números de uma doença que atingiu mais de 2,3 milhões de mulheres no mundo, no…
DOM JOSÉ FRANCISCO – Você pode conseguir
A atual pandemia de COVID-19 está sendo estressante para muitos e as sensações de medo e ansiedade podem…
PADRE DOUGLAS – Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos.
O que rezamos, no Salmo 79, é na verdade, um desejo que todos nós carregamos no coração. O…