PADRE DOUGLAS – Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos.

O que rezamos, no Salmo 79, é na verdade,  um desejo que todos nós carregamos no coração. O desejo de sermos iluminados, não por uma luz passageira, não por uma luz qualquer, mas a luz que vem da face de Deus e ilumina a nossa vida.

Quando olhamos ao nosso redor, e percebemos tantos sinais de trevas, tantos motivos para nos desanimar, para nos abater, para nos cansar, até para nos questionar, sobre a presença de Deus na nossa vida, o salmista nos convida a dizer ao Senhor: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos.”

Na verdade, o que o salmista deseja é o que nós também desejamos: que o Senhor se volte para nós, para que assim nós nos voltemos para Ele, e é a certeza que o profeta Isaías tinha, mesmo que estivesse em comunhão com o povo de Israel, fazendo uma das experiências mais dolorosas da sua história, que foi o exílio da Babilônia. O profeta, em nome do povo, tem consciência dos seus erros, tem consciência de que muitas vezes foi infiel, que muitas vezes não permaneceu em comunhão com o Senhor, mas confiante neste Senhor, o profeta faz a sua oração, como se estivesse dizendo, quem dera que o Senhor se voltasse para nós, quem dera que o Senhor viesse ao nosso encontro, neste momento de dor, de tribulação, quem dera que o Senhor se voltasse para nós, mesmo que nós tenhamos virado as costas para Ele, tantas vezes, ao longo da nossa vida (Is 63,16b-17.19b;64,2b-7).

E o profeta então constata que o Senhor se voltou para ele, para o seu povo. De fato, o Senhor se volta para nós, o Senhor vem ao nosso encontro. É exatamente, o que estamos preparando para vivenciar, com o tempo do Advento. Na verdade, o Advento não é outra coisa, senão uma grande parada, pra renovar a nossa esperança, na certeza de que o Senhor vem. Por isso, o tempo do Advento não é para alimentar em nós o medo, a insegurança. Ao contrário, é para encher o nosso coração de esperança, para que nós, mesmo que tenhamos inúmeros motivos para não esperar, hoje somos convidados, pelo Espírito de Deus, a esperar. Esperar no Senhor, nesse Senhor, que como pai, como pastor, vem ao nosso encontro, se compadece de nós, se volta para nós e espera de nós uma atitude humilde, com a qual o profeta Isaías terminava o trecho qmencionado: “Assim mesmo, Senhor, Tu és o nosso pai, nós somos barro, tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos”.

O profeta tem a consciência, em nome desse povo, de que eles são, nada mais nada menos, do que uma obra de Deus. Todos nós, hoje, precisamos renovar na nossa mente, essa consciência, a consciência de que nós somos obra de Deus, que estamos nas mãos de Deus, como um barro na mão do oleiro e assim Deus conduz a nossa vida, Deus vai nos modelando, e é preciso que aprendamos a nos deixar modelar.

Vamos nos deixar trabalhar pelo Senhor e pela sua graça. Pra que isso aconteça, caberá a nós acolhermos o convite de Paulo (1Cor 1,3-9), quando se dirigia aos coríntios, desejando-lhes que a graça e a paz da parte de Deus estivessem com eles.

Assim também, nós hoje, só acolhendo a graça e a paz que vêm de Deus, a graça de Deus que tem um nome, que tem um rosto, e é Jesus Cristo. Só assim, nós poderemos modelar a nossa vida, como Deus quer. Só assim poderemos viver este tempo, na esperança, na alegria do encontro com o Senhor.

Mas essa expectativa, essa esperança não podem fazer com que continuemos da mesma forma. Ao contrário, devem nos levar a uma preparação, a um itinerário, a um caminho de mudança, assim nós vivemos na Igreja, ao prepararmos a coroa do Advento, a árvore do Natal, o presépio, o mesmo que fazemos em nossas casas. Tudo isto nos ajuda a acolhermos o Senhor, mas tudo isso deve ser, na verdade, uma expressão do nosso interior, a expressão do nosso coração, que está se preparando, que está se arrumando, para acolher o Senhor.

Assim, ao iniciarmos o tempo do Advento, cada um de nós é convidado a fazer uma pergunta: como estou preparando o meu coração para receber o Senhor? Eu estou preparado para receber o Senhor? De tal maneira que nós, fortalecidos pela graça de Deus, digamos o que Paulo nos oferecia: “É Ele também, que vos dará perseverança em vosso procedimento irrepreensível, até o fim, até o dia de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

É pela graça de Deus que nós nos preparamos, e é também por essa graça, que nós nos convertemos, que nós perseveremos, na caminhada da fé, de tal maneira que o Senhor nos encontre, como Ele nos alertou em Mc 13,33-37, vigilantes, atentos, preparados e não nos encontre dormindo, distraídos. Todos nós, hoje, somos impulsionados a estarmos atentos, alertas.

Por isso, Jesus diz “O que vos digo, digo a todos: Vigiai”! Este é o convite, ao iniciarmos o tempo do Advento, que sejamos homens e mulheres da vigilância, e que sejamos, sobretudo, homens e mulheres da esperança.

Num mundo marcado como o nosso, por tantas incertezas, por tantas dores, o Espírito de Deus vem renovar no nosso coração e na nossa mente, a virtude da esperança, para que assim, nós nunca percamos a esperança no Senhor, que é nosso pai, que é nosso rei, que é nosso pastor, e que por amor a nós, nos envia o seu Filho, o qual esperamos, na feliz expectativa de um dia, todos nós nos encontrarmos plenamente, com Ele. Caberá, então, a nós, hoje, de fato, pedirmos ao Senhor:

“Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos.”

Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Postagens Relacionadas
Total
0
Share