A liturgia de hoje nos conduz a elevar nosso olhar e contemplar a Virgem Maria, que é assunta aos céus, em corpo e alma. Mas ao mesmo tempo em que todos nós dirigimos o nosso olhar, para contemplar a Virgem Maria que sobe aos céus, como o seu Filho, na Ascensão, a liturgia também nos faz recordar que todos nós somos chamados a aguardar o dia em que também nós, seremos elevados ao céu, em corpo e alma.
Na verdade, hoje nós poderíamos dizer que celebramos a Assunção de Nossa Senhora, mas celebramos, também, a nossa vocação de sermos homens e mulheres que caminham para o céu.
Na oração coleta da missa de hoje, nós rezávamos, dizendo a Deus: ‘Dai-nos viver atentos às coisas do alto’, cumprindo aquilo que Paulo diz aos colossenses, no capítulo 3º: “Buscai as coisas do alto, onde está Cristo junto de Deus”. É uma palavra que nos faz reconhecer que lá é a nossa meta. Nós não estamos caminhando pra terminar aqui. E ao mesmo tempo, é uma palavra que nos faz reconhecer que tudo ao nosso redor é passageiro. Nós também somos passageiros, e estamos numa viagem, numa peregrinação! É uma palavra que nos consola, também, quando nós, muitas vezes, nos sentimos tentados a nos apegar, a colocar a nossa segurança nas coisas e nas pessoas, ou em nós mesmos, e nos esquecemos de que tudo um dia vai passar.
É preciso que nós, de fato, sejamos homens e mulheres da esperança, que creem no destino final, que é o céu. Como Paulo nos lembrava na 2ª leitura da missa de hoje (1Cor 15,20-27ª), nos fazendo recordar, que Cristo é aquele que, como o primeiro, como o primogênito, dentre todos os que morreram, não apenas vence a morte, não apenas ressuscita, mas sobe aos céus, em corpo e alma. Por isso é que na Ascensão, nós rezávamos, “Ó Deus, a Ascensão do Vosso Filho já é a nossa vitória”. E depois, Paulo nos lembrava que não apenas Ele, mas todos os que pertencem a Ele, também experimentaram o mesmo. É a palavra que nos faz reconhecer aquilo que nós professamos, quando dizemos, ‘creio na ressurreição da carne’. Cremos que como o Senhor, como a Virgem Maria, também nós esperamos um dia alcançar a glória do céu. É uma palavra que nos enche de esperança, e ao mesmo tempo, nos enche também de um conforto, de um reconhecimento de que estamos aqui só de passagem… ninguém tem lugar marcado, ninguém tem lugar definitivo, porque todos nós estamos a caminho da casa definitiva.
Mas ao mesmo tempo, a liturgia de hoje nos faz lembrar que a nossa vida não é feita só do céu. Nós estamos a caminho de lá, desejamos alcançar o céu, mas nesta travessia, nesta viagem pela qual todos nós passamos, também enfrentamos as batalhas de cada dia, como S. João narrou pra nós, na 1ª leitura (Ap 11,19a;12,1,3-6ª.10ab). A imagem é clara, como João contempla essa mulher, imagem da Igreja, a imagem da Virgem Maria, que está totalmente vestida de sol, e a lua, debaixo de seus pés. E essa mulher, toda santa, toda bela, também enfrenta a oposição do mal, também enfrenta a perseguição, para nos lembrar de que nós também enfrentamos, que nós também enfrentaremos muitas oposições, muitos desafios, muitas perseguições, porque o mal existe, está presente!
São Pedro (1Pd 5,8) chega a dizer que o demônio é como um leão a rugir, procurando a quem devorar. E nos convida a resistir a ele, pela fé. Assim, a palavra de S. João nos faz lembrar que, de fato, nós combatemos o mal, nós enfrentamos o mal, mas nos faz lembrar de que nós também, com a Virgem Maria e como ela, podemos sair vitoriosos, como ele termina a primeira leitura.
Assim, nós hoje somos convidados a fazer o mesmo caminho que a Virgem Maria, pra reconhecermos que ela é o modelo. Ela não é apenas a intercessora, ela não é apenas a mãe que intercede por nós, junto de Deus, mas ela é também o modelo, ela é o protótipo pra todos nós, como S. Lucas narrava no evangelho de hoje (Lc 1,39-56).
Quando ele nos mostra uma mulher, toda de Deus, mas poderíamos também dizer, toda ela entregue aos outros. Depois de receber a visita de Gabriel, e reconhecer a sua missão, o que ela faz? Se fecha, se coloca na dela? Não… ao contrário, é aquela que se põe a serviço, se põe a caminho! Maria é a mulher do serviço, é a mulher da entrega, é a mulher que nos faz lembrar do ditado popular, quando dizemos que na vida, quem não existe para servir, também não serve para viver.
Somos chamados como Maria, a nos colocar a serviço, a serviço dos outros, mas aqueles, também como ela, presença de Deus, na vida dos outros.
- Lucas narra que quando Maria chega na casa de Isabel, Isabel se sente tocada por aquela presença, porque era uma mulher cheia do Espírito, cheia de Deus. E assim Isabel diz, ‘quando a sua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria, no meu ventre’.
Diante desta palavra, nós também podemos olhar pra nós e nos perguntarmos: nós também somos presença de Deus na vida das pessoas? será que nós, também, levamos aos outros esta presença forte de Deus, que faz o outro sentir Deus presente? que faz o outro exultar de alegria? Ou será que somos uma presença pesada, uma presença, às vezes até deprimente, uma presença desmotivadora, uma presença negativa… porque conhecemos pessoas assim… conhecemos e até nos afastamos, porque temos medo de nos contaminar. Mas nós, homens e mulheres de fé, filhos da Virgem Maria, somos chamados a ser presença iluminadora de Deus na vida de todas as pessoas.
Que a exemplo da Virgem Maria, nós também aprendamos a passar iluminando os outros, aprendamos, como a Virgem Maria, a passar, servindo os outros. Ela tinha tudo pra ser orgulhosa. Ela tinha, de fato, o rei na barriga, mas nunca se sentiu orgulhosa… ao contrário, reconheceu o seu Senhor e se colocou a serviço, e ela não poderia fazer outra coisa, a não ser se colocar a serviço.
O Papa Francisco hoje, na Praça de São Pedro, dizia que foi a humildade de Maria que abriu a porta do céu e o único título que ela se atribuiu foi o de “serva”.
Como Maria, também somos chamados a nos humilhar, para que Deus seja grande em nós, para que Deus seja exaltado em nós. Tenhamos o cuidado de não fazer o caminho contrário, nos exaltarmos, nos engrandecermos, nos orgulharmos, e assim, ocuparmos o espaço de Deus em nossa vida.
Que aprendamos, com Maria, a dar espaço para Deus em nossa vida! Aprendamos, como Maria, a acolher Deus dentro de nós. Aprendamos, como Maria, a levar essa presença de Deus a todas as pessoas que encontrarmos.
E que como Maria, também aprendamos a buscar as coisas do alto, onde está a nossa meta, o nosso destino final.
E assim, um dia, nós também ouçamos esse elogio e vejamos, também, esse elogio sendo cumprido em nossa vida.
Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu.