PADRE DOUGLAS: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu.” (Lc 1,45)

A liturgia de hoje nos conduz a elevar nosso olhar e contemplar a Virgem Maria, que é assunta aos céus, em corpo e alma. Mas ao mesmo tempo em que todos nós dirigimos o nosso olhar, para contemplar a Virgem Maria que sobe aos céus, como o seu Filho, na Ascensão, a liturgia também nos faz recordar que todos nós somos chamados a aguardar o dia em que também nós, seremos elevados ao céu, em corpo e alma.

Na verdade, hoje nós poderíamos dizer que celebramos a Assunção de Nossa Senhora, mas celebramos, também, a nossa vocação de sermos homens e mulheres que caminham para o céu.

Na oração coleta da missa de hoje, nós rezávamos, dizendo a Deus: ‘Dai-nos viver atentos às coisas do alto’, cumprindo aquilo que Paulo diz aos colossenses, no capítulo 3º: “Buscai as coisas do alto, onde está Cristo junto de Deus”. É uma palavra que nos faz reconhecer que lá é a nossa meta. Nós não estamos caminhando pra terminar aqui. E ao mesmo tempo, é uma palavra que nos faz reconhecer que tudo ao nosso redor é passageiro. Nós também somos passageiros, e estamos numa viagem, numa peregrinação! É uma palavra que nos consola, também, quando nós, muitas vezes, nos sentimos tentados a nos apegar, a colocar a nossa segurança nas coisas e nas pessoas, ou em nós mesmos, e nos esquecemos de que tudo um dia vai passar.

É preciso que nós, de fato, sejamos homens e mulheres da esperança, que creem no destino final, que é o céu. Como Paulo nos lembrava na 2ª leitura da missa de hoje (1Cor 15,20-27ª), nos fazendo recordar, que Cristo é aquele que, como o primeiro, como o primogênito, dentre todos os que morreram, não apenas vence a morte, não apenas ressuscita, mas sobe aos céus, em corpo e alma. Por isso é que na Ascensão, nós rezávamos, “Ó Deus, a Ascensão do Vosso Filho já é a nossa vitória”. E depois, Paulo nos lembrava que não apenas Ele, mas todos os que pertencem a Ele, também experimentaram o mesmo. É a palavra que nos faz reconhecer aquilo que nós professamos, quando dizemos, ‘creio na ressurreição da carne’. Cremos que como o Senhor, como a Virgem Maria, também nós esperamos um dia alcançar a glória do céu. É uma palavra que nos enche de esperança, e ao mesmo tempo, nos enche também de um conforto, de um reconhecimento de que estamos aqui só de passagem… ninguém tem lugar marcado, ninguém tem lugar definitivo, porque todos nós estamos a caminho da casa definitiva.

Mas ao mesmo tempo, a liturgia de hoje nos faz lembrar que a nossa vida não é feita só do céu. Nós estamos a caminho de lá, desejamos alcançar o céu, mas nesta travessia, nesta viagem pela qual todos nós passamos, também enfrentamos as batalhas de cada dia, como S. João narrou pra nós, na 1ª leitura (Ap 11,19a;12,1,3-6ª.10ab). A imagem é clara, como João contempla essa mulher, imagem da Igreja, a imagem da Virgem Maria, que está totalmente vestida de sol, e a lua, debaixo de seus pés. E essa mulher, toda santa, toda bela, também enfrenta a oposição do mal, também enfrenta a perseguição, para nos lembrar de que nós também enfrentamos, que nós também enfrentaremos muitas oposições, muitos desafios, muitas perseguições, porque o mal existe, está presente!

São Pedro (1Pd 5,8) chega a dizer que o demônio é como um leão a rugir, procurando a quem devorar. E nos convida a resistir a ele, pela fé.  Assim, a palavra de S. João nos faz lembrar que, de fato, nós combatemos o mal, nós enfrentamos o mal, mas nos faz lembrar de que nós também, com a Virgem Maria e como ela, podemos sair vitoriosos, como ele termina a primeira leitura.

Assim, nós hoje somos convidados a fazer o mesmo caminho que a Virgem Maria, pra reconhecermos que ela é o modelo. Ela não é apenas a intercessora, ela não é apenas a mãe que intercede por nós, junto de Deus, mas ela é também o modelo, ela é o protótipo pra todos nós, como S. Lucas narrava no evangelho de hoje (Lc 1,39-56).

Quando ele nos mostra uma mulher, toda de Deus, mas poderíamos também dizer, toda ela entregue aos outros. Depois de receber a visita de Gabriel, e reconhecer a sua missão, o que ela faz? Se fecha, se coloca na dela? Não… ao contrário, é aquela que se põe a serviço, se põe a caminho! Maria é a mulher do serviço, é a mulher da entrega, é a mulher que nos faz lembrar do ditado popular, quando dizemos que na vida, quem não existe para servir, também não serve para viver.

Somos chamados como Maria, a nos colocar a serviço, a serviço dos outros, mas aqueles, também como ela, presença de Deus, na vida dos outros.

  1. Lucas narra que quando Maria chega na casa de Isabel, Isabel se sente tocada por aquela presença, porque era uma mulher cheia do Espírito, cheia de Deus. E assim Isabel diz, ‘quando a sua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria, no meu ventre’.

Diante desta palavra, nós também podemos olhar pra nós e nos perguntarmos: nós também somos presença de Deus na vida das pessoas? será que nós, também, levamos aos outros esta presença forte de Deus, que faz o outro sentir Deus presente? que faz o outro exultar de alegria? Ou será que somos uma presença pesada, uma presença, às vezes até deprimente, uma presença desmotivadora, uma presença negativa… porque conhecemos pessoas assim… conhecemos e até nos afastamos, porque temos medo de nos contaminar. Mas nós, homens e mulheres de fé, filhos da Virgem Maria, somos chamados a ser presença iluminadora de Deus na vida de todas as pessoas.

Que a exemplo da Virgem Maria, nós também aprendamos a passar iluminando os outros, aprendamos, como a Virgem Maria, a passar, servindo os outros. Ela tinha tudo pra ser orgulhosa. Ela tinha, de fato, o rei na barriga, mas nunca se sentiu orgulhosa… ao contrário, reconheceu o seu Senhor e se colocou a serviço, e ela não poderia fazer outra coisa, a não ser se colocar a serviço.

O Papa Francisco hoje, na Praça de São Pedro, dizia que foi a humildade de Maria que abriu a porta do céu e o único título que ela se atribuiu foi o de “serva”.

Como Maria, também somos chamados a nos humilhar, para que Deus seja grande em nós, para que Deus seja exaltado em nós. Tenhamos o cuidado de não fazer o caminho contrário, nos exaltarmos, nos engrandecermos, nos orgulharmos, e assim, ocuparmos o espaço de Deus em nossa vida.

Que aprendamos, com Maria, a dar espaço para Deus em nossa vida! Aprendamos, como Maria, a acolher Deus dentro de nós. Aprendamos, como Maria, a levar essa presença de Deus a todas as pessoas que encontrarmos.

E que como Maria, também aprendamos a buscar as coisas do alto, onde está a nossa meta, o nosso destino final.

E assim, um dia, nós também ouçamos esse elogio e vejamos, também, esse elogio sendo cumprido em nossa vida.

Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu.

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