PADRE DOUGLAS – Tu és o meu filho amado, em ti ponho o meu bem querer.

Ao escutarmos as palavras de Deus, no batismo de Jesus, podemos dizer que não são dirigidas só a Jesus, são dirigidas também a nós.
Eu e você, ao sermos batizados, mesmo sem termos consciência, mesmo sem saber o que estava acontecendo conosco, também nós, ouvíamos Deus nos dizendo, “tu és o meu filho, muito amado”. A partir daquele dia santo, de nossa vida, nós, de fato, nos tornamos filhos e filhas amados por Deus.
Por isso, a liturgia da Festa do Batismo do Senhor nos conduz não apenas a contemplar o batismo de Jesus, mas a lembrar que um dia, eu e você também passamos pelas águas do batismo. E a partir daquele dia, todos nós tínhamos a certeza, conscientes ou não, de que Deus era nosso pai. Por isso, precisamos reavivar, na nossa memória, aquele dia santo, em que fomos também lavados pelas águas do batismo, e fazer com que aquele dia seja lembrado e vivido, ao longo de toda a nossa vida.
O grande desafio pra nós, hoje, seria até nos perguntarmos: será que nos lembramos? ou pelo menos, sabemos o dia em que fomos batizados? Quantas vezes, nem nos damos conta da graça que naquele dia, recebemos. E talvez seja uma graça, como um presente que nós ganhamos, guardamos e nem nos damos conta, nem temos consciência do valor do presente que um dia o Pai nos deu.
Desse modo, meus irmãos, ao celebrarmos a festa do batismo do Senhor, a primeira coisa que precisamos fazer é reavivar, dentro de nós, a graça batismal que recebemos. Graça essa, que nada nem ninguém poderá tirar do nosso coração e da nossa vida, mas graça essa, que deve ser reavivada, deve ser reinflamada, de tal maneira que produza frutos em nossa vida. E a primeira graça que o batismo nos deu, e de que hoje precisamos nos lembrar, é que somos filhos de Deus.
Hoje nos lembramos daquelas palavras da carta de S. João (1Jo 3,1), quando o apóstolo nos diz “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” Talvez, nem nos demos conta do que significa ser filho de Deus. Talvez, nós vivamos como filhos de Deus, da mesma forma que um caminhoneiro coloca no parachoque do seu caminhão, “Eu não sou dono do mundo, mas sou filho do dono.”
É quase como um chavão, como um refrão, que repito e que não tenho consciência do que significa na minha vida, dizer, “eu sou filho de Deus”. Eu tenho um Deus que é Pai, que cuida de mim, que me ampara, que me sustenta, que me acompanha todos os dias da minha vida. Mesmo diante de tantos problemas, tantos sofrimentos, tantos desafios, eu tenho um Deus que é Pai e que me acompanha todos os dias da minha vida.
Mas ao mesmo tempo, a liturgia, ao nos apresentar Jesus, que entra na fila dos discípulos de João Batista, pra ser batizado, talvez nos leve a uma pergunta, ‘mas por que Jesus ser batizado?’ Ele não tinha pecado, Ele não era discípulo de João Batista, Ele era o Messias, Ele não estava esperando o Messias… Por que Jesus quis ser batizado?
Uma das respostas que poderíamos dar, talvez a mais comum, entre os Padres da Igreja primitiva, é que Jesus foi santificar as águas nas quais, um dia, nós também seríamos batizados. Jesus foi iniciar um caminho que iria propor pra sua Igreja. Por isso, no final do evangelho de S. Mateus (Mt 28,19), Ele se dirige aos apóstolos e diz: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” A Igreja, ao longo de dois mil anos, não faz outra coisa, senão cumprir a ordem de seu Mestre e Senhor. Por isso, estamos, ainda hoje, e continuaremos, ao longo dos séculos, batizando novos cristãos, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, crendo, que através daquelas águas santas do batismo nós somos perdoados dos nossos pecados, somos lavados da mancha original.
E ao mesmo tempo, a partir daquele dia, recebemos uma veste nova, a veste do Filho de Deus. E sabemos que, mesmo que aquela veste seja manchada, pelos nossos pecados, teremos, como que um segundo batismo quando, todas as vezes em que vamos ao sacramento da confissão, pedimos perdão dos nossos pecados, somos novamente lavados, purificados, pra continuarmos nossa vida sobre esta terra.
Ao escutarmos o profeta Isaías (Is 42,1-4.6-7), poderíamos pensar que era uma palavra dirigida, unicamente ao Senhor, e esquecemos que é uma palavra dirigida, também a nós: o profeta, em nome de Deus, anuncia esta palavra, dizendo: “Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minha alma; pus meu espírito sobre ele (…)”. Na verdade, é Deus declarando quem é o seu Filho, mas declarando, também, quem somos nós! Somos seus servos, somos seus eleitos, somos habitados pelo Espírito de Deus.
Será, meus irmãos, que hoje temos consciência disso? será que eu e você, hoje, quando saímos de nossas casas, e quando voltarmos pra elas, tínhamos, temos e teremos consciência de que o Espírito de Deus mora em nós? Será que nós cremos que somos templos do Espírito Santo? Quantas vezes, levamos uma vida que não condiz com a ação do Espírito em nós! Quantas vezes nós temos uma vida, que não condiz com a sua proteção?
Por isso, o profeta continuava escrevendo – como este servo de Deus vai agir? como ele vai viver? “Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas”, como se ele estivesse passando, discretamente. E vale lembrar que dos 33 anos da vida de Jesus, apenas 3 foram de vida pública. 30 anos Ele viveu como eu, como você.
O Papa Francisco, no Ângelus da Festa do Batismo do Senhor, lembrava que a maior parte da vida de Jesus, foi de uma vida ordinária, de uma vida como a nossa, de um trabalhador, de um homem comum, sem fazer nada de extraordinário, pra nos lembrar, também, que podemos nos santificar, no dia a dia de nossa vida, vivendo como filhos de Deus. Mas ao mesmo tempo, o batismo nos confiou uma missão.
Por isso, o profeta terminava, lembrando-nos: “Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirares os cativos da prisão, livrares do cárcere os que vivem nas trevas.” Eu e você temos uma missão: vivermos como batizados, vivermos como filhos de Deus, de anunciarmos esta palavra, de testemunharmos essa palavra, porque naquele dia santo, em que fomos batizados, nós também nos tornamos missionários, enviados pelo Pai a todos os povos, pra testemunhar a nossa fé, pra viver, intensamente, a fé que professamos.
Que possamos nos perguntar, o que estamos fazendo com o nosso batismo? o que estamos deixando, que o batismo que recebemos faça em nós? Que hoje e todos os dias de nossa vida, deixemos que estas palavras do Pai sejam dirigidas a nós, que caiam fundo em nossos corações e ressoem dentro de nós:” Tu és o meu filho amado, em ti ponho o meu bem querer”.

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