PE. DOUGLAS – “E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’”.

Ao escutarmos estas palavras de Jesus, todos nós somos convidados pela liturgia, a reconhecer que hoje recebemos o grande dom do ressuscitado pra cada um de nós.

Hoje, na verdade, Jesus cumpre, em nossa vida, aquilo que Ele mesmo havia prometido, lembrando aos apóstolos e a todos nós, que não nos deixaria órfãos, que não nos deixaria sozinhos, desamparados, abandonados. Ao mesmo tempo, o mesmo Jesus nos lembrava de que se Ele não fosse, o Espírito não viria. Mas também nos garantia, que ao voltar para o Pai, nos enviaria o Seu Espírito da parte do Pai. O Pai nos daria o dom do Seu Espírito (Jo 14,15-26; 16,7).

Hoje, todos nós somos convidados, como Igreja, como humanidade, a reconhecer que o Pai nos doa o dom do Espírito. O Espírito que vem em socorro da nossa fraqueza, como lembra o Apóstolo Paulo (Rm 8,26-30). E de fato, todos  nós, hoje, podemos nos sentir amparados, acolhidos, sustentados por esse Espírito, para continuarmos a nossa caminhada. Sem dúvida alguma, o Espírito vem sobre nós, como um sopro novo, que nos renova, que nos recria, que nos faz continuar nossa caminhada a cada dia, na certeza de que somos conduzidos pelo Espírito de Deus.

Talvez hoje, possamos estar nos sentindo como que ressequidos, cansados, abatidos. Talvez estejamos sem esperança sobre nós mesmos, sobre o mundo, sobre os outros. Talvez até pensemos, não tem jeito, não tem mais jeito!

Mas é preciso que nos lembremos da profecia de Ezequiel (Ez 37), quando o profeta contemplava uma multidão de ossos ressequidos. Estava, na verdade, diante de um cemitério a céu aberto. Diante daquela cena, eu e você também diríamos, tudo acabou, não tem mais jeito, não tem mais vida. Mas Deus ordena que o profeta sopre sobre aqueles ossos ressequidos, profetize sobre aqueles ossos sem vida. E imediatamente, daqueles ossos, começam a brotar carne, nervos e pele. Mas o profeta percebe que ainda falta algo novo pra aqueles ossos, para aqueles ossos que já têm carne, ainda falta vida, ainda falta o sopro de vida. Mas Deus ordena novamente, que o profeta sopre sobre eles, profetize sobre eles. E o profeta então, como instrumento de Deus, sopra a vida nova para aqueles ossos ressequidos e a vida renasce!

A imagem é clara pra todos nós, pra nos lembrar que eu e você também precisamos aprender que na nossa vida, na vida dos outros, na vida do mundo, quando aparentemente, não há mais esperança, quando aparentemente, não há mais vida, caberá a mim e a você, profetizarmos sobre a morte. Caberá a mim e a você, clamarmos novamente, e profetizar com o salmista: “Enviai Senhor, o vosso Espírito, e da terra toda a face renovai” (Sl 103,30).

Só o Espírito de Deus poderá nos dar vida, só o Espírito de Deus poderá nos dar vida, quando nós só contemplamos morte, dor, tragédia, falta de esperança. Mas é o Espírito de Deus que hoje é derramado, não apenas sobre mim, não apenas sobre você, mas sobre a humanidade inteira, sobre os quatro cantos da terra, Deus derrama, abundantemente, o Seu Espírito. O amor que brota dEle e do Filho, do qual todos nós necessitamos, e do qual todos nós somos destinatários.

Hoje é preciso que façamos aquela experiência, quando sentimos que a casa está muito fechada, parece que tem mofo, parece que tem poeira… hoje é o dia de abrir todas as portas e deixar que o sopro do Espírito penetre em nossa vida, penetre em nossas casas, penetre em nossos corações, nossas mentes, e deixar que esse Espírito faça morada dentro de nós, acolhendo o dom do Ressuscitado, que nos visita e que talvez, nos encontre com medo, com as portas fechadas… deixar que o Espírito de Deus conceda-nos a Sua paz (Jo 20,19-23).

E que assim, no meio do mar agitado pelo qual estamos passando, sintamos que o Espírito nos acalma, que o Espírito nos consola, que o Espírito faz sossegar o nosso coração. Mas esse Espírito também vem sobre nós, para cumprir aquilo que o Senhor nos disse, quando nos ordenava que permanecêssemos em Jerusalém. E como Igreja, permanecemos em Jerusalém, com a Igreja e como a Igreja, permanecemos em Jerusalém, pra sermos batizados, novamente, por esse Espírito, abastecidos por esse Espírito, e assim, testemunharmos Jesus Cristo em Jerusalém, na Judeia, na Samaria e até os confins da terra (At 1,1-11).

Onde quer que estejamos, lá seremos chamados para testemunhar Jesus Cristo, como o relato, nos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11), anunciar o evangelho com a nossa palavra, mas sobretudo, com a nossa vida, sermos homens e mulheres da palavra, palavra essa que como costumamos cantar, faz arder o nosso coração, traz verdade, ilumina a nossa vida, por isso ilumina a vida dos outros.

Por isso, eu e você, precisamos tomar consciência de que somos anunciadores, proclamadores da palavra que o Senhor nos garantiu, e reconhecendo, que só poderemos anunciá-la na força do Espírito. Que ao recebermos, abundantemente, o Espírito de Deus, deixemos que este Espírito nos abasteça com os seus dons, como nos lembra o profeta Isaías (Is 11, 1-3), dons estes, que contemplamos ao redor de nós, dons que nos conduzem a uma vida nova, para que assim, cumpramos o que Paulo nos lembrava na carta aos Gálatas (Gl 5,16-25). Que assim vivamos, segundo o Espírito, vivamos a lei do Espírito e que assim, da nossa vida, nasçam obras segundo o Espírito, não segundo a carne.

Que tenhamos a capacidade, hoje, de optar por uma nova lei, de optar por uma nova lógica da nossa vida: a lógica do Espírito de Deus. Que assim, não apenas hoje, não apenas nesta semana, neste mês, neste ano, mas em todos os dias da nossa vida, nós clamemos o Espírito Santo, aprendamos a falar com o Espírito Santo, aprendamos a escutar o Espírito Santo, para que assim, aprendamos a viver segundo o Espírito Santo de Deus, não segundo o espírito do mundo, não segundo o nosso espírito, a nossa lógica, o nosso pensamento, mas segundo este Espírito, que todos nós recebemos:

“Enviai, Senhor, o Vosso Espírito e da terra toda a face renovai!”