Talvez esse pedido que os dois discípulos fizeram a Jesus, devesse ser um pedido diário de cada um de nós quando também nos sentimos, de certa maneira, quase que engolidos pela noite. Pelas noites da vida, pelas quais todos nós passamos.
Mas no meio destas noites, todos nós teremos sempre uma luz que resplandece, diante de nossos olhos, a luz do Cristo ressuscitado. Ele está vivo e ressuscitou para nós. Hoje, de fato, mesmo que nos sintamos no meio de tantas noites, mesmo que nos sintamos cansados, abatidos, desanimados, decepcionados, preocupados, mesmo que estejamos, de certa maneira, quase que experimentando uma sexta-feira santa que não termina, é preciso que a fé rompa em nossos corações toda barreira de morte, que nos conduza a uma afirmação profunda: “Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos, e nele exultemos.”
Ao celebrarmos a Páscoa do Senhor, de fato, eu e você, ao nos desejarmos, mutuamente, Feliz Páscoa, estamos desejando que o Senhor ressuscitado passe em nossa vida, ilumine a nossa vida e conceda-nos a esperança de recomeçar, de continuar, de seguir em frente, de correr e de continuar a caminhada da vida, com a caminhada renovada, pela certeza do Cristo ressuscitado.
Mas talvez, estejamos como estes dois discípulos: ao invés de estarmos com os outros discípulos, com a comunidade de fé, muitas vezes a abandonamos. Fazemos o nosso caminho e queremos fazer um outro caminho. Deixar tudo, deixar o Senhor, deixar os outros e seguir o que pensamos que é o melhor. Mas não podemos nos esquecer de que nesta rebelião que fazemos, experimentamos o mesmo que os dois discípulos.
É como se nós sentíssemos, de fato, a tristeza e o abatimento, porque optamos por um caminho longe do Senhor. Optamos por um caminho longe de seus discípulos, que, como nós, professam a mesma fé. Mas é preciso que todos nós nos deixemos encontrar por Jesus. S. Lucas (Lc 24,13-33) narra que era o primeiro dia da semana, era um domingo, era o Domingo da Páscoa e, ao cair da tarde, no início da noite, estes dois discípulos, caminhando, são encontrados por Jesus. Interessante, que várias vezes, o evangelho narra aqueles que encontraram Jesus. São Lucas diz que, ao contrário, eles foram encontrados por Jesus. Jesus aparece e começa a caminhar com eles.
Nós, hoje, somos convidados a renovar a nossa fé pra enxergar Jesus, que aparece nos caminhos da nossa vida. Jesus, que também faz caminho conosco, entra em nossa história, entra em nossa peregrinação.
Vejam como Jesus é pedagógico e quer escutá-los. Nós, também, hoje somos escutados por Ele, digamos a Ele o que sentimos, o que pensamos, o que estamos vivendo. Abramos o nosso coração pra Ele. Nós estamos hoje, nos acostumando a abrir o coração nas redes sociais… abramos o coração para Jesus. Abramos o nosso coração, olhando em Seus olhos, Ele que nos conhece, que nos ama, que sabe o que é melhor pra nós, e deixemos que tudo aquilo que nos pesa seja colocado diante dEle. Mas deixemos também que Ele nos interpele, nos corrija, e nos convide a um olhar novo.
Curioso, que estes dois discípulos já haviam recebido vários testemunhos de fé. As mulheres haviam ido ao sepulcro, de manhã cedo, e não viram nada, o túmulo estava vazio. Os apóstolos foram lá, Pedro e João, e viram a mesma coisa. E o evangelho chega a dizer que João viu e acreditou (Jo 20,8). Estes dois homens haviam recebido este anúncio, este testemunho, mas mesmo assim, não quiseram acreditar.
É a nossa resistência, de uma certa maneira, como a resistência de Tomé, eu preciso ver, eu preciso tocar, preciso ter provas concretas, para que eu creia. Meus irmãos, bem-aventurados os que creram sem terem visto (Jo 20,29). É necessário que nós aprendamos a crer, de fato, crer não pede provas, não pede sinais. O túmulo vazio é a certeza do Cristo ressuscitado. Por isso, Jesus fala-nos e também fala a cada um de nós, “como sois lentos para compreender…” Como somos lentos para compreender que o Senhor está vivo e presente, caminha conosco. Os outros professaram a fé e nós, o que estamos fazendo? Resistindo, não queremos crer, não queremos acolher esta palavra.
Ao mesmo tempo, Jesus convida-os e todos nós, a fazermos uma experiência profunda, no encontro com Ele, e fazermos com que esse encontro ilumine a nossa vida, fazermos com que esse encontro nos alimente, de tal maneira que nós, também, digamos ao Senhor, ‘fica conosco, já é tarde, o dia termina, não vá embora’.
Assim, meus irmãos, o Senhor nos oferece a garantia da sua presença, ao longo da história, através da Eucaristia. É a certeza que todos nós temos, de que de fato, o Senhor está conosco, caminha conosco, nos alimenta, nos fortalece, todos os dias da nossa vida.
De fato, o Senhor diz sim ao nosso pedido e fica conosco. De fato, podemos dizer que Ele está no meio de nós, de fato, podemos dizer, este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos nele, exultemos…
De fato, hoje eu e você, apesar de tudo, podemos dizer, pra nós mesmos, feliz páscoa, feliz passagem do Cristo ressuscitado em nossa vida. Que assim, depois de nos encontrarmos com o Senhor, depois de nos alimentarmos do Senhor, nós também aprendamos a voltar, aprendamos a recomeçar, aprendamos a fazer de volta o caminho, de onde nunca deveríamos ter saído. É preciso que nós aprendamos agora a voltar para os mesmos ambientes, vamos voltar para nossa casa, vamos voltar para os nossos trabalhos. De certa maneira, poderíamos dizer: nada vai mudar… nada mudou… mas nós mudamos, fomos “pascalizados”!
Nós encontramos o Senhor, nós vimos o Senhor, nós ouvimos o Senhor, nos alimentamos do Senhor, e é por isso que ao voltar, poderíamos dizer aos outros que nós também vimos o Senhor, e por isso, cremos.
Que a Páscoa do Senhor seja pra nós o convite de uma vida nova, como Paulo nos lembrava (Cl 3). Seja para todos nós, a ocasião de levantarmos a cabeça e seguirmos em frente, acreditando que é possível um amanhã melhor, porque Cristo está vivo e ressuscitado. De fato, este é o dia que o Senhor fez para nós. Que Ele mesmo, o Sol nascente que nos veio visitar, dissipe todas as trevas de nossa vida!
Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele, exultemos.
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