Quando cantamos, rezando o Salmo 53, de fato nos sentimos sustentados pelo Senhor, amparados por Ele. De tal forma, que possamos dizer, quem me protege e me ampara, é meu Deus. É o Senhor quem sustenta a minha vida.
O salmista, hoje, faz com que todos nós proclamemos esta certeza, de que o Senhor nos conduz, nos ampara e sustenta, a tal ponto que, mesmo que enfrentemos tantas tribulações, tantas dificuldades, tantos desafios, tantos ventos contrários, tantas tempestades, nós nos sintamos como aquele homem prudente (Mt 7,24), que construiu a sua casa sobre a rocha. Pode vir vento, pode vir tempestade, mas a casa permanece de pé. Essa palavra do salmista nos ajuda, hoje, a reconhecer que, de fato, não combina conosco aquela expressão que usamos quando nós passamos por algumas situações, e costumamos dizer: “fiquei sem chão”; eu e você nunca ficamos sem chão, se é o Senhor quem sustenta a nossa vida, porque sempre estaremos amparados, sempre estaremos sustentados, desde que seja Ele o nosso fundamento, desde que seja Ele o nosso amparo, o sustentáculo, a pedra angular da construção da nossa vida.
Mas infelizmente, nós sabemos que muitas vezes não é Ele o centro da nossa vida. Nós ainda somos tentados a estar com Ele, a caminhar com Ele, a fazer parte da Sua comunidade, mas sem deixá-lO de ser o Senhor da nossa vida, sempre. Porque na verdade, se nós olharmos bem, muitas vezes nós somos o centro. Nós queremos estar no centro, nós queremos servir a nós mesmos. E pior ainda, nós queremos, muitas vezes, nos servir do Senhor.
Foi exatamente o que nós acabamos de escutar no evangelho (Mc 9,30-37)! São Marcos narra, para nós, um caminho feito por Jesus e por seus discípulos. Há quantas semanas nós estamos ouvindo o Senhor fazendo como que uma verdadeira catequese, nos ensinando o que significa segui-lO, o que significa ser discípulo dEle, ser cristão. E hoje o evangelho mostra, mais uma vez, Jesus, que explica a seus discípulos tudo aquilo que Ele iria viver. Jesus não esconde dos discípulos o seu futuro, o seu destino. Mas espera que eles compreendam, que eles assumam o que estavam aprendendo, e é tão interessante, que São Marcos diz: “os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e, pior ainda, tinham medo de perguntar.”
É um exemplo claro para nós, que também estamos com o Senhor há quantos anos? Há quantas semanas? E talvez nós ainda não estejamos compreendendo as suas palavras, muitas vezes não as compreendemos, porque entram por um ouvido e saem por outro; quando a gente chega em casa na hora do almoço se alguém pergunta, o que vocês ouviram hoje? Ouvi alguma coisa bonita, mas não sei o que é que eu ouvi, entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Por isso que a gente não compreende a palavra, porque nós nem a guardamos. E pior, nós muitas vezes não questionamos o Senhor, não dizemos a Ele: Senhor, eu não entendo, Senhor, eu não compreendo, Senhor, eu não aceito essa palavra. Sejamos sinceros, digamos a Ele o que pensamos e o que sentimos! E ao chegar em casa, Jesus sabendo qual era a verdadeira preocupação de seus discípulos, os questiona.
Vejam, meus irmãos, aqueles homens caminharam com Jesus, viram Jesus multiplicando pães e peixes, viram Jesus caminhando sobre as águas, viram Jesus curando o surdo-mudo, viram Jesus curando o cego, viram Jesus dizendo, se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua Cruz e me siga.
Hoje, caminhando com Jesus, o que eles estavam comentando, qual era a preocupação deles? Quem é o maior?! Quem é o mais importante?! Quem manda mais?! Será que essas também não são muitas vezes as nossas preocupações? Nós, que estamos com o Senhor, que caminhamos com Ele, que O servimos, será que nós também não nos deixamos levar por essas preocupações? Quem manda mais na capela? Quem manda mais na igreja? Quantas vezes isso passa pela nossa cabeça? Quantas vezes nós nos esquecemos de que estar com Jesus, para todos nós, é um convite a estar sempre no mesmo lugar. No lugar do discípulo. Com Jesus, só Ele é Mestre, só Ele é Senhor, porque todos nós somos discípulos, a começar pelo padre, a começar pelo Papa. Somos todos discípulos de um único Mestre, na escola de Jesus. Quando nós queremos trocar de lugar com Ele, já estamos errados, porque na Sua escola só Ele é Mestre, só Ele é Senhor.
Por isso, que Ele próprio se coloca a serviço, nos dando o exemplo. Não é à toa que após lavar os pés dos discípulos, Ele se volta para eles e diz: vocês compreenderam o que Eu acabei de fazer? Eu que sou Mestre e Senhor, lavei os pés de vocês, para que vocês façam a mesma coisa (Jo 13,12ss)! E mais ainda, Jesus diz: Eu estou no meio de vós, como aquele que vos serve (Lc 22,27).
Que palavra questionadora para nós, que na verdade somos tentados a querer que os outros nos sirvam! É preciso que sempre encarnemos na nossa vida aquele ditado popular: na vida, quem não vive para servir, não serve para viver. Na escola de Jesus, somos todos servidores, somos todos discípulos. Por isso que o Senhor diz: se alguém quiser ser o primeiro, então que seja o último, que seja aquele que serve a todos! Esse será o primeiro.
Ele é o primeiro, Ele é que se colocou a serviço de todos nós. Só assim poderemos viver a palavra tão radical que São Tiago (Tg 3,16-4,3) nos apresentou, na segunda leitura, nos lembrando: “onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más”.
Se na nossa vida, se no nosso coração, se na nossa comunidade, se na nossa casa, se no nosso ambiente de trabalho, o que está reinando é a inveja e a rivalidade, tenhamos a certeza de que o que vamos encontrar é desordem e todo tipo de mal. Ou nós trabalhamos contra a inveja, contra a rivalidade, ou nós temos que aprender a conviver com mal e todo tipo de mal, a começar por dentro de nós. Porque a inveja e a rivalidade não estão nas paredes, nas lâmpadas, nos ventiladores. Inveja e rivalidade passam dentro do nosso coração e da nossa mente, quando nós também nos preocupamos em quem é o maior, sim, quem manda mais, quem tem mais poder.
São Tiago então, nos convidava a nos deixar guiar pela sabedoria que vem do alto, pela sabedoria que vem do Espírito. Sabedoria essa, dizia ele, antes de tudo, pura, pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos. Sem parcialidade. E sem fingimento. É essa sabedoria que guia nossa vida? Olhe para sua vida agora e pergunte-se: eu me deixo guiar pela sabedoria do alto? Ou talvez estou me guiando pela sabedoria daqui de baixo.
Que nós, hoje, nos sintamos de fato como um justo. Da primeira leitura do livro da sabedoria (Sb 2,12.17-20), o justo que busca ser fiel a Deus, o justo que acolhe a graça de Deus e busca corresponder a ela, e é por isso que ele incomoda. Não porque ele é o melhor, não porque ele é o maioral. Mas ao contrário, porque ele corresponde à graça de Deus na sua vida, e por isso que a sua presença incomoda, por isso que a sua presença questiona aqueles que são ímpios e mesmo que ele seja perseguido, caluniado maltratado, ele permanece em paz, porque sabe que não sairá desiludido.
Ao contrário, terminávamos a leitura, ouvindo os ímpios dizendo: Vamos condená-lO à morte vergonhosa. Porque de acordo com suas palavras, virá alguém em seu socorro. O homem justo e a mulher justa são aqueles que vivem em Deus, e por isso não têm o que temer. Dormem serenos, colocam sua cabeça no travesseiro tranquilamente, porque sabem que é o Senhor quem sustenta a sua vida.