Ao celebrarmos a solenidade da Santíssima Trindade, somos todos nós conduzidos pela liturgia, a contemplarmos o mistério dos mistérios. Poderíamos dizer que a liturgia nos convida a adorarmos o mistério central da nossa fé.
Mistério este, que é fonte de todos os mistérios da nossa fé, mistério que traz pra nós a certeza de que temos um Deus que nos ama e que se revela a nós. Por isso, não é um mistério do qual não conhecemos nada, mistério que talvez pensemos ser algo tão distante de nós, a que não temos acesso. Mas é exatamente o contrário, mistério que se revelou a nós, que se deu a conhecer, mas ao mesmo tempo, mesmo que queiramos conhecer, reconhecer e adorar, nós sempre nos sentiremos ainda, de certa maneira, distantes da grandiosidade desse mistério. Não há como, nem eu nem você dominarmos todo o conhecimento sobre Deus, não há como esgotarmos o conhecimento sobre Deus, porque Ele sempre será um mistério, sempre terá algo que tentaremos conhecer, que buscaremos conhecer ao longo da nossa vida.
Mas a liturgia vai nos revelar mais uma vez este mistério, nos faz como que uma catequese, nos oferece uma catequese sobre o nosso Deus que é uno e trino. E a primeira coisa que nos faz reconhecer é que, de fato, estamos diante de um Deus que não é um Deus isolado, não é um Deus fechado em si mesmo. É exatamente o contrário, estamos diante de um Deus que se revelou a nós em 3 pessoas, pra mostrar que o nosso Deus é um Deus que se dá, que se revela na comunhão, com dinamismo de vida. Não um Deus isolado, estático, parado, fechado no seu trono real. É exatamente o contrário, um Deus que se mostra a nós, que se revela a nós no dinamismo de 3 pessoas! Um Deus que se revela a nós como Pai, como Filho e como Espírito Santo.
Mas ao mesmo tempo, esta liturgia nos mostra uma segunda realidade, de que não podemos nos esquecer. No livro do Deuteronômio (Dt 4,32-34.39-40), Deus se dirigia a Moisés e fazia Moisés reconhecer algo que não podemos nos esquecer: o nosso Deus é um Deus próximo, um Deus que está perto, é um Deus que entra na nossa história, um Deus que caminha conosco.
Muitas vezes nós ensinamos nossas crianças a falar com o Papai do céu. De certa maneira, podíamos dizer, tem algo errado? Não! Mas é preciso que não nos esqueçamos que aquele Deus que é Pai no céu, é Pai na terra, está conosco, está em nossa história, faz história conosco, caminha conosco, como o próprio Deus dizia a Moisés, convidando Moisés a olhar todos os povos pagãos, e reconhecer que nenhum povo tinha um Deus tão perto, como o povo de Israel, nenhum povo tem um Deus tão perto, como nós O temos.
E mais ainda, temos que reconhecer que o nosso Deus não apenas se fez próximo a nós, mas o nosso Deus se fez um de nós, o nosso Deus se encarnou, assumiu a nossa natureza humana, assumiu a nossa carne, assumiu nossas alegrias, nossas tristezas, nossas dores, nossas angústias, assumiu a nossa vida. Jesus se revela a nós um Deus que agora tem um rosto, como o nosso, um Deus que nos mostra como podemos viver, como podemos caminhar, como nós fomos pensados por esse Deus. É assim que Jesus se revela a nós, faz história conosco. E mais ainda, esse Deus que nos ama, que quer estar conosco, nos concede o dom do seu Espírito.
Quando celebramos a solenidade de Pentecostes, reconhecemos que Deus, em comunhão com Seu Filho nos dava o seu Espírito, nos dava o dom do Espírito que faz morada em nós, que caminha conosco, nos dando a certeza de que nós agora não precisamos apenas pedir, que Deus envie sobre nós o seu Espírito, porque temos consciência de que esse Espírito agora mora em nós, habita o nosso interior, de tal maneira que agora, de fato, não podemos nos sentir órfãos, abandonados, porque o nosso Deus, que entrou em nossa história, que se encarnou em nossa história, agora nos assiste, ao longo de todos os dias de nossa vida, através do seu Espírito, como Paulo lembra (Rm 8; Gl 5), que é esse Espírito que nos une ao Pai, é esse Espírito que molda em nós a imagem de Jesus, e é esse Espírito que nos faz professar a nossa fé, nos faz chamar Deus de Pai (Gl 4,6), nos faz chamar Jesus de Senhor da nossa vida (1Cor 12,4), e nos faz viver como filhos e filhas de Deus.
Esse Espírito é, de fato, aquele que nos acompanha, que nos protege, que nos ampara. E ao celebrarmos o mistério da Santíssima Trindade, todos nós lembremo-nos de que quando fomos pensados por Deus, fomos criados por Deus, fomos feitos à imagem e semelhança de um Deus que é Trindade, de um Deus que é comunhão. E isso toca a nossa vida profundamente, porque nos faz reconhecer que nenhum de nós foi feito para a solidão, foi feito para o isolamento. Nós só nos realizamos como pessoas, na comunhão, na unidade, porque somos imagem e semelhança de um Deus que é Uno e Trino, de um Deus que é comunhão.
Ao celebrarmos este mistério, reconheçamos, como dizia Jesus (Mt 28,16-20), que a Trindade santa marca a nossa vida, marca a nossa vida do princípio ao fim, tanto que todos nós somos habituados, desde pequenos, a traçar sobre nós o sinal da cruz, o sinal da Trindade na nossa vida. Iniciamos o nosso dia, traçando o sinal da cruz, terminamos o nosso dia, traçando o sinal da cruz, traçando o sinal da Trindade, iniciamos e terminamos as refeições assim. Iniciamos a nossa santa missa, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, terminamos, sendo abençoados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Iniciamos a nossa caminhada da fé, quando fomos batizados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Todas as vezes, quando vamos pedir perdão ao Senhor, o padre nos absolve, dizendo: Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Pra nunca nos esquecermos de que somos marcados. Por isso Deus se revela a nós como Pai, Filho e Espírito Santo, para nos lembrarmos de que nunca estamos sozinhos, como Jesus nos diz no evangelho: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos.”
Que o mistério de Deus que hoje se revela a nós, nos faça, de fato, crescer na comunhão, na intimidade com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo. Que aprendamos a nos dirigir ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, aprendamos a viver esta relação pessoal com 3 pessoas que se revelam a nós, nos dando a certeza de que o nosso Deus nunca mais será um Deus longe, será um Deus distante, será um Deus indiferente! Ao contrário, o nosso Deus entrou em nossa história porque se fez caminhante conosco.
Que possamos dizer, de fato, do fundo do nosso coração, uma oração tão antiga, que todos nós fazemos, até mecanicamente, mas que revela o nosso amor à Trindade Santa:
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre, Amém!
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