PADRE DOUGLAS – Filha, a tua fé te curou! Vai em paz e fica curada desta doença.

Mais uma vez, podemos dizer que o evangelho nos convida a nos encontrarmos com Jesus, ou poderíamos também dizer, o evangelho de hoje (Mc 5,21-43) nos faz sermos encontrados por Jesus. Mais uma vez, mostra Jesus que atravessa o mar, que atravessa e deixa a margem, Jesus, que continua Sua caminhada, Jesus, que nos faz pensar, claramente, que o Seu desejo não é apenas se encontrar com algumas pessoas. Ao contrário, Jesus quer se encontrar com todos, Jesus quer ir além, Jesus quer ir aonde estamos.

Mostra também, com muita clareza, dois encontros, o encontro com essa mulher, que sofria de uma hemorragia e o encontro com essa menina, filha de Jairo.

Poderíamos dizer que os dois encontros transformaram a vida daquelas duas mulheres! Podemos também dizer, que todo encontro com Jesus transforma nossa vida.

A primeira coisa que chama nossa atenção é o fato de, num encontro, Jesus ser tocado por aquela mulher, e no outro encontro, é Jesus que toca, pra nos mostrar que, também na relação com Ele, somos tocados, e Ele também nos toca.

 Somos, na verdade, convidados a ter a mesma ousadia dessa mulher, e reconhecer nEle o que precisamos para viver. Esta mulher, diz o evangelho, já sofria há muito tempo, esta mulher já sofria há 12 anos, já tinha investido tudo o que tinha para alcançar a cura, e ao invés de melhorar, esta mulher só piorava.

Interessante pensarmos que a imagem dessa mulher nos faz também reconhecer, que há momentos em nossa vida, em que começamos a tomar consciência de que já fizemos tudo, fizemos o que cabia a nós, fizemos o que podíamos fazer… e a partir daquele momento, é preciso reconhecer que é hora de colocar Jesus em nossa vida, de fazê-lO entrar em nossa vida, em nossa história, e também termos a coragem de ir ao Seu encontro e tocá-lO, buscar nEle a força de que precisamos para viver. Não podemos nos esquecer de que esta mulher precisou também, enfrentar tantos preconceitos, precisou enfrentar uma multidão que a impedia de chegar até Jesus. Mas nada foi mais forte na sua vida do que o desejo de encontrá-lO, o desejo de tocá-lO… e esta mulher O toca, O toca com a sua fé, e experimenta a cura.

É interessante olharmos o evangelho e vermos que Jesus não quer, simplesmente, ser o curandeiro, ser alguém que resolve os problemas dos outros, ao contrário, Jesus quer trazer essa mulher pra junto dEle, e o evangelho diz que essa mulher está tremendo de medo. Tem medo do que poderia acontecer a ela, tem medo das consequências, mas a vontade de ter uma nova vida era mais forte. Por isso, ela abre seu coração e diz tudo aquilo que estava fazendo, tudo aquilo que fez, a Jesus.

Aqui um detalhe, no evangelho, que não pode passar despercebido por nós. Jesus se volta para essa mulher e diz: “Filha, a tua fé te curou. Vai em paz, e fica curada dessa doença.” Em qual outra página do evangelho, encontramos Jesus chamando alguém de filha? Nenhuma outra…

Nós estamos no coração do evangelho de S. Marcos, quando Jesus, na verdade, faz com essa mulher, o que o Pai fez com Ele. É como se essa mulher estivesse sendo batizada por Jesus. É como se essa mulher estivesse ouvindo o que Jesus ouviu, no dia do Seu batismo, quando a voz vinda do céu disse: “Este é o meu filho amado, em quem ponho todo o meu bem querer.” (Mc 1,11) Jesus se volta para essa mulher e diz: “Filha, a tua fé te curou.”

Ninguém jamais tocou nessa mulher, e ninguém a tocaria depois, como Jesus. Ninguém fez com essa mulher o que Jesus acabou de fazer. Como também na nossa vida, ninguém poderá fazer conosco, o que Jesus pode fazer. Depende de nós, depende do nosso querer, depende da nossa fé, depende da nossa ousadia de ir ao Seu encontro e tocá-lO, procurá-lO, desejá-lO.

Mas ao mesmo tempo, o evangelho narra um outro encontro, uma outra mulher, mas na cultura judaica, uma menina que já está se tornando uma mulher, porque é uma menina de 12 anos. Naquela cultura era sinal do início da vida adulta. Se antes uma mulher havia se tratado durante 12 anos, agora uma menina de 12 anos receberá o encontro com Jesus e iniciará uma nova vida. Essa menina foi encontrada por Jesus, graças a seus pais, graças àqueles que estavam ao seu lado, pra nos lembrarmos também que nós, muitas vezes, somos encontrados por Jesus, porque alguém fez a mediação, porque alguém nos ajudou, pra nos lembrarmos de que nós, também precisamos ajudar os outros a se encontrarem com Jesus, a fazer com que Ele encontre tantas pessoas necessitadas, pra que Ele também toque em tantas pessoas queridas, que necessitam desse encontro! E agora Jesus toca nessa menina e concede a ela uma nova vida.

Hoje, nós também somos convidados a nos encontrarmos com Jesus, a encontrá-lO nessa palavra que nos é proclamada, a encontrá-lO na Eucaristia, que receberemos, a encontrá-lO na comunidade que se reúne, e que nos dá a certeza, como Ele mesmo havia dito, de que quando estamos reunidos em seu nome, Ele está em nosso meio. A encontrá-lO, todas as vezes em que vamos nos confessar, a encontrá-lO todas as vezes que nós tivermos a capacidade de abrir nossos olhos e enxergá-lO presente em nossa vida.

Que essa palavra de hoje, também, caia fundo em nosso coração, e nos ajude a experimentar, cada vez mais, esses encontros com Jesus, que transformam a nossa vida. E que mesmo quando nós, de certa maneira, não tivermos mais esperança, quando acharmos que tudo terminou, que possamos deixar que o Senhor se volte pra cada um de nós, e nos diga, acalmando nossos corações, “não tenhas medo, basta ter fé!”

 

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