Ao escutarmos este elogio, feito por Jesus no final do evangelho de São João (Jo 20, 19-31), todos nós, de fato, podemos nos sentir elogiados pelo Senhor. Todos nós, de fato, podemos reconhecer que, verdadeiramente, somos nós os bem-aventurados que cremos sem ter visto. Somos nós, aqueles que cremos, mesmo que não tenhamos visto o Senhor ressuscitado, mesmo que não tenhamos visto o sepulcro vazio, cremos, e por isto estamos aqui. Cremos e continuaremos a crer, ao longo de toda a nossa vida, não apenas a crer, mas a levar a outros também, a mesma fé que professamos.
E por que cremos? Porque cremos, que de fato, o Senhor não poderia mentir para nós, cremos, porque de fato, o Senhor transmitiu a Sua Igreja, a verdade da Sua ressurreição, de tal maneira que ao longo dos séculos, a Igreja permanece transmitindo a todos nós, a verdade do Cristo vivo e ressuscitado, atuando em nossas vidas.
Por isso, nós hoje, verdadeiramente, somos bem-aventurados, somos felizes, porque cremos, mesmo sem ver. O evangelho narra pra nós dois encontros de Jesus: um, no final do domingo da Páscoa, e o outro, no domingo seguinte. Dois encontros, através dos quais, Jesus oferece àqueles seus apóstolos, o que talvez, nós hoje mais precisamos pra nossa vida. Nós escutamos Jesus dizendo “A paz esteja convosco”!
Na verdade, Jesus não se encontra apenas, com seus apóstolos! Encontra-se com cada um de nós e oferece a eles e a nós, a Sua paz, o dom da sua ressurreição! Paz que traz pra nós, de fato, o conforto necessário, na hora em que estamos vivendo. Todos nós, talvez estejamos aflitos, preocupados, ansiosos, abatidos, decepcionados, mesmo vivendo as alegrias do tempo pascal, somos todos abatidos por tantos outros sentimentos…
Mas o Senhor vem hoje, novamente, ao nosso encontro, e nos diz: “A paz esteja convosco”! Se nós O acolhemos e deixamos que esta paz, de fato, penetre a nossa vida, para que assim, nós também não apenas experimentemos a paz da Sua presença entre nós, mas experimentemos, também, a alegria por vê-lO, por ouvi-lO, por nos alimentar dEle, como os apóstolos experimentaram.
Dois sentimentos que Paulo depois descreverá, como dois frutos do espírito (Gl 5,22). Caberá a nós, hoje, nos perguntarmos se experimentamos em nós a paz e a alegria, que vem do Espírito de Deus. Paz e alegria que vêm da certeza de que o ressuscitado está entre nós, de que caminhamos com Ele.
E o evangelho narra pra nós, Jesus que entra onde eles estavam, com as portas fechadas, por medo dos judeus. Se olharmos bem, meus irmãos, estamos vivendo a mesma coisa. Nós também estamos fechados, trancados em nossas casas, isolados… Mas o Senhor vai onde estamos, vai ao nosso encontro, o Senhor nos encontra, nós que também estamos com medo, inseguros, o Senhor sabe disso.
E nos encontra hoje, acalmando o nosso coração. E ao nos encontrar, como fez com os apóstolos, o Senhor então nos envia “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”! O envio, hoje, não é apenas para os apóstolos, somos todos enviados, somos todos, hoje, como Igreja, enviados, a testemunhar a ressurreição do Cristo, a anunciar aos outros que o Cristo está vivo, está atuando, está presente na nossa vida. Somo nós, hoje, missionários da ressurreição, da vida, anunciadores da vida e não da morte, da paz e não da guerra, da alegria e não da tristeza. O espírito de Deus, hoje, é concedido a nós, para que nós o levemos aos outros, testemunhemos a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, para os outros.
Mas esse Espírito foi concedido aos apóstolos, sobretudo, para que eles fossem ministros da misericórdia de Deus, para que, a exemplo do Pai das misericórdias, eles fossem também ministros, servidores dessa misericórdia.
Por isso é que podemos dizer que o sacramento da misericórdia, o sacramento da confissão é o grande presente de Cristo ressuscitado à sua Igreja: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados eles serão perdoados, a quem os retiverdes, eles serão retidos”. É a certeza que temos de que o Senhor continua nos perdoando, o Senhor continua nos oferecendo sua misericórdia, de tal maneira que nós tenhamos a certeza de que, através do ministério da Igreja, do ministério dos sacerdotes, é Cristo que nos perdoa, é o Pai que nos concede sua misericórdia, para que assim, nós nos tornemos misericordiosos, como o Pai é misericordioso.
Mas, sem dúvida alguma, o evangelho nos coloca diante da grande figura emblemática, que foi São Tomé. Todos nós estamos acostumados, muitas vezes, a dizer que nós somos como Tomé, precisamos ver para crer. Dizer isso, meus irmãos, seria um equívoco pra nós. Nós deveríamos ter vergonha de dizer que somos como Tomé, porque nós deveríamos ser os bem-aventurados, que dizemos, “cremos mesmo quando não vemos, cremos, mesmo quando tudo parece nos dar motivo para não crer”. Mas cremos!
É preciso aprender hoje, como Tomé, a não pedir provas, a não pedir sinais, porque nós não precisamos, o sinal já nos foi dado! Deus se encarnou em nossa história, Deus ressuscitou e se tornou presente em nossa vida, não precisamos de mais sinais, não precisamos de mais provas! Nós cremos no que Ele nos disse, nós cremos no que a Igreja transmite pra nós. É preciso que consigamos dar um passo, que não sigamos o exemplo de Tomé!
É curioso, o evangelho diz que os apóstolos estão reunidos no domingo de Páscoa e Tomé não estava com eles. Onde estava Tomé? O que Tomé estava fazendo? Talvez Tomé estivesse desiludido, decepcionado, não acreditava na Palavra do seu Senhor e foi fazer o seu caminho! Talvez Tomé quisesse fazer um caminho de independência, sozinho, isolado dos apóstolos, dos seus discípulos, daqueles que caminharam com ele.
Tomé hoje nos ensina a aprender a caminhar com a Igreja, a caminhar com os outros discípulos, com os apóstolos, a não fazer o nosso caminho, como se fôssemos independentes, autônomos, como se nós quiséssemos fazer nosso caminho de fé longe da Igreja, independente da Igreja. Tomé, hoje, nos dá o exemplo que não deveríamos seguir. É preciso que aprendamos que, de fato, nós cremos, professamos a nossa fé, individualmente, mas professamos a nossa fé, também, como Igreja. Não é apenas o “eu creio”, mas existe também o “nós cremos”, cremos com a Igreja, cremos como a Igreja e caminhamos com essa Igreja.
Que aprendamos a permanecer com ela, e pior, Tomé, ao se encontrar novamente com os apóstolos, questiona o testemunho daqueles que caminharam com Ele, e ainda diz, “se eu não vir, não acreditarei”! Tomé queria provas, queria tocar o Senhor! Nós, muitas vezes, fazemos o mesmo, não cremos no testemunho dos outros, não cremos no testemunho da Igreja, não cremos no que nos dizem os apóstolos, e queremos fazer o nosso caminho, como se fôssemos os mais importantes, como se fôssemos os autônomos/independentes, na vivência da fé da Igreja.
Somos todos discípulos, estamos todos no mesmo barco da Igreja de Jesus Cristo. É preciso aprender a crer com a Igreja, a viver na comunhão com a Igreja, não fazer o nosso caminho independente, como se fôssemos uma Igreja isolada, ilhada, como se pudéssemos caminhar longe e independentes da Igreja de Jesus Cristo.
E quando o Senhor se encontra com Tomé, convida o apóstolo a tocá-lO, para que ele pudesse então, crer. Mas é interessante, que São João diz que Tomé, imediatamente, professa a sua fé e diz: “Meu Senhor e meu Deus”! Não precisou tocar, mas precisou olhar, ver o Senhor. Eu e você, meus irmãos, não precisamos tocar o Senhor, ver o Senhor, porque nós cremos que Ele está aqui. Nós cremos que Ele está no meio de nós, porque Ele nos prometeu, porque Ele nos garantiu! Não precisamos de sinais, de provas, de prodígios, de manifestações. Cremos, porque Ele nos garantiu que estaria vivo e ressuscitado, até o fim dos tempos, ao nosso lado.
Que nós hoje, de fato, nos sintamos os bem-aventurados, porque de certa maneira, este elogio não cabia aos apóstolos, porque eles viram o Senhor, não cabia às mulheres, porque elas também viram o Senhor, não cabia a Tomé, porque ele também viu o Senhor. Este elogio cabe a mim e a você, que cremos, mesmo sem ver. Cremos mesmo sem tocar. Cremos mesmo sem testemunhar o sepulcro vazio. Cremos, e cremos com a Igreja e na Igreja.
Que hoje, nós, verdadeiramente, nos sintamos os bem-aventurados que cremos, mesmo sem ver. E que o Senhor nos dê a graça de acolhermos a Sua presença entre nós, para que assim, nós testemunhemos que Ele está vivo e ressuscitado, dentro de nós e no meio de nós.
Bem-aventurados os que creram sem terem visto!
Postagens Relacionadas
PE. DOUGLAS – Mestre, é bom ficarmos aqui!
Ao fazermos esta caminhada quaresmal com o Senhor, ao longo destas semanas, todos nós fomos convidados a fazer…
PADRE DOUGLAS – Permanecei em mim e eu permanecerei em vós!
Ao escutarmos o capítulo 15 do evangelho de S João, ouvimos o Senhor descrevendo pra nós, como deveria,…
DOM JOSÉ FRANCISCO – Feliz Ano Novo!
“Este ano quero paz no meu coração Quem quiser ter um amigo, que me dê a mão O…
PE. DOUGLAS – Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
Ao celebrarmos a solenidade da Santíssima Trindade, somos todos nós conduzidos pela liturgia, a contemplarmos o mistério dos…