PADRE DOUGLAS – Permanecei em mim e eu permanecerei em vós!

Ao escutarmos o capítulo 15 do evangelho de S João, ouvimos o Senhor descrevendo pra nós, como deveria, ou como de fato, é, a nossa relação com Ele.

A 1ª coisa que Jesus nos mostra é que de fato, não somos um galho ou uma árvore, soltos, lançados ao vento… é exatamente o contrário. Somos um ramo enxertado, unido, preso, a Ele mesmo, a videira verdadeira, pra nos lembrarmos do dia do nosso batismo, quando eu e você fomos enxertados no Corpo de Cristo. Fomos inseridos, e a partir daquele dia, daquele dia santo de nossa vida, todos nós podemos dizer que somos membros de Cristo, fazemos parte de Seu Corpo, somos, de fato, ramos da videira.

Jesus descreve pra nós, que essa videira, que é Ele mesmo, e da qual todos fazemos parte, é a videira do Pai. É o Pai que cuida de Jesus, é o Pai que cuida de nós. Hoje, deveríamos nos sentir, profundamente, cuidados, amparados pelo Pai, que zela por cada um de nós. E exatamente, porque Ele cuida, nos diz o evangelho que Ele também poda, que Ele limpa. Muitas vezes, o que nós desejamos é que o Pai nos conceda graças, que o Pai nos acaricie, que o Pai nos dê tudo o que queremos, como uma criança mimada, que chora e quer que a mãe atenda, imediatamente, e se não atende, faz birra… ou quer comprar o pai ou quer comprar a mãe. Se olharmos bem, meus irmãos, veremos que muitas vezes, fazemos a mesma coisa com Deus. Muitas vezes queremos comprá-lO, queremos trocar: damos isto e Ele nos dá aquilo! Vamos fazer uma novena, porque queremos aquela graça, vamos fazer isto, porque queremos aquilo. E nem percebemos o quanto somos interesseiros em nossa relação com o Pai. O Pai, ao contrário, faz o quê conosco? Cuida de nós, nos ampara… E gratuitamente!

Mas ao mesmo tempo, diz Jesus no evangelho, que o Pai limpa, poda… É preciso que todos nós deixemos que, de fato, o Pai nos limpe, nos pode, tire, talvez, os galhos secos da nossa vida, as folhas que não prestam mais! Deixemos que com as circunstâncias da vida, o Pai continue nos limpando, nos purificando, deixemos que o Pai nos faça crescer, nos faça, verdadeiramente, cristãos maduros, para que não sejamos mais uma parasita na videira, porque este é um risco pra mim e pra você, sermos parasitas na videira da Igreja, sermos parasitas na videira, que é Jesus Cristo.

E o que queremos? Só sugar, só receber… E não damos, não oferecemos os frutos da nossa vida. Muitas vezes, nós dizemos, de fato, aquilo que dizemos popularmente, ‘venha a nós, sempre… vosso reino, nada’. Só queremos receber, é típico da criança pequena que… o que faz? Recebe, só recebe, o máximo que a criança faz é dar um sorriso pra mãe! Quando começa a falar, repete, “obrigado”, só repete! Se olharmos bem, meus irmãos, vemos que, muitas vezes, somos crianças mimadas, diante de Deus. Só queremos mamar, só queremos receber, só queremos sugar a energia, mas não damos nada…

É necessário que hoje todos nós nos sintamos abastecidos pela graça do Senhor, para que assim produzamos frutos, naturalmente. O ramo enxertado na videira produz fruto, naturalmente. A seiva passa e o ramo produz o fruto. Assim somos nós, se de fato, permanecemos no Senhor, se de fato, estamos com Ele, naturalmente, os frutos nascerão.

Nunca vimos uma mangueira fazendo força pra dar manga, nunca vimos uma jaqueira suando, pra poder vir uma jaca. O fruto nasce naturalmente, faz parte da sua vida. Assim também, deveriam fazer parte da nossa vida, os frutos que nascem, que nascem naturalmente, porque se, de fato, estamos unidos ao Senhor, bebemos da fonte que vem dEle, da comunhão entre Ele, o Pai e o Espírito, o fruto vai nascer, espontaneamente. O problema é que, às vezes, somos como aquele galho, meio quebrado e que ainda não amarraram bem. É preciso que nós nos amarremos bem ao Senhor, prendamos a nossa vida à dEle, para que assim, a seiva passe e produzamos frutos.  É necessário que eu e você permaneçamos unidos a Ele e nos esforcemos para permanecer com Ele, permanecer na Sua palavra, como Ele nos mostrou no Evangelho.

Desse modo, nós viveremos como S. João disse: “Filhinhos, amemos, mas não apenas com palavras e da boca pra fora” (1 Jo 3,18-24). Se eu e você vivemos com o Pai, com o Filho e com o Espírito, a manifestação plena, gratuita e maior do amor, de nossa vida o que sairia?  Só amor! Se não está saindo, é porque tem alguma coisa errada entre nós. Porque dEle, do Pai, só sai amor, só brota amor. E se nós somos a videira de que Ele cuida, também da nossa vida só deveria sair amor. Assim, essa palavra de hoje nos interpela a sairmos de uma comodidade na qual, muitas vezes estamos. A sairmos de uma vida cristã de fogo de palha. A sairmos de uma vida cristã, perdoem a expressão, medíocre, rasa, superficial, para que nós não produzamos outra coisa senão amor. Um amor concreto. Não o amor de discursos, de palavras, de mensagens… já estamos cansados. Domingo que vem vai ser uma avalanche de tanta declaração de amor. Só um domingo a gente ama? É dia da mãe, é dia do pai, dia do filho, dia da criança, dia do avô, dia da avó, dia do trabalhador… Parece que só temos um dia ao longo de todo o ano, para fazer coisa boa, pra cuidar das pessoas que amamos!

Amemos todos os dias, amemos com palavras e amemos com obras. Não amemos apenas da boca pra fora, não amemos apenas quando encontrarmos nossos entes queridos dentro de um caixão… Amemos agora, amemos hoje, porque só temos hoje pra amar, só temos agora pra amar… de tal maneira que vivamos na dinâmica da comunhão, como lemos no Ato dos Apóstolos (At 9,26-31). Barnabé, como um homem de Deus, como um ramo enxertado na videira que é Cristo, não podia fazer outra coisa, senão amar Paulo e trazê-lo de volta pra comunidade. Vejam que palavra emblemática pra nossa vida, Barnabé é o exemplo claro do discípulo que acolhe, que insere, que congrega, enquanto os outros, na maioria, não queriam acolher Paulo, incriminavam-no, apontavam o dedo, rejeitavam-no. Sejamos nós como Barnabé, sejamos homens e mulheres da acolhida, sejamos homens e mulheres que trabalham pela comunhão, que trabalham pela unidade, não pela divisão, não pela briga, não pela guerra. Sejamos homens e mulheres que trabalham na força do Espírito e segundo o mesmo Espírito.

Só será possível vivermos assim, se eu e você permanecermos unidos, à videira verdadeira, que é Jesus Cristo. De tal maneira, que seja Ele o sustento da nossa vida, pra que assim, todos nós possamos dizer, como o salmista: “É o Senhor quem sustenta a minha vida” (Sl 54,6). “Uns confiam nos carros, outros nos cavalos. Nós, porém, somos fortes no nome do Senhor” (Sl 20,8). NEle está a força da nossa vida, nEle está o sustento da nossa vida.

Que agradeçamos, hoje, a Deus, por nos inserir na videira que é Sua, agradeçamos a Deus por nos alimentar e nos sustentar todos os dias da nossa vida. E deixemos que a seiva de vida que brota do coração do Pai penetre a nossa vida e o nosso coração, para que assim, produzamos muitos frutos, façamos tantos outros discípulos de Cristo, de tal maneira que o Pai seja glorificado na minha vida e na sua vida.

Eu sou a videira verdadeira e vós sois os ramos…

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1 comments
  1. A cada dia a nossa relação com a Palavra, vai se fortalecendo e o nosso conhecimento vai crescendo!!!
    Graças à sensibilidade palpável com que nos é transmitida!!!
    GRATIDÃO SEMPRE !!!!

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