Há alguns anos, estava no ar, uma novela chamada: “A Viagem”. A metáfora usada queria descrever a morte e o que vem depois dela. Podemos criticar a novela e tudo o mais, mas a metáfora foi boa. Pensar a morte como uma viagem, até que é bom e até melhor do que se costuma pensar! Não tanto para os que não gostam de viajar, contudo não importa. Fiquemos com “a viagem”!
Neste artigo, queremos falar da nossa viagem, ou melhor, da viagem de Jesus que mudou, para sempre, o destino das nossas viagens! É sempre interessante, sobretudo para alguns, falar da morte de Jesus. Principalmente porque, como diziam no passado e, ainda hoje, nos lembra o Catecismo da Igreja Católica, cremos que: “Jesus Cristo desceu aos infernos” (n. 632). Tanto infernos, como mansão dos mortos, neste caso, querem dizer a mesma coisa: a região onde habitavam os que morreram e aguardavam o juízo.
A primeira coisa que a fé nos faz recordar é que Aquele a quem seguimos como nosso Mestre e Senhor também fez a experiência que todos nós acreditamos que, um dia, faremos. Isso nos faz afirmar que Ele fez a experiência plena da humanidade, ou seja, nasceu, viveu e morreu. Porém, precisamos lembrar que o grande inimigo da humanidade, a morte, encontrou Alguém maior que ela. Por isso que, com Paulo, podemos afirmar e perguntar: “A morte foi tragada pela vitória; onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1Cor 15, 54-55). Com isso, nos deparamos com um “erro” comum entre nós, quando dizemos: “na vida, tudo tem jeito. Menos para morte.” A partir da morte de Cristo, essa afirmação perde seu sentido, porque nós seguimos um Homem que deu jeito até para aquilo que não poderíamos dar jeito: a morte.
Afirmar que Jesus morreu e desceu à mansão dos mortos ou aos infernos quer dizer, biblicamente, que Ele fez, de fato, a experiência da morte. Contudo, não apenas isso! Quer dizer, também, que Ele foi ao encontro de tantos homens e mulheres que nEle esperavam: os que aguardavam a vinda do Messias Salvador. Por isso, Cristo vai ao encontro daqueles que creram nEle só por ouvir dizer, e os resgata do poder tirânico da morte.
A partir daí, não cabe mais a nós uma afirmação usual, quando voltamos de um sepultamento ou estamos num velório: “agora, tudo acabou”. Essa afirmação não cabe nos lábios de uma pessoa de fé. Deveríamos dizer: inicia-se uma nova fase para o (a) falecido (a); ou dizer que agora tudo começou… Cabe a nós tirar o poder que damos à morte e lembrarmos que a fé nos dá a certeza de que ela, a morte, não tem mais o poder sobre nós, mesmo que tenhamos que passar por ela! Poderíamos e deveríamos até, esperar esse dia em que teremos o encontro definitivo com Aquele a quem amamos, e seguimos ao longo de nossa vida. Será que cabe a nós o medo de encontrar com quem amamos e que nos ama profundamente?
É maravilhoso ouvir os discípulos narrando o encontro com o Senhor ressuscitado! É como contemplar o nascer do sol, que vai desfazendo as nuvens e todo tipo de escuridão do dia… Sua ressurreição é o divisor de águas da nossa vida! Podemos até dizer que estamos aqui porque Ele ressuscitou!
Por isso, precisamos recordar as fortes palavras de Paulo: “E se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento também é a vossa fé.” (1Cor 15,14) A ressurreição de Cristo, testemunhada pelos apóstolos e por tantos discípulos, nos ajuda a crer que Cristo venceu o poder da morte e nos garante sua presença ao nosso lado durante todos os dias. Não seguimos um derrotado ou perdedor. Ao contrário, seguimos o grande vitorioso da história da humanidade. Enquanto todos acreditavam em sua derrota, Ele, como dizemos, “deu a volta por cima” e nos deixou de “boca aberta” com sua vitória!
Que nesse tempo quaresmal, que iniciamos, cada um de nós possa fazer dois exercícios: rever sua preparação para a morte e pedir ao Senhor que nos ensine a fazer morrer, em nós, tudo aquilo que não é sinal dEle na nossa vida!
Assim, vivamos a nossa vida entoando as palavras dessa canção da piedade popular: “Porque Ele vive, eu posso crer no amanhã. Porque Ele vive, temor não há.”
Pe. Douglas Alves Fontes