Queridos amigos, queridos irmãos: uma vez mais, como em todos os anos, todos os bispos do Brasil estiveram reunidos em Aparecida – SP. Nada mais lógico e feliz que os filhos e irmãos se reúnam na Casa da Mãe. Quando crianças, recordamos, era para casa da mãe que sempre voltávamos. E já adultos, é para lá, invariavelmente, que sempre nossos caminhos nos levam. Crescemos. Talvez as mães que nos deram à luz já estejam velhinhas ou já tenham ido ao encontro da Luz. Mas sempre continuamos filhos. E quando chegamos nesta Casa da Mãe, de onde venho a escrever para vocês, desta Mãe que nos deu a Luz, aqui, voltamos a ser crianças inocentes das maldades do mundo, deixamos toda desconfiança dependurada do lado de fora da porta e, como por milagre, rejuvenescemos. E toda vez que passamos diante da Imagem Bendita, naquele corredor e naquele mar de gente, irmãos entre irmãos, apenas mais um entre muitos, nós, bispos, olhamos para ela e dizemos: Lembra-se de mim, Mãe? E ouvimos a voz, a mais doce de todas, garantindo antigas promessas em nosso coração: Claro, filho. Como poderia eu me esquecer de ti!
Nesse espírito, começou a 51ª Assembleia Geral da CNBB, de 10 a 19 de abril. Nesse mesmo espírito, pedimos a Luz do Espírito Santo: que desça a nós a Divina Luz. Pedimos a intercessão da Mãe Aparecida, mãe e padroeira do povo brasileiro. Pedimos a fraterna intercessão de todos os santos, nossos irmãos, que nos precederam na Glória. Pedimos a fraterna intercessão de todos os outros santos, de todas as Igrejas, nossos irmãos que continuam aqui ao nosso lado, batalhando o bom combate e guardando a fé, nesse mundo ambivalente, tanto lindo quanto hostil.
Temos muitas urgências, trabalho que não acaba mais! Afinal, é o Brasil, a maior nação católica do mundo, o maior episcopado. Aqui, em Aparecida, é possível sentir a enormidade da Igreja e a grandeza de pertencer a ela.
Se me fosse possível citar um dos trabalhos que temos pela frente, citaria o que considero, talvez, como sendo o maior. Trata-se do documento: Comunidade de comunidades – uma nova paróquia. Pelo índice, vocês, irmãos e irmãos, poderão ter uma primeira noção do conteúdo:
- PERSPECTIVA BÍBLICA – Recuperar a comunidade; a Nova experiência de Deus, o Abbá, a Missão do Messias, a Novidade do Reino; Um novo estilo de vida comunitária; Um Novo Pentecostes; Uma nova missão da comunidade.
- PERSPECTIVA TEOLÓGICA – A Igreja doméstica; O Surgimento das paróquias; A paróquia no Concílio Vaticano II; A renovação paroquial na América Latina e no Caribe; A paróquia como casa; A paróquia hoje.
- NOVOS CONTEXTOS: DESAFIOS À PARÓQUIA – Desafios no âmbito da pessoa; Desafios na comunidade; Desafios na sociedade; A urgência da renovação paroquial.
- PERSPECTIVAS PASTORAIS – Reconstruir a comunidade; Recuperar as bases da comunidade cristã; A comunidade de comunidades; A conversão pastoral; Transformar as estruturas; A transmissão da fé em novas linguagens.
- PROPOSIÇÕES – Pequenas comunidades; Formação permanente; Iniciação cristã; Animação litúrgica e ministérios.
Como vocês podem ver, é trabalho para muito tempo. Teremos um ano pela frente de estudo. O documento é rico. Poderemos nos aprofundar e, sobretudo, o mais importante: aprofundar nossa identidade cristã. Sim, somos cristãos. Sim, fomos batizados. Sim, participamos de nossa comunidade. Sim, pagamos o dízimo. Sim, fazemos parte de algum ministério. Sim.
Mas, somos mesmo Igreja de Jesus Cristo? Ele é o centro de nossas vidas? É em torno de sua Palavra e de sua Vida que fazemos girar todas as decisões que tomamos, desde a mínima, desde o primeiro espreguiçar do amanhecer até o derradeiro bocejo da noite? Sim?
É isso que o documento Comunidade de comunidades – uma nova paróquia quer nos trazer e nos fazer ver para moldar ainda mais nossa vida, sempre, na vida de Cristo.
A primeira e grande orientação que se deve ter em mente é que não se trata nem de inventar nem de reinventar a comunidade. Ela já existe. Desde o lado aberto na Cruz, quando escorreu sangue e água (Jo 19,34), a comunidade existe como esposa amada do Senhor, que por ela viveu, por ela morreu e por ela ressuscitou. A comunidade existe e tem um único fundamento: Jesus Cristo, o Senhor. Construir sobre qualquer outro fundamento será sempre construir na areia. É o Ressuscitado quem garante nossa existência e nossa própria ressurreição, sem o que, não valemos nada, andamos no escuro, somos palha que o vento leva (1Cor 15,12-19).
A comunidade existe. Mas os tempos são outros. E não podemos ficar surdos ao apelo dos tempos. Uma infinidade de novos modelos nos é apresentada todos os dias, de muitas formas, na TV, no rádio, na mídia. São apelos fortes, sensitivos, emocionais. Dizem respeito ao corpo das pessoas, ao coração das pessoas, ao bolso das pessoas. Geralmente, falam assim: Você está doente? Venha: nós curamos. Você perdeu a pessoa amada? Venha: nós trazemos de volta. Você está falido? Venha: nós reerguemos sua empresa.
Mas será essa a Igreja que Cristo desejou? Será mesmo? Essa é a preocupação que move os seus bispos.
Nós também poderíamos entrar “na onda” e “surfar na correnteza”. Considerem: é muito mais fácil! É o que se faz!
Mas não seria honesto, não seria ético, não seria digno do Senhor de quem somos discípulos e ministros. Não seria digno de vocês, irmãos e irmãs, para quem somos ministros e de quem também aprendemos como ser discípulos.
Na Casa da Mãe, com Maria, com Pedro e, é claro, com Jesus, queremos viver um novo Pentecostes, onde as línguas não se embaralhem nem os interesses atrapalhem. E por falar em Pentecostes, no dia 19 de maio, a partir de 14 horas, teremos o Bote Fé, na praia de Icaraí, com a chegada da Cruz Peregrina e do ícone de Nossa Senhora. Venha participar conosco neste grande evento em preparação à Jornada Mundial da Juventude. Queremos tornar-nos comunidade viva, corpo místico, povo de Deus a caminho.
A exemplo do papa Francisco, contamos com a oração de vocês, hoje e sempre. Amém.
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói