Padre Douglas: Vós sereis testemunhas de tudo isto

Ao longo do tempo pascal, uma das palavras que mais ouviremos e que mais marcará essa caminhada pascal é a palavra “testemunho”. Hoje, Nosso Senhor, ao se encontrar conosco e com seus discípulos, mais uma vez, nos lembra da nossa missão: “Vós sereis testemunhas de tudo isso”.

Talvez pudéssemos nos perguntar – e como dar testemunho? Pedro, nos Atos dos Apóstolos (At 3,13-15.17-19), estava dando testemunho, através de sua pregação, através de seu anúncio evangélico. E São João (1Jo 2,1-5ª), de certa maneira, nos propõe uma outra forma de dar testemunho, através da nossa vida, da nossa vida cristã, da nossa vida fiel à Palavra de Deus, formas, através das quais, nós continuamos, ainda hoje, dando testemunho.

Mas, do quê nós damos testemunho? De quem damos testemunho? Nosso testemunho não pode ser outro, senão o do Cristo vivo e ressuscitado, presente entre nós, atuando entre nós, durante toda a nossa vida. Para que assim façamos, é preciso que nos encontremos com Ele.

O evangelho de Lucas (Lc 24, 36-48) nos faz lembrar, exatamente, do evangelho dos discípulos de Emaús, é a sua continuidade, quando Jesus se encontrava com os dois discípulos, que deixavam Jerusalém, e caminhavam para o  povoado  chamado Emaús. Na continuidade desta mesma narrativa, São Lucas mostra que os dois discípulos agora voltam para sua comunidade, voltam para os outros discípulos, para darem testemunho do que tinham visto e ouvido.

E hoje, Jesus, novamente, vai ao encontro dos discípulos, vem ao nosso encontro! Nós nunca podemos nos esquecer de que não somos apenas nós, que vamos ao encontro do Senhor, Ele também vem ao nosso encontro. É interessante pensarmos que, de fato, os discípulos estão contando o que tinham visto, o que tinham ouvido, e o Senhor aparece no meio dos seus outros discípulos, nos fazendo lembrar, claramente, que nós também temos essa missão, a missão de anunciarmos, de testemunhar, de contar o que vimos e ouvimos, de contar o que experimentamos.

Esta é a nossa missão, como testemunhas do Senhor. E esta palavra nos faz hoje recordar do Papa Paulo VI, quando no final da década de 70, dizia que o homem contemporâneo ouve muito melhor as testemunhas do que os mestres, e se houve os mestres, é porque antes, eles foram testemunhas.

De certa maneira, esta palavra nos questiona, porque cada vez mais, surgem, entre nós, mestres de todos os tipos, mestres disponíveis a ensinar, a dar lição e a ensinar muitas coisas, que nós até nos perguntaríamos, se de fato, procedem do evangelho de Jesus Cristo.

Eu e você, hoje, talvez estejamos cansados de tantos mestres. O que nós queremos, o que nós procuramos, o que nós necessitamos são homens e mulheres que testemunham o evangelho de Jesus Cristo que, a exemplo dos discípulos de Emaús, voltam para seus irmãos de comunidade e testemunham o que eles experimentaram.

Desse modo, meus irmãos, caberá a nós, hoje, deixarmos que o Senhor nos encontre, deixar que o Senhor, como fez com Tomé, como fez com os apóstolos, como fez com seus discípulos, faça conosco e nos conceda a sua paz, o dom da sua ressurreição, para que assim, nós também, sejamos promotores da paz! Não promotores da divisão, da guerra, da briga, dos ataques, mas promotores da paz. “A paz esteja sempre convosco”. É dessa paz que o mundo necessita, é desta paz que nós necessitamos, e é essa paz que nós precisamos levar aos homens e mulheres do nosso tempo. Mas só a levaremos, se a recebermos do Cristo ressuscitado. E nós também, como os discípulos do evangelho, estamos tão marcados pelo medo, pelas preocupações, que parece difícil crer em Jesus, parece difícil reconhecê-lO presente entre nós, porque o medo, a insegurança, falam mais fortes.

É preciso que nós deixemos que Jesus nos diga, também, “Sou eu mesmo, vede minhas mãos, vede meus pés”, como se Jesus estivesse dizendo, “Eu estou ressuscitado! Mas sou Eu mesmo que fui crucificado. As marcas continuam em mim, mas estou vivo. A morte não teve a última palavra sobre mim.” E assim, aqueles homens ficaram, de fato, “questionando” o Senhor.

E São Lucas nos diz, então, que Jesus abre a inteligência daqueles homens. Hoje, nós deveríamos passar pelo mesmo, pedir ao Senhor que abra a nossa inteligência, que nos dê a capacidade de compreender melhor a nossa fé, para que assim, possamos vivê-la, possamos testemunhá-la. Peçamos ao Senhor que nos ajude a crer, que nos ajude a compreender, para que nós, a exemplo de São João, possamos dizer o que vimos e ouvimos, o que nossas mãos tocaram e o que nós anunciamos (1Jo 1,1).

Aprendamos, meus irmãos, a anunciar Jesus Cristo, a testemunhá-lO, com a nossa vida e com as nossas palavras. Que possamos assim, acolher o Senhor que mais uma vez, hoje nos encontra, nos concede a Sua paz e renova em nós, a consciência de que somos a suas testemunhas, de que somos sinais da sua presença, por onde quer que passemos.

Que possamos, hoje, deixar que o encontro com o Senhor nos renove e nos fortaleça, para que assim, nós, a exemplo dos primeiros discípulos, possamos voltar pra nossa vida ordinária, pra nossa vida de cada dia, testemunhando o Senhor, vivo e ressuscitado, presente no meio de nós. Que de fato, venha a graça do Senhor, sobre nós. Que Ele faça brilhar o esplendor da Sua face, para que assim, possamos de fato, testemunhar Jesus Cristo vivo e presente, dentro de nós.

Vós sereis testemunhas de tudo isso.

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