Ao celebrarmos o domingo de Ramos, todos nós contemplamos o mistério da vida de Jesus, que toca a nossa própria vida.
Talvez hoje, nós contemplemos Jesus, entrando em Jerusalém! Parece algo distante da nossa vida, algo que não nos diz respeito, mas é exatamente o contrário. Hoje, na verdade, estamos contemplando Jesus que entra, não apenas na cidade de Jerusalém, mas Jesus que entra em nossa vida, entra em nossa história, entra em nossa casa, entra em nosso coração.
Mas como Ele entra? Ostensivamente? Num cavalo, num carro, de uma maneira mais vistosa? Não… entra, montado num jumento, num burro.
Curiosamente, nesta cena, vemos o que São Paulo diz, na carta aos Felipenses (Fl 2,6-11), quando dizia que Jesus, mesmo existindo em condição divina, mesmo sendo Deus, se rebaixou e assumiu a condição de servo, e entra em Jerusalém como servo, entra em nossa vida como servo, como quem está a nossa disposição, como quem está em nossa vida, não pra mandar, não pra dominar, não pra ser um tirano sobre nós! Ao contrário, entra para nos servir, entra pra conter aquilo que Ele mesmo havia dito, no cap. 22 de S. Lucas “Eu estou no meio de vós como aquele que vos serve”.
Jesus não entra em nossa vida, de uma maneira agressiva, Jesus não entra, batendo à porta, Jesus entra, manso e humilde. Se quisermos, eu e você poderemos fechar a porta da nossa vida, enquanto quisermos, quantas vezes quisermos, e Ele respeitará a nossa escolha, a nossa liberdade. Mas também, se quisermos, como lembra o Livro do Apocalipse, “Ele está à porta e bate”. Se abrirmos Ele entrará e ceará conosco. Se quisermos, Ele entrará e permanecerá para sempre conosco.
Mas ao O acolhermos, o que faremos nós, o que devemos fazer, depois de acolhermos Jesus, depois de deixarmos que Ele entre em nossa vida, caberá a todos nós assumirmos o lugar desse jumento, desse burro, não pra sermos um jumento na vida dos outros, mas pra sermos portadores de Jesus na vida dos outros, para levarmos Jesus aos outros, pra sermos, humildemente, como um animalzinho que carrega alguém.
Somos nós, também chamados a levar Jesus a tantas pessoas que encontrarmos, a tantas pessoas que, como nós, necessitamos do Senhor. Abrirmos as portas e deixarmos que Ele entre, e ao entrar em nossa vida O levarmos aos outros. Carregar Jesus até tantas pessoas, que dEle necessitam. Mas ao contemplarmos esta cena do evangelho, poderíamos então, nos perguntar: como acolhemos Jesus em nossa vida? Como entramos com Ele em Jerusalém?
Poderíamos pensar que O acolhemos de três maneiras: podemos acolhê-lO como Pedro, podemos entrar com Ele em Jerusalém, como Pedro, nós nos empolgamos, nós dizemos a Ele: “Senhor, eu dou a minha vida pelo Senhor, eu entrego tudo, estou pronto para ir até o fim.” E logo depois, quando a prova chega, quando o desafio bate a nossa porta, o que fazemos? O mesmo que Pedro… negamos a Jesus, dizemos que não o conhecemos, talvez não da boca pra fora, mas a nossa vida testemunha que parece que nós não O conhecemos, parece que de fato, nós o negamos. Somos nós o novo Pedro, que acolhe Jesus, empolgadamente, mas quando o desafio bate à porta, o que fazemos? O negamos…
Mas nós também podemos acolher Jesus, como o povo de Jerusalém: levantamos nossos ramos, estendemos nossas vestes, gritamos “Hosana ao Filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor”… mas daqui a pouco, quando a multidão gritar “Crucifica-O!’, o que fazemos? Gritamos juntos: “Crucifica-O”! Muitas vezes, somos a prova viva daquilo que costumamos dizer, no ditado popular, “somos maria vai com as outras”… Todo mundo faz, eu também faço, todo mundo critica, eu também critico, todo mundo fala mal da Igreja, eu também falo mal da Igreja. É o povo de Jerusalém, que quando convém, grita “Hosana ao filho de Davi”, mas quando convém grita “Crucifica-O”.
É assim que podemos acolher Jesus hoje, é assim que podemos entrar em Jerusalém, nós nos tornamos mais uma marca, nós nem nos damos conta do que fazemos, do que falamos! Nem nos perguntamos, por que estou fazendo isso? Por que estou falando isso? Por que estou agindo desta forma? Somos livres, somos homens e mulheres de fé, e precisamos aprender a viver esta fé, mesmo que tenhamos que nos opor à multidão, mesmo que tenhamos que nos opor à massa, mesmo que tenhamos que ir contra a corrente.
É preciso que nós entremos com Jesus em Jerusalém e caminhemos com Ele, até o fim. Entrar com Jesus, exaltado e glorificado, é fácil, até um pagão pode fazer isso… mas eu e você fomos chamados a ir até o alto do Calvário, por isso caberá a nós, hoje, seguir um exemplo que, curiosamente, não apareceu no evangelho de Marcos (15,1-39): o exemplo da Virgem Maria!
Sabemos nós, perfeitamente, que ali ela estava! Ela também entrou com Jesus, em Jerusalém, ela também caminhou com Ele, ela também viveu os passos da Sua paixão! Ela também foi até o alto do Calvário, junto com o seu Filho. Experimentou a dor, a morte, e o sofrimento, mas com olhar de fé, sabendo que tudo aquilo era passageiro, que tudo aquilo não seria a última palavra, sobre a vida de seu Filho, como não teve!
Hoje, eu e você podemos seguir o exemplo da Virgem Maria que, curiosamente, nem aparece de destaque do evangelho! Talvez isto seja um desafio pra nós, porque gostamos do destaque, gostamos de aparecer, gostamos de uma vida ostensiva. As redes sociais, hoje, pra nós, são a faca e o queijo na mão, porque dão a todos nós, a visibilidade que nunca tivemos.
Mas como Maria, nós hoje somos convidados a entrar em Jerusalém, discretamente, sem dizer uma palavra, mas caminhar ao lado do seu Filho, todos os momentos da nossa vida. E termos a coragem de, como Ele, subir ao alto do Calvário, fazer a experiência da dor e da morte, mas saber que com Ele, daqui a uma semana, nós gritaremos o Aleluia, cantando a vitória do ressuscitado.
Que o Senhor nos dê a graça hoje, de abrirmos as portas do nosso coração, pela força do espírito, e deixarmos que Ele entre. E ao entrar na nossa vida, caminhemos todos os dias da nossa história, com Ele e como Ele. E que assim, possamos levá-lO a tantas pessoas que encontrarmos pela estrada da vida. Que possamos dizer hoje, não apenas da boca pra fora, mas com a consciência de quem quer caminhar com o Senhor.
Bendito o que vem em nome do Senhor!
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