PE. DOUGLAS – Senhor, tens palavras de vida eterna

Ao proclamar estas palavras, nos lembramos de S. Pedro, no cap. VI do evangelho de S. João, quando, depois de ouvirem Jesus fazendo um grande discurso, do Pão da vida, muitos discípulos começaram a dizer a Jesus: “Senhor, esta palavra é dura demais”, e viraram as costas e foram embora. E o que Jesus fez? Correu atrás deles e disse, ‘não, fiquem aqui, fiquem comigo’! Não! Jesus se volta para os apóstolos e pergunta: “Vocês também querem ir embora?” E Pedro, então diz esta palavra: “A quem nós iremos, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna”.

Na verdade, Pedro estava, mais uma vez, professando sua fé em Jesus, reconhecendo que, de fato, naquele homem, Deus estava agindo, Deus estava falando, Deus estava no meio daquele povo, e por isso, ninguém tinha uma palavra como a dEle.

Hoje, dizemos o mesmo, e podemos dizer ao longo de toda a nossa vida, ‘Senhor, só Tu tens  palavras de vida eterna’, e por isso nos reunimos, porque cremos nesta palavra.

Porém, o evangelho de João (Jo 2,13-25) nos lembra que diante de Jesus, muitos creram nEle, muitos creram em sua palavra, mas diz algo que nos questiona e nos incomoda. “Mas Jesus não lhes dava crédito”, porque Jesus conhecia o seu coração. Da mesma forma, eu e você estamos aqui, porque cremos nesta palavra. Mas talvez, possamos crer como aqueles homens e mulheres do tempo de Jesus. Acreditavam em sua palavra, mas não a seguiam, não a acolhiam, não a viviam… é um risco pra todos nós. Cremos nesta palavra, gostamos desta palavra, mas no fundo, não aderimos. No fundo, parece que esta palavra fica na periferia da nossa vida. É a boa semente lançada no terreno da vida mas, ao invés de fecundar o terreno de nosso coração, esta palavra é perdida no meio de tantas coisas.

Por isso é que nós, hoje, precisamos nos perguntar à luz da palavra de Paulo (1Cor 1,22-25), o que nós estamos buscando? O que nós queremos com Jesus? Paulo nos lembrava dos gregos, que procuravam sabedoria, e dos judeus que procuravam sinais, mas ele dizia que nós, poderia ainda dizer, nós, cristãos, pregamos Cristo crucificado. Ele é o centro, Ele é o Mestre, é com Ele que nós seguimos. E é a Ele que queremos escutar. Ele que nos fala e nos conduz!

Diante do trecho de Ex 20,1-17, talvez a primeira reação que tenhamos, diante desta palavra, possa ser até uma rejeição, nos sentimos como diante de um Deus, que nos impõe uma palavra, nos impõe uma ordem, mas é um erro nosso, porque na verdade, podemos nos sentir diante de um Pai que, porque nos ama, quer o nosso bem, nos dá uma palavra, nos dá uma orientação, que eu e você podemos ou não, acolher. A palavra é ofertada. Acolhemos se quisermos, se não quisermos, vida que segue… mas assumamos as consequências das nossas escolhas.

E por isso, Deus oferece ao seu povo, ao povo que Ele resgatou, ao povo que Ele conduziu, ao povo que Ele continuaria conduzindo ao longo da história, uma palavra de direcionamento da sua vida, apresentando aquilo que aprendemos, como os 10 mandamentos, que todos nós sabemos de cor, e talvez possamos dizer uns aos outros, o que de fato Deus espera de nós: amar a Deus sobre todas as coisas, não tomar seu santo nome em vão, guardar domingos e festas, honrar pai e mãe, não matar, não pecar contra a castidade, não roubar, não levantar falso testemunho, não desejar a mulher do próximo, não cobiçar as coisas alheias, todos nós já sabemos, todos nós já guardamos no coração e na mente, esta palavra, que já vivemos. Esta palavra de orientação é encarnada em nossa vida ou não? É preciso que hoje nos perguntemos, se de fato, estamos crendo em Deus, como os contemporâneos de Jesus, que acreditavam mas não viviam aquela palavra, ou ao contrário, se nós cremos, abraçamos, queremos viver esta palavra todos os dias de nossa vida.

São João (Jo 2, 13-25) narra uma cena, que também nos questiona nessa caminhada: Jesus entra no templo e o que Ele contempla? O que Ele contempla, na casa de Deus? Na casa de oração. A casa de Deus havia se tornado um comércio, onde vendiam e compravam… transformaram o lugar santo, o lugar do encontro com Deus em um lugar qualquer. Esta palavra, primeiramente, nos chama atenção, pra também nós nos perguntarmos: ‘como é a nossa vivência no templo?’

O povo de Israel tinha o templo como um lugar sagrado, o lugar onde Deus habitava, o lugar onde Deus transmitia a Sua palavra. E assim, os primeiros cristãos, depois de se reunirem em suas casas, depois de terem a possibilidade de professar sua fé, publicamente, a partir do século IV, começam também a construir seus templos, como lugares privilegiados da ação de Deus. Não como lugares específicos e únicos, onde Deus habita, porque Deus continua agindo no mundo, e agirá sempre.  É um lugar sagrado, que é o do encontro com Ele, da escuta da Sua palavra, o lugar onde eu e você podemos abrir o nosso coração, dizer a Ele o que estamos sentindo, o que estamos pensando, o que estamos necessitando. É preciso, meus irmãos, que tomemos muito cuidado para não descaracterizar a casa de Deus. Não transformar a casa de Deus em mais um lugar onde batemos papo, onde nos encontramos e tiramos fotos, e está tudo bem… É preciso que nós, ao cruzarmos as portas e entrarmos na igreja, nos lembremos: eu estou na casa de Deus. Eu vim aqui para escutá-lO e para falar com Ele. Falar entre nós, temos inúmeras opções. A igreja é o lugar privilegiado, do encontro com o Senhor da nossa vida.

Ao mesmo tempo, precisamos recordar, como dizia o próprio Jesus, que Ele era o templo, onde Deus habitava, onde Deus falava à multidão. Lembrarmos também, de que nós somos os novos templos! Será que esquecemos que somos templo de Deus? Paulo, escrevendo aos Coríntios (1Cor 6,19), pergunta-lhes: “Acaso ignorais que vossos corpos são templos do Espírito Santo?” Será que nós ignoramos que o Deus que amamos, que buscamos, aquele Deus que, aparentemente, está longe, lá no alto dos céus, está aqui dentro, no mais íntimo de nós? Não precisamos procurar fora, Ele está aqui dentro, eu e você somos templos ambulantes de Deus, e por isso, precisamos levá-lO a todos os ambientes por onde passarmos, como sinais da presença do próprio Deus. Como Jesus levava, nós também precisamos levá-lO, nós também precisamos nos tornar templos de Deus, dentro de casa, no trabalho, no meio da rua… Aí, tantos homens e mulheres poderiam se encontrar com Deus, ao se encontrarem comigo e com você.

Que estas palavras encontrem abrigo em seus corações, que a palavra seja plantada e enraizada no terreno da nossa vida. Que a palavra de hoje produza muitos frutos em cada um de nós! Que a palavra de hoje nos ajude a recordar que somos templos de Deus. Que nós temos um templo onde Deus habita! Que a palavra nos ajude a reconhecer que temos um Deus que é Pai, e que porque nos ama nos oferece esta mesma palavra, para que vivamos eternamente.

Digamos, com Pedro e como Pedro, “Senhor, só Tu tens palavras de vida eterna!”

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