Irmãs e irmãs muito queridos,
Para quem vem de SP, pela Via Dutra, a Basílica se esconde atrás de pequenas colinas tão comuns naquelas paragens. O viajante quase não percebe que chegou, a não ser quando realmente chegou. Mas para quem chega do Estado do Rio, de longe é possível perceber a silhueta majestosa da Basílica Nacional. Não há montes que a esconda da vista. E assim, aos poucos, todo o corpo do Santuário vai se firmando diante dos olhos como um convite a saudar a Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus, Senhora Aparecida, mil vezes admirável.
E foi o que aconteceu comigo desta nova vez em que estive lá. Um encontro de irmãos de todas as idades e de muitas cidades na cidade da Rainha e Padroeira do Brasil.
Entre os dias 15 a 24 de abril realizou-se, em Aparecida, mais uma Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Éramos aproximadamente 350 bispos de todas as regiões, irmãos entre irmãos. O clima, nem preciso dizer, foi de excelente fraternidade e busca de comunhão, o clima propício para encontrarmos os melhores caminhos de evangelização para a Igreja no Brasil. Estive presente com os outros irmãos no episcopado, demonstrando a nossa comunhão eclesial efetiva e afetiva, tratando assuntos importantes para a Igreja no Brasil. Acredito que todas as orações do país inteiro, naqueles dias, estiveram direcionadas na direção da pequena cidade de Aparecida. Sentimos viva a presença do Espírito Santo de Deus, congregando o corpo vivo da Igreja, corpo Místico e itinerante de Cristo.
Todos os dias, durante a Assembleia, os Bispos celebraram a Santa Missa, rezaram em comum o Ofício Divino, nas intenções do seu povo.
O tema central sobre o qual nos dedicamos na primeira semana foi a revisão e a atualização das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para o próximo quadriênio – 2015 a 2019. O tema prioritário, o documento de estudos sobre “Os cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade”, foi enriquecido com as propostas dos Bispos. Também houve a apresentação sobre os 300 anos do Encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida e o projeto 300 anos de bênçãos.
Na tarde de sábado e manhã de domingo, segundo os Estatutos, tivemos um dia de espiritualidade.
Na segunda-feira, dia 20, começaram as eleições para a Presidência da CNBB. Foram eleitos, para Presidente, dom Sérgio da Rocha – Arcebispo de Brasília, DF; para Vice-presidente, Dom Murilo S. Ramos Krieger – Arcebispo de Salvador, BA; para Secretário foi reeleito Dom Leonardo Ulrich Steiner – Bispo Auxiliar de Brasília. Também foram eleitos os Presidentes das 12 Comissões Episcopais de Pastoral, e os 6 Bispos representantes da Conferência para o Sínodo da Família, em outubro, em Roma. A pauta da Assembleia já é extensa, e quando ocorrem as eleições ela se torna ainda mais trabalhosa.
A Assembleia aprovou uma Mensagem da Conferência para os Consagrados por ocasião do Ano da Vida Consagrada, e outra para os Diáconos Permanentes por ocasião dos 50 anos da restauração do Diaconato Permanente no Concílio Vaticano II. Houve uma bonita sessão comemorativa e orante, com participação ecumênica, para recordar os 50 anos do Concílio.
As diversas comissões episcopais apresentaram seus relatórios sobre as atividades realizadas. Apresentamos uma nota sobre o momento nacional. Também foi discutido o Projeto de Reforma Política, que nem é da CNBB nem de nenhum partido político, mas de várias entidades da sociedade civil, que apresentam e representam propostas da sociedade pela Reforma Política Democrática, um projeto de lei de iniciativa popular sem vínculo partidário.
Nessas ocasiões, sempre escutamos, aqui e ali, uma pergunta, às vezes, um sussurro em forma de reclamação. Afinal, por que a Igreja trata também de política e assuntos não eclesiásticos? Acredito que uma resposta pode ser dada pelo papa, hoje emérito, Bento XVI, quando escreveu sua primeira Encíclica. “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política… não pode nem deve se colocar no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça… não poderá firmar-se nem prosperar” (Deus caritas est, 28).
Para a doutrina social da Igreja, mesmo antes de Leão XIII e a inigualável Encíclica Rerum novarum, a política sempre significou uma forma e cuidado. A política é “uma prudente solicitude pelo bem comum” (Laborem exercens, 20). A Igreja, sempre a serviço do Reino de Deus, anuncia o Evangelho e seus valores. Ela “não se confunde com a comunidade política nem está ligada a nenhum sistema político” (Gaudium et spes, 76). Mas os cristãos participam na vida pública como cidadãos. “Os fiéis leigos não podem de maneira nenhuma abdicar de participar na política, ou seja, na multíplice e variada ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover de forma orgânica e institucional o bem comum” (Christifideles laici, 42).
O papa, hoje emérito, Bento XVI, no discurso de inauguração do CELAM deixou claro que “este trabalho político não é competência imediata da Igreja. O respeito de uma sã laicidade – até mesmo com a pluralidade das posições políticas – é essencial na tradição cristã autêntica. … A Igreja é advogada da justiça e dos pobres, precisamente ao não identificar-se com os políticos nem com os interesses de partido. Só sendo independente pode ensinar os grandes critérios e os valores irrevogáveis, orientar as consciências e oferecer uma opção de vida que vai além do âmbito político” (Aparecida, 13-5-2007).
Quantas e quantas vezes o Papa Francisco tem nos ensinado a crer com as mãos, lá, justamente, lá onde elas são necessárias! Nesse sentido, abordamos também o Ano da Paz, o Ano Santo da Misericórdia, a realidade da Amazônia e dos povos indígenas. Crer com as mãos! Crer com o coração! Com os joelhos! Com todo o ser e o agir!
A Assembleia encerrou-se com a celebração de posse da nova Presidência.
Agradecemos a todos que nos acompanharam e rezaram por nós e conosco, através dos meios de comunicação.
Peçamos ao Deus Onipotente e Bom, e seu Filho Jesus Cristo, na luz do Espírito Santo, a graça para colocarmos em prática, em nossas realidades, tudo o que foi sugerido nesta 53a. Assembleia. Peçamos à Virgem-Mãe Aparecida, Senhora desses povos tão sofridos, que oriente e conduza sempre nossos passos na direção da construção do Reino de Deus.
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói