“Que alegria quando ouvi que me disseram: Vamos à Casa do Senhor. Eis, então, que nossos passos se detêm, às tuas portas, ó Jerusalém!” (Salmo 122).
Na primeira semana do mês de maio, vivendo o Ano da Fé, recebi uma graça especial de Deus: acompanhei um grupo de peregrinos à Terra Santa. Éramos 45 pessoas. Fomos conduzidos por um simpático guia judeu, chamado Uri. Era muito interessante e sugestivo ouvi-lo falando de Jesus. Imaginem: era um filho do judaísmo falando de Jesus! Havia calor na sua voz.
Começamos visitando Jaffa, conhecida na Bíblia como Jope. Depois fomos à Cesareia Marítima – capital dos Governadores Romanos – e prosseguimos ao Monte Carmelo, local onde o profeta Elias experimentou Deus na brisa suave. Lá celebramos a Eucaristia no Mosteiro Carmelita. Fomos depois a São João do Acre, onde visitamos uma impressionante fortaleza dos Cruzados. Hospedamo-nos em Tiberíades.
No segundo dia começamos com um passeio de barco no Lago de Genesaré – Mar de Tiberíades ou da Galileia. Às margens do Lago de Genesaré visitamos os locais onde Jesus fez milagres: as ruínas de Cafarnaum, a casa da sogra de Pedro, o local da multiplicação dos pães e onde Jesus conferiu o primado ao Apóstolo Pedro.
Em seguida, dirigimo-nos ao Monte das Bem Aventuranças para celebrar a Eucaristia. Na parte da tarde, fomos à Nazaré, esse, sim, um lugar rico e impressionante de fatos e de lembranças. Nazaré é o lugar concreto de nosso planeta onde o Verbo de Deus se encarnou. Não há como não se sentir tocado num lugar assim. Lá visitamos a sinagoga onde Jesus pregou aos seus conterrâneos, depois a Basílica da Anunciação e a igreja de São José. De Nazaré dirigimo-nos para Caná, lugar do primeiro milagre de Jesus. Em Caná, os casais peregrinos renovaram suas promessas matrimoniais.
O terceiro dia começou com a Eucaristia no Monte Tabor ou da transfiguração. Depois visitamos as ruínas do Mosteiro de Qumram, em pleno deserto, onde viveram os essênios, uma espécie de monges do judaísmo, copistas de textos sagrados. Acredita-se que João Batista viveu durante um tempo naquele lugar. No século passado, próximo a Qumram foram encontrados manuscritos de 39 livros da Sagrada Escritura. Essa descoberta veio confirmar a autenticidade dos livros. Em seguida, às margens do Rio Jordão, onde João Batista batizou Jesus, renovamos nossas promessas batismais. De lá, fomos para Jericó, a cidade “mais antiga” do mundo, construída no deserto. Aprendemos que tudo de bom que nasce e cresce em meio ao sofrimento, e permanece. Depois visitamos o Mar Morto, onde deságua o Jordão. Neste mar, mesmo quem não sabe nadar consegue flutuar nas águas por causa da densidade salina. De lá, fomos nos hospedar na Cidade Santa de Jerusalém. A chegada foi emocionante, como a do salmista que cantou e como cantamos no início: “Que alegria quando ouvi que me disseram, vamos à Casa do Senhor!”
No quarto dia, em Jerusalém, visitamos o Monte das Oliveiras, o lugar da Ascensão de Jesus, o lugar onde Ele ensinou o Pai Nosso, o local onde ele chorou ao ver a resistência de Jerusalém em acolher sua mensagem, o Jardim do Getsemani onde Jesus suou sangue, o Cenáculo, o local da negação de Pedro e a igreja da Dormição de Nossa Senhora. Na cidade de Ein Karem, próxima de Jerusalém, na parte da tarde, fomos ao local da visitação de Nossa Senhora a Isabel e, na igreja do nascimento de São João Batista, celebramos a Eucaristia.
O quinto dia foi forte para nossa experiência de fé. Em Belém, iniciamos o dia celebrando a Eucaristia na gruta “onde”, supostamente, os pastores estavam quando receberam a boa notícia do nascimento do Salvador. Visitamos a igreja da Natividade, construída onde Jesus nasceu. De volta a Jerusalém, visitamos as ruínas da Piscina de Betesda, onde Jesus curou o paralítico. Depois fomos à casa de Caifás, onde Jesus foi condenado por um tribunal religioso, e a casa de Pilatos, onde Jesus recebeu a condenação civil. Acompanhamos os passos de Jesus com a oração da Via-Sacra e chegamos à igreja do Santo Sepulcro, onde ele foi crucificado, deposto da cruz e sepultado. Beijar a pedra onde o corpo de Jesus foi sepultado, tocar no lugar onde sua cruz foi cravada e onde seu corpo foi preparado para a sepultura marcou de modo profundo nossas almas.
No sexto e último dia, celebramos a Eucaristia em Betfagé, onde Jesus, montado num jumentinho, iniciou sua última caminhada para Jerusalém. Depois visitamos a maquete gigante da cidade Jerusalém do tempo de Jesus. A seguir fomos ao Museu do Livro, onde se encontram as cópias dos textos do Antigo Testamento encontrados em Qumram. Visitamos também o Museu do Holocausto, em memória dos seis milhões de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial. Por fim, fomos ao Muro das Lamentações, onde tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais da cultura judaica, além de poder rezar pelos pecados do mundo.
No Ano da Fé, visitar a Terra Santa foi uma graça de Deus. Graça maior é viver o que lá se aprende. Serão lembranças que nunca mais se apagarão da mente, sentimentos que durarão para sempre em nossas almas. “Que alegria quando ouvi que me disseram: Vamos à Casa do Senhor. Eis, então, que nossos passos se detêm, às tuas portas, ó Jerusalém!” É com essas mesmas palavras do salmista que quero terminar esse pequeno Diário de um Peregrino, com a alma mais plena para o serviço que me espera junto aos irmãos.
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói