Em entrevista ao programa Niterói na Catedral do sábado dia 13 de agosto, o padre José Otacio Oliveira Guedes, contou um pouco sobre a sua história e vocação. O sacerdote, desde outubro de 2020, é o reitor do Pontifício Colégio Brasileiro de Roma.
Ouça e leia a íntegra da entrevista:
João Dias – Padre José Otacio, conte um pouco sobre a sua história.
Padre José Otacio Oliveira Guedes – A escolha do nome foi feita pelo meu pai, seu Adão de Souza. Pelo que sei, por influência de um seu amigo “Paulo de Tarso”. Todos os filhos têm o nome de “José”. Sou mineiro, de São Sebastião do Maranhão, nascido em 26/02/1974, em uma família católica e numerosa: somos sete filhos. Quando tinha três anos de idade mudamos para o interior de Linhares, no Espírito Santo. Cresci na agricultura e com intensa experiência religiosa: participando das celebrações dominicais da Palavra e dos Círculos Bíblicos; a presença do padre na comunidade era somente três vezes por ano. Um fator importante foi o incentivo de meus pais para que estudasse. Ademais, sempre gostei de estudar. Para estudar precisava morar na casa de famílias amigas de meus pais, na cidade; somente a cada quinze dias ia pra casa dos pais. Assim transcorreu o tempo até os 16 anos, quando entrei para o seminário, em 1991.
Diácono Nélio do Amparo – Padre fale um pouco sobre a sua vocação.
Padre José Otacio – Sobre a vocação, há alguns fatores que ajudaram no discernimento. Antes de tudo, minha família, particularmente minha mãe, dona Lira, que sempre foi de grande sensibilidade religiosa. Outro fator, foi ter um tio padre, o Mons. Guedes. Lembro de duas de suas visitas à nossa casa: em 1978, para batizar minha irmã, a Maria Lúcia, e em 1986, para as bodas de prata dos meus pais. A decisão de ser padre veio com a visita do neo-sacerdote, o padre Fausto, em janeiro de 1989, quando eu ainda não tinha completado quinze anos. Ele jogava bola conosco – o que sempre foi uma minha paixão – e à noite celebrava a Santa Missa na casa de meus pais, onde estava hospedado. Ele pediu para eu ajudar na Missa como coroinha. Entre futebol e Missas, entrei na fila da confissão. Quando terminei de me confessar, disse: “padre Fausto, eu quero ser padre também”. Ele me perguntou: “moço, já falou com seus pais?”. Não tinha falado; aliás, não tinha falado nem pra mim mesmo. Foi algo que veio como uma luz que entra em uma janela que se abre. Dali vieram os contatos com o tio padre e minha entrada no seminário, em Niterói, em 1991. A entrada foi adiada por prudência do meu tio, que aguardou um melhor discernimento. Da minha parte, eu estava seguro do que queria.
João Dias – Padre como o senhor analisa a vocação ao sacerdócio no mundo atual?
Padre José Otacio – A vocação sempre será um mistério. Deus continua chamando trabalhadores para a sua Messe. As circunstâncias atuais não facilitam nem a escuta nem a resposta. A escuta exige proximidade com Aquele que chama e também atenção a Ele. Quanto à resposta, há muitos fatores que podem dificultar: as muitas ofertas de “vida gostosa”, a indecisão diante da exigência do sim a ser dado e a falta de visão de fé. Nossos tempos são marcados por mudanças rápidas; é difícil uma leitura total dos tantos elementos condicionantes. De qualquer forma, temos de uma lado a vocação que exige resposta total, de outro, temos sujeitos que vivem em contexto dispersivos que os enfraquecem. A capacidade de escuta do chamado e resposta está afetada por muitos rumores. O que fazer? Criar ambientes de ajuste na capacidade de escuta atenta e resposta generosa. A vocação sacerdotal continua sendo luminosa e apaixonante. Pode ser também que não estejamos conseguindo fazê-la chegar assim nos destinatários, os jovens. Esse é outro fator: queremos “dourar a pílula”, amenizar as exigências para atrair. Não me parece boa estratégia. Jesus chamava para segui-lo “deixando tudo”. De qualquer forma, a vocação ao sacerdócio mantém sua capacidade de dar sentido a uma existência. É preciso a aventura da aposta em “perder para ganhar”, em deixar tudo pelo tesouro encontrado.
Diácono Nélio do Amparo – Padre dirija algumas palavras aos jovens.
Padre José Otacio – Quais palavras aos jovens? Sejam generosos com Jesus, que deu a vida por vocês! Vivam as coisas que passam buscando as que não passam. Se inspirem nos Santos, eles são nossos heróis. Aceitem viver “na ferida” dos nossos tempos; a cura vem da Páscoa de Jesus. Não se queixem onde o que se requer é sua contribuição. Nada, senão Deus, é perfeito. Pegue a tradição e vá em frente, aceitando os desafios de fazer coisas melhores, de fazer o Reino de Deus presente no mundo ferido. Se errar, não desanime, vá em frente, vá para a meta que é Cristo Jesus!
João Dias – Padre agradeço muito a sua entrevista em nome de toda equipe do SECOM, e para encerrar gostaria de uma mensagem aos ouvintes.
Padre José Otacio – Aos leitores, sejamos sinais de amor onde estamos plantados. Deus nos coloca uns ao lado dos outros para nos ajudarmos. Somos providência de Deus para os irmãos e eles são sinais do cuidado de Deus para conosco. Vivamos a comunhão como Igreja, acolhendo-nos e amando como Cristo nos acolheu e amou. Vivamos nossa vocação de artesãos da unidade, buscando o bem de todos, particularmente dos mais frágeis, tratando-os com amizade e respeito pela dignidade dada pelo Criador.
Por João Dias
Foto: Arquivo pessoal do padre Otacio
Áudo: Rádio Catedral FM