O Papa Francisco recebeu na manhã desta quinta-feira (23), na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de 350 participantes de um encontro promovido pela Pontifícia Academia Mariana, conhecida como PAMI, por ocasião dos 30 anos de criação da Direção de Investigação Antimáfia (DIA), “um trabalho a serviço do povo”, disse o Pontífice. De fato, a própria organização pontifícia internacional encarregada de promover a mariologia, também trabalha com um departamento ad hoc para estudar fenômenos criminosos e mafiosos, evitando instrumentalizar a figura de Nossa Senhora pelos chefes e clãs criminosos presentes na Itália.
Em discurso, o Papa manifestou o seu agradecimento pela construção de um trabalho comum, que ele chamou de “casas” com um objetivo comum, para difundir a “cultura de legalidade, do respeito e da segurança das pessoas e do meio ambiente”:
“Todos vocês estão ativamente envolvidos na construção dessas ‘casas’: elas agem como anticorpos leves e fortes contra interesses já instalados, da corrupção, da ganância, da violência, que são o DNA das organizações mafiosas e criminosas. As máfias vencem quando o medo toma conta da vida, razão pela qual elas tomam conta das mentes e dos corações, despojando as pessoas de sua dignidade e liberdade. Vocês que estão aqui, trabalhem para garantir que o medo não possa vencer: vocês são, portanto, um apoio à mudança, um lampejo de luz em meio à escuridão, um testemunho de liberdade. Eu os encorajo a continuar neste caminho: sejam fortes e levem esperança, especialmente entre os mais fracos.”
Os escravos modernos das máfias
Justamente quando acaba faltando segurança e legalidade, continuou o Papa, “os primeiros a serem prejudicados são, na verdade, os mais frágeis e todos aqueles que, de várias maneiras, podem ser chamados de ‘últimos'”.
Francisco, assim, falou da importância de se “resistir ao colonialismo cultural mafioso”, através de pesquisas, estudos e atividades de formação para promover “o progresso civil, social e ambiental” que “não provém da corrupção e do privilégio, mas sim da justiça, da liberdade, da honestidade e da solidariedade”. O Pontífice enalteceu o trabalho dos envolvidos, “delicado e arriscado”, encorajando a continuar com entusiasmo nesse caminho, “apesar da presença no tecido social – e até no eclesial”, de realidades que não tomam “distância de antigas, errôneas e até imorais formas de agir”:
“O pensamento mafioso entra como se fizesse uma colonização cultural, a ponto que se tornar mafioso faz parte da cultura, como se fosse o caminho a se seguir. Não! Isso não. Esse é um caminho de escravidão. O trabalho de vocês é tão grande para evitar isso: obrigado! […] É necessário que todos, em todos os níveis, avancem decisivamente no caminho da justiça e da honestidade. E onde houve conivência e opacidade, as causas devem ser estudadas, deixando um espaço justo para uma ‘vergonha’ saudável, sem a qual a mudança não é possível e a colaboração mútua para o bem comum continua sendo uma quimera.”
Por fim, o Papa novamente agradeceu a missão em promoção à cultura da legalidade, pedindo para não se cansarem de ficar ao lado das pessoas, “com ternura e compaixão”:
“Tornem-se sempre mais promotores desse amor pelo povo, por suas vidas e por seu futuro, que representa a síntese dos seus próprios ideais, sabendo que esse amor é capaz de gerar novas relações e de dar vida a uma ordem mais justa através de ‘casas’ e ‘famílias’ animadas pelo fermento da igualdade, da justiça e da fraternidade.”
Por Andressa Collet – Vatican News
Foto: Arquivo – Vatican Media