“O serviço da verdade sempre esteve em primeiro lugar” para Bento XVI, que jamais “procurou esconder o que podia ser doloroso de reconhecer para a Igreja” e jamais “procurou dar uma bela imagem falsa da realidade da Igreja ou do que ocorreu”. O padre Federico Lombardi aproveita sua experiência pessoal como um dos colaboradores mais próximos de Joseph Ratzinger para destacar ainda mais a “sinceridade” que anima a carta redigida em 6 de fevereiro e publicada nesta terça-feira pelo Papa emérito sobre o flagelo da pedofilia clerical. A carta chega após uma leitura completa do relatório sobre abusos na arquidiocese de Munique e Freising, que acusa o Pontífice emérito de alguns erros de gestão. Estas páginas, comenta à mídia vaticana o atual presidente da “Fundação vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI”, são o fruto de “um tempo profundo, doloroso, mas de exame sincero diante de Deus”. O texto publicado nesta terça-feira é marcante por “sua sinceridade, sua intensidade e sua profundidade”, até porque revela a condição atual de Bento: “Uma pessoa idosa que sabe que está caminhando para o encontro com o Senhor e, portanto, para o julgamento de Deus”.
De “grande intensidade”, segundo o Padre Federico Lombardi, é também o fato de Ratzinger “realizar esta sua reflexão penitencial diante das próprias vítimas de abusos; ele evoca os encontros que teve com as vítimas e o conhecimento cada vez mais profundo da gravidade do sofrimento das vítimas e das consequências que estes abusos têm”. E “ele manifesta, com grande sinceridade e de forma explícita, vergonha, dor, um sincero pedido de perdão”.
O padre Lombardi entra então no mérito das acusações feitas contra Bento XVI de ter mentido sobre sua participação na reunião de janeiro de 1980, na qual foi decidido acolher um padre abusador na diocese de Munique. O Papa emérito – que inicialmente alegou não estar presente na reunião e depois corrigiu este “erro” – “sofreu” com a acusação de “ser um mentiroso, de ter mentido conscientemente sobre situações concretas”. “Não só isso, mas também ao longo do Relatório as acusações são de ter conscientemente encoberto abusadores, e de ter assim tido falta de cuidado e desrespeito pelo sofrimento das vítimas”.
É uma acusação que causou “grande sofrimento” ao próprio Ratzinger, mas também ao padre Federico Lombardi que, como seu colaborador muito próximo por muitos anos, recorda aquele desejo de verdade que sempre animou cada ação ou palavra do Pontífice bávaro: “Acredito absolutamente que não se pode duvidar de forma alguma de sua veracidade”.
Da carta, diz o padre Lombardi, surge um forte pedido de perdão diante de uma gravíssima realidade, diante da qual é preciso “purificar-se e comprometer-se com todas as forças para mudar atitudes e ser mais fiéis às exigências do Evangelho”. É “uma atitude penitencial” que o Papa emérito mostra, “muito profunda e muito sincera”, que representa “um grande testemunho cristão” para a Igreja de hoje.
Por Salvatore Cernuzio – Vatican News
Foto: Vatican News