A mãe de Jesus estava presente. Também Jesus e seus discípulos foram convidados para o casamento. Celebrando este domingo, precisamos, todos nós, deixar que essa Palavra que acabamos de escutar seja verdadeiramente, luz para os nossos passos! Luz, que ilumina e que nos convida, talvez a mudar um pouco a rota, a mudar um pouco o caminho que estamos fazendo. Ou mudar o caminho ou mudar a forma de caminhar.
Poderíamos dizer, queridos irmãos, que essa Palavra que nós escutamos cabe, perfeitamente, neste caminho que a nossa Igreja está fazendo através do sínodo, convocado pelo Papa Francisco, que nos chama a uma experiência de uma Igreja sinodal, através da comunhão, da participação e da missão.
O evangelho de hoje (Jo 2,1-11) narra para nós um casamento. Na verdade, o evangelho narra o casamento da humanidade com o próprio Deus. Na verdade, o evangelho hoje narra a nossa comunhão com o próprio Deus. Quando nós ouvimos São João relatando esta festa de casamento, poderíamos dizer que é a festa do casamento entre Deus e toda a humanidade, fazendo com que essa humanidade se torne sua esposa, a sua amada, como ouvimos na primeira leitura do profeta Isaías (Is 62,1-5).
Mas é preciso que hoje também, deixemos que essa Palavra ilumine a nossa vida como família. A nossa vida não apenas como família, dentro das nossas casas, mas ilumine também a nossa família como comunidade paroquial, como pastoral, todos nós fazemos uma experiência de família, e a primeira coisa que precisamos aprender a fazer, com o evangelho de hoje, é aprender a convidar o Senhor para dentro da nossa casa, para dentro da nossa vida. Em alguns momentos, parece que o Senhor está sempre fora. Parece que nós precisamos procurá-lo, invocá-lo. Parece que nós precisamos encontrar onde o Senhor está. O evangelho de hoje diz que Jesus foi convidado para essa festa de casamento. Nós também, podemos e devemos convidá-lo para nossa casa, para nossa vida. Dizer pra Ele, ‘Senhor, entra, Senhor, seja bem-vindo! Senhor, faça parte da minha vida, da vida da minha família’.
Mas não apenas Ele foi convidado. O evangelho diz que também os seus discípulos, como imagem da Igreja, como imagem da comunidade, dos seguidores de Jesus! E São João diz, a mãe de Jesus também estava presente, para nos lembrar que ela sempre, como a mãe de Jesus, estará com Ele. Ela sempre nos acompanhará. E como é bom sabermos que ela está ao nosso lado. Como é bom saber que a nossa mãe sempre estará conosco, porque nós sabemos o quanto é confortante ter a mãe junto de si.
E quando nós, por exemplo, caíamos nos machucávamos, passávamos alguma coisa, alguma dificuldade, era quase que instantâneo, gritarmos pela nossa mãe. Imediatamente, ela se colocava ao nosso lado. Parece que só a sua presença já nos confortava, parecia que a sua presença já era curativa para nós.
E assim é a presença da Virgem Maria… e o evangelho diz que Maria percebe que naquela festa faltava um elemento essencial. Numa festa de casamento, faltar vinho é faltar alegria, faltar o sentido, é faltar, na verdade, o sinal da festa.
O evangelho, meus irmãos, nos faz pensar o quanto nós também, podemos e devemos perceber o que nos falta e o que falta aos outros. Maria não passa despercebida na vida de ninguém. Maria não passa indiferente na vida dos outros. Como nós também, não podemos passar despercebidos, na vida dos outros.
Maria, talvez poderia seguir o que muitas vezes nós fazemos: faltou vinho, faltou alguma coisa? Nós até criticamos, nós até comentamos, mas nós não fazemos nada a mais. Nós ainda dizemos assim, isso não é da minha conta. Isso não é da nossa conta. Maria faz ao contrário… poderíamos dizer, Maria é uma intrometida? Não… Maria é uma comprometida! Maria se envolve. Maria se compromete. Maria participa. Maria comunga da dor daquele casal, nos convidando também, a termos essa sensibilidade, a percebermos o que falta na vida dos outros, o que falta na nossa vida, na vida da nossa família, na vida da nossa comunidade… a não sermos indiferentes, a não sermos Pilatos, que lavamos as nossas mãos, como se disséssemos, eu não quero saber disso. Maria, não. Maria se suja, se envolve, se compromete!
Mas ao mesmo tempo, o evangelho diz que Maria não realiza tudo sozinha. Maria sabe que na vida daqueles que seguem o Senhor não é um, que vai fazer tudo, não é aquilo que nós dizemos às vezes, é a “euquipe”! Não, não é equipe. Maria mostra que todos nós participamos, todos nós nos envolvemos por isso que ela vai até o servente e diz: “Fazei o que Ele vos disser!” Na verdade, Maria é aquela que aponta e convida os serventes a fazer o que Jesus mandar. E Jesus, então, manda: “enchei as talhas com água”.
É preciso que nós também aprendamos que nem tudo nós vamos fazer. Na nossa casa, nem tudo somos nós. É uma tentação, sem querer ser preconceituoso, e as mulheres sofrem mais, essa tentação do faz tudo. A mulher ainda diz, ‘aqui sou eu que faço tudo, padre, até trocar a lâmpada, sou eu que troco’. Mas deixa eu dizer uma coisa, se você morrer hoje, amanhã sua família vai continuar, mesmo sem você! Aprendamos a reconhecer que nós não podemos fazer tudo, que nós não devemos fazer tudo, nem na igreja, nem em nossas casas. É o que Maria, hoje nos ensina, a envolver-se e a envolver os outros, na missão.
E assim, Jesus faz o milagre. Agora, meus irmãos, os detalhes do evangelho. Quando Jesus manda esses homens encherem as talhas com água, nós poderíamos dizer, ‘isso era o mínimo que eles poderiam fazer. Na verdade, aquelas talhas ficavam cheias na porta, para as pessoas se purificarem e depois entrarem na festa! Mas era um sinal pedagógico-catequético pra nós, para nos lembrar que os milagres na nossa vida não caem, completamente, do céu, mas que dependem de nós. Somos nós quem enchemos as talhas, somos nós que fazemos a nossa parte. Depois, o Senhor faz a dele. Como na ressurreição de Lázaro, quando Jesus disse: “tirai a pedra”, e depois, Ele diz “Lázaro, vem para fora”! (Jo 11, 39.43)
Aquele que ressuscitou Lázaro não poderia acabar com aquela pedra, não poderia explodir a pedra, não podia remover a pedra? Podia, mas faz com que todos participem da obra, do milagre, até Ele que é o Senhor! Hoje Ele também nos diz: “Enchei as talhas com água. Façam a parte de vocês e eu vou fazer a minha”. E o milagre acontece. E o que eles recebem é o vinho bom, é o vinho melhor, porque quando o Senhor entra na nossa vida, quando o Senhor providencia o que precisamos é sempre o melhor. Eu e você só podemos providenciar água, mas Ele sempre providenciará o vinho melhor pra nossa vida.
Que possamos hoje, iluminados por essa palavra, vivenciando o ano da família convocado pelo Papa Francisco, que nós também façamos a experiência da família dos filhos de Deus, que, como Maria, nós também sejamos capazes de passar na vida dos outros, percebendo o que lhes falta e pedindo também ao Senhor, que providencie o vinho melhor, providencie para nós e para os outros.
O que mais necessitamos e que possamos hoje nos perguntar, iluminados por essa palavra? Qual o vinho que está faltando na nossa vida? O que falta na nossa casa? O que falta na nossa pastoral? O que falta na nossa paróquia? E deixemos que esse Espírito que Paulo demonstrava, na segunda leitura (1Cor 12,4-11), se manifeste em cada um de nós, e se manifeste em cada um de nós, para o bem de todos. Deixemos que a nossa vida seja sempre guiada pelo Espírito Santo de Deus. E que assim possamos também, passar na vida de tantos, como Maria, dizer a Jesus, “Senhor, eles não têm mais vinho.”
Senhor, eu também não tenho mais vinho…
Arte: Thiago Maia