Ao escutarmos estas palavras dirigidas pelo Pai a Jesus, deveríamos acolher como palavras dirigidas a nós. Neste exato momento da nossa vida, nós somos convidados a ouvir, novamente, o Pai que nos diz: “Tu és meu filho amado. Tu és minha filha amada”. É preciso que nós hoje, deixemos que essa palavra realmente caia em nossos corações, caia em nossa vida, como uma palavra que nos renova. Nós não podemos, meus irmãos, viver a nossa vida sem nos darmos conta de que nós somos filhos de Deus. Muitas vezes, nós vivemos talvez, como aquele caminhoneiro, que coloca no para-choque do seu caminhão: ‘eu não sou dono do mundo, mas sou filho do dono’, como uma coisa automática, ou quase como se fosse um amuleto que eu penduro na porta da minha casa. Eu e você, não. Eu e você somos chamados a reconhecer que o Pai nos ama, a reconhecer que Deus é o nosso Pai. As palavras que o Senhor hoje dirige a Jesus, não são apenas palavras para Ele, palavras para nós, nós hoje podemos escutar o Pai que faz ressoar em nosso ouvido: “Tu és o meu filho amado”.
O que isso significa para nós? Significa que sempre teremos a certeza de que o Pai, que é Deus, cuida de nós, nos conduz ao longo da nossa vida. Mas hoje, podemos dizer que essas palavras são pronunciadas todos os dias, para cada um de nós, porque um dia, como Jesus, nós também fomos batizados; um dia, graças aos nossos pais, aos nossos padrinhos, ou talvez aos nossos catequistas, nós entramos na igreja para sermos batizados. E a partir daquele dia, o Pai nos tomou para si. A partir daquele dia, o Pai nos fez Seus filhos.
Mas hoje, ao olharmos o evangelho (Lc 3,15-16.21-22), precisamos também aprender. O que significa, para nós, ser batizado? O que significa, para nós, trazer uma criança para ser batizada? Nós a levamos, porque já faz parte da nossa família… todo mundo foi batizado, e agora a nova criança, que nasce, também o será? Nós trazemos para ser batizada uma criança, porque ela não está dormindo direito? Por que trazemos uma criança para ser batizada? Por que entramos na igreja e pedimos o batismo? Porque nós queríamos, e porque nós queremos acolher a graça de Deus na nossa vida. Por isso que nós somos batizados, e é por isso, que vivemos o nosso batismo, porque temos a certeza de que Deus nos fez seus filhos.
Mas o evangelho de hoje traz para nós também um outro dado importante para a nossa vida de fé. Nem eu, nem você fomos batizados por conta própria. Mesmo que nós tenhamos pedido o nosso batismo, foi alguém que fez essa mediação. E a figura que o evangelho nos apresenta é a figura de João Batista. Hoje, nós precisamos agradecer, porque também por conta de um João Batista, nós fomos batizados… por conta de nossos pais, ou por conta de nossos padrinhos, ou por conta de um catequista… alguém foi João Batista na nossa vida. Alguém nos introduziu nas águas batismais.
Mas é preciso que também nós, hoje, nos lembremos de que todos nós somos chamados a nos tornar João Batista, somos chamados a levar tantos outros para o encontro com o Senhor. E é preciso que nós, como João Batista, tenhamos a consciência de que não somos dignos nem de desatar a correia das Suas sandálias, porque é Ele o centro.
Muitas vezes, meus irmãos, na nossa caminhada de fé, na nossa caminhada de Igreja, nós esquecemos que o centro é o Senhor, não somos nós. João Batista tinha consciência clara de que as pessoas precisavam ir até Jesus, não até ele. Ele era apenas a mediação. Às vezes, na nossa vida de fé, na nossa vida de comunidade, nos esquecemos disso, e parece que somos o centro, porque temos uma função, porque temos uma atividade na Igreja, porque nós somos o padre. Nenhum de nós é o centro. Somos todos passageiros. O centro é o Senhor.
Como João Batista, hoje, nós precisamos também aprender a levar os outros até Jesus e a reconhecer que é Ele que nos batiza com o Espírito Santo. Hoje precisamos olhar para nossa vida, nos perguntarmos com muita sinceridade: será que temos consciência de que o Espírito Santo de Deus nos habita?
Um dia, o Espírito Santo passou a habitar a nossa vida. Será que nós nos lembramos disso, a cada dia que nos levantamos? Diante dos problemas que enfrentamos? Diante da nossa vida, diante do nosso trabalho? Nós nos lembramos de que Espírito Santo fez a sua morada dentro de nós? João Batista dizia “Ele vos batizará no Espírito Santo.” O que estamos deixando que o Espírito Santo faça em nós? O que estamos fazendo com o Espírito Santo que mora em nós?
Às vezes, meus irmãos, nós encontramos cristãos, ou somos esses cristãos, que parece que nem crêem no Espírito Santo, parece que nem se dão conta de que o Espírito Santo está dentro deles. Não sejamos assim, meus irmãos, sejamos ao contrário. Homens e mulheres guiados pelo Espírito Santo, como Pedro dizia, na 2ª leitura dos Atos dos Apóstolos (At 10,34-38), quando declarava que Jesus foi ungido pelo Espírito, foi guiado pelo Espírito. Eu e você também fomos ungidos. No dia do nosso batismo, no dia da nossa confirmação, fomos ungidos com óleo consagrado, para nos lembrarmos de que o Espírito estava conosco. E estará sempre, todos os dias da nossa vida.
Mas São Pedro também dizia que Ele passou por toda a parte fazendo o bem. Nós não recebemos o Espírito de Deus para fazer o mal. Nós não somos habitados pelo Espírito para sermos promotores do mal, ao contrário, o Espírito que nos habita e que nos guia, nos leva, deve nos levar a fazer o bem. Pergunte-se agora, qual o espírito que guia a sua vida. Talvez, meus irmãos, nós até podemos ter o Espírito de Deus dentro de nós, mas não é Ele que nos conduz, não é Ele que orienta nossos passos, nossas palavras, a nossa vida! Talvez, como diz Paulo no capítulo quinto da carta aos Gálatas, é o espírito da carne que nos conduz. É ele que pauta a nossa vida, é ele que nos conduz.
Hoje precisamos dar espaço, mais uma vez, e deixar que o Espírito de Deus nos conduza em todos os dias da nossa vida, para que assim, sejamos verdadeiramente, aquilo que o profeta Isaías anunciava na 1ª leitura (Is 42,1-4.6-7), quando nos mostrava sua profecia, sua palavra, que era claramente uma palavra, declarando o que seria Jesus. Precisamos hoje reconhecer, que é uma palavra também dirigida a nós.
Somos nós, homens e mulheres, criados e batizados, para ser luz, para iluminar a vida dos outros. Por isso, que no dia do nosso batismo, aquele que nos batizava, acendia a vela no círio Pascal, a entregava ao nosso pai, ao nosso padrinho e dizia: ‘Eu sou a luz do mundo’, para nos lembrarmos que a partir daquele dia, a luz de Cristo passou a brilhar em nós, para que assim, nós também, ao longo de toda a nossa vida, iluminássemos tantos que encontrássemos.
Que o Senhor hoje, nos dê a graça de reavivar, de reativar, de fazer novamente dar frutos, graças ao batismo que um dia recebemos. Que possamos hoje, agradecer a Deus, porque Ele é nosso Pai, e reconhecer que todos os dias Ele se volta pra nós e ao nos despertar para o novo dia, nós diz: Tu és meu filho amado. Em ti eu ponho meu bem-querer.
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