PADRE DOUGLAS: “Feliz és tu, se temes o Senhor e trilhas os Seus caminhos!” (Sl 127,1)

Ao longo de toda a nossa vida, buscamos e nos empenhamos, cada vez mais, para alcançar a felicidade! Todos nós a desejamos, independente da idade que temos, independente da situação social em que nos encontramos, todos nós desejamos a felicidade. Mas ao mesmo tempo em que a desejamos, nós também nos perguntamos: e como encontrá-la, como experimentá-la? Como fazer com que de fato nós sejamos felizes?

O salmo de hoje nos deu como uma resposta, uma receita para essa busca da nossa vida: “Feliz és tu, se temes o Senhor e trilhas Seus caminhos.”

A felicidade para a qual eu e você fomos criados, que buscamos ao longo da nossa vida, nunca será experimentada, verdadeiramente, se não for através desses dois caminhos: temendo o Senhor e trilhando Seus caminhos. Se nós estamos hoje aqui, é porque somos homens e mulheres tementes a Deus.

Temos, de fato, um temor reverencial, nós O respeitamos, nós O amamos, nós O servimos, nós O seguimos. Mas muitas vezes, podemos nós temer o Senhor, mas não trilhar os Seus caminhos, não seguir o Seu caminho, a Sua proposta. Queremos seguir o nosso caminho, fazer as nossas escolhas. E até pedimos que Deus nos abençoe, mas no final das contas, a decisão é sempre nossa, a escolha é sempre nossa. E muitas vezes nós nos damos conta de que fizemos as escolhas erradas. Por isso, se hoje nós queremos experimentar essa felicidade, é preciso que aprendamos que, a cada dia, devemos temer mais o Senhor e trilhar os Seus caminhos.

A liturgia deste 27º domingo do tempo comum nos apresentou, claramente, o caminho do Senhor, para a vida de um homem e de uma mulher. A liturgia de hoje parece que nos colocou diante de uma celebração de casamento, porque de fato, as leituras que escutamos traçam para nós, com toda a clareza, o que nós cremos, em relação ao sacramento do matrimônio. E é preciso que hoje, à luz dessa Palavra, todos nós nos perguntemos se o que cremos sobre o matrimônio, se o que descrevemos sobre o matrimônio condiz com a Palavra que nós escutamos, ou será que talvez nós, até perguntemos a nós mesmos, se ainda existe  matrimônio, se o matrimônio não é uma instituição do passado, do tempo da minha avó, do tempo da minha mãe! A liturgia de hoje reaviva, em nosso coração, em nossa mente, a certeza de Deus, que chama homem e mulher, para que unidos, continuem a obra da sua criação.

Foi o que ouvimos, na leitura do livro do Gênesis (Gn 2,18-24). O autor sagrado nos mostra, claramente, homem e mulher saindo do plano originário de Deus, saindo como obra de Suas mãos. Por isso, o livro do Gênesis diz: “Deus fez homem e mulher e os fez a sua imagem e semelhança, homem e mulher os criou”.

Mas o texto que ouvimos hoje, no capítulo segundo, nos mostra claramente, Deus, que percebe que não é bom que aquele homem esteja só, não é bom que aquele homem esteja sozinho, precisa de alguém que o complete, que o preencha.

E o autor nos mostra, de uma maneira não simplória, não abstrata, mas de uma maneira profundamente humana e teológica, Deus então, que dá ao homem uma obra das Suas mãos. E faz a mulher. O texto é tão significativo, que mostra Deus criando essa mulher do lado de Adão. O que no fundo o texto sagrado está dizendo? É preciso que consigamos ir ao seu sentido e percebamos que essa imagem usada pelo autor, para dizer que a mulher foi feita da costela tirada do lado de Adão é para mostrar que, na verdade, essa mulher é a resposta que esse homem buscava, de ser preenchido é um anseio do seu coração. Por isso, o homem quando contempla a mulher, diz: “essa sim, é osso dos meus ossos é carne da minha carne”.

O que Deus está mostrando é que de fato, criou homem e mulher para que se completem. Para que vivam na unidade, na comunhão, não para que vivam na rivalidade, não para que vivam na competição, um acima e outro abaixo. Exatamente o contrário, Deus coloca homem e mulher face a face, olho no olho, para dizer que são semelhantes. Porque são diferentes, homem e mulher!

Não adianta, meus irmãos, não reconhecer o dado biológico, não adianta fecharmos os nossos olhos para reconhecer que homem é homem mulher é mulher! Pode vir qualquer teoria, querendo provar o contrário do que nossos olhos estão dizendo. Mas ao mesmo tempo, porque eles são iguais e diferentes? Porque são da mesma natureza, porque são imagem de Deus mas, ao mesmo tempo, são diferentes, porque Deus cria homem e mulher.

Ao mesmo tempo, o autor sagrado diz que é preciso que esse homem ganhe uma auxiliar, para continuar a obra da criação. Talvez nós,  influenciados muitas vezes por uma leitura feminista, ou até machista, digamos, que absurdo! uma mulher auxiliar! Uma mulher escrava! uma mulher serva! nós queremos uma mulher empoderada, uma mulher que mande, uma mulher independente, mas desculpe a expressão, somos tão ignorantes, que nem percebemos que o texto bíblico, quando diz que essa mulher é auxiliar do homem, compara essa mulher ao próprio Deus, porque Deus é o auxílio do homem, tanto que rezamos no Salmo: “O nosso auxílio está no nome do Senhor, do Senhor que fez o céu e a Terra” (Sl 123,8) para que o homem, olhando a mulher, perceba que precisa dela! Para que perceba que seu coração será completo quando ela estiver dentro. Para que esse homem perceba que aquela mulher, criada por Deus, é sinal do próprio Deus na sua vida. Quando ele a recebe, ele recebe o próprio Deus, quando ele a ama, ele ama o próprio Deus!

Por isso que no evangelho (Mc 10,2-16), Jesus, questionado pelos fariseus hipócritas, percebe que o ideal de Deus havia sido corrompido. Corrompido até por Moisés. Moisés permitiu dar carta de divórcio, porque na verdade, o homem se sentia o dono da mulher.

Vejam meus irmãos,  curiosamente, nós estamos, ao longo dos séculos, vivendo a mesma briga. É preciso que nós voltemos o nosso olhar para o relato da criação, para que percebamos, o que de fato, Deus quis. Porque senão, hoje, nós vamos levantar uma bandeira que, na verdade, é simplesmente uma forma, agora, de fazer com que o homem pague pelo que fez, de uma maneira também errada, ao longo da história.

É preciso que nós consigamos dar um passo, um salto de qualidade na nossa caminhada de fé. Porque senão, nós, homens e mulheres tementes a Deus, daqui a pouco estaremos levantando bandeiras pagãs, contrárias à antropologia da nossa fé, contrárias à Palavra que acabamos de escutar.

Jesus deixa claro: o homem não separe, o homem não intervenha no que é obra de Deus, no que é criação de Deus. Ao mesmo tempo, o texto do evangelho nos mostra também, o desafio enfrentado, ainda hoje, por tantos casais, que passam pelo dor do divórcio.

Talvez, ao escutarmos esse texto, nós nos esqueçamos de que existe um divórcio muito pior. Quando muitas vezes, dentro das suas próprias casas, homem e mulher vivem aquilo que o Cardeal Cantalamessa chama o divórcio do coração. Já se separaram, já vivem distantes um do outro. E se esquecem de que Deus os fez, uma só carne!

Para que compreendamos tudo isso, para que vivamos tudo isso, para que consigamos superar uma mentalidade pagã, que está infiltrada dentro das nossas casas, caberá a nós a atitude proposta por Jesus no final do evangelho de hoje. Atitude da criança, que acolhe o Reino de Deus, que acolhe a Palavra de Deus, reconhecendo que Ele tem razão, que Ele não poderia fazer algo mau para nós, que Ele, ao contrário, sabe o que é melhor para nós!

Que superemos, da nossa vida, uma postura arrogante, autoritária, uma postura pagã e uma postura, muitas vezes farisaica que não nos deixa acolher a Palavra e viver a Palavra na radicalidade em que ela é apresentada pelo Senhor.

E que hoje, possamos dar graças a Deus, porque a maioria de nós está hoje aqui, graças a um homem e a uma mulher, que se uniram em matrimônio. Que bendigamos hoje a Deus, o dom do matrimônio, que o valorizemos! Que o defendamos, que trabalhemos por ele e que, sobretudo, não permitamos que na nossa casa, na nossa família, entre uma palavra, uma postura, que não seja condizente com o evangelho de Jesus Cristo…

porque nós cremos que felizes são aqueles que temem o Senhor e trilham os Seus caminhos!

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