Hoje, ao escutarmos essa pergunta dirigida aos seus discípulos, nós, na verdade, escutamos uma pergunta também dirigida a cada um de nós. Não é uma pergunta que ficou no passado. Ao contrário, é uma pergunta que o Senhor hoje, faz a cada um de nós.
E vós quem dizeis que eu sou? Talvez possamos pensar que seja quase uma pergunta retórica, e que responderíamos, também de uma maneira retórica, quase que espontaneamente, da boca para fora. E não nos damos conta de que estamos diante de uma pergunta central da nossa vida cristã. Responder a Jesus traz, para todos nós, consequências. Dizer, quem de fato Ele é, muda toda a nossa vida, muda toda a nossa caminhada cristã. É a partir dessa resposta, que nós vamos então pautar toda a nossa vida.
Todos nós sabemos que estamos, ao longo dessas semanas, caminhando com o Senhor, que fazia para nós e continua fazendo, uma verdadeira catequese sobre Ele e sobre a nossa vida. É por isso que hoje, é como se estivéssemos nos perguntando: depois de tudo o que vocês ouviram, depois de tudo o que vocês viram, primeiramente, olhem ao redor! Olhem as pessoas com quem vocês convivem, com quem vocês trabalham. Vejam o mundo de hoje, vejam as pessoas de hoje! O que as pessoas estão dizendo sobre mim? E depois o Senhor pergunta, agora eu quero saber de vocês!
E vocês, o que acham de mim? Quem Eu sou para vocês? e Pedro, imediatamente, dá uma resposta. Pedro reconhece que o Senhor é o Messias, que o Senhor é o centro, que o Senhor é aquele que não só ele, mas todo o seu povo aguardava. Ele é de fato o Senhor! E ao reconhecer o senhorio de Jesus, Pedro nos faz então entender, que de fato, todos nós somos chamados também a segui-lO, como centro, como o Senhor da nossa vida.
E ao escutarmos essa palavra, nós, talvez tenhamos a mesma atitude de Jesus. De certa maneira nós escutamos uma palavra que nos questiona. Uma palavra que nos motiva a fazer um caminho também de seguimento. Pedro, em nome dos discípulos, faz a sua profissão de fé. Mas curiosamente, Pedro não aceita a proposta de Jesus. Quando nós ouvimos a questão que Pedro coloca e olhamos a nossa vida, nós percebemos que temos muito a ver com Pedro.
Nós queremos seguir Jesus, mas queremos estar com Jesus, porém do nosso jeito. Nós queremos estar com Ele, mas que tudo seja da nossa vontade, a nossa maneira. De certa maneira, Jesus é importante, é óbvio, mas que Ele não atrapalhe nossa vida, que Ele não mude os nossos planos, muito menos que Ele nos proponha um caminho difícil.
Quando Jesus alerta Pedro e os discípulos de que Ele iria sofrer muito, que Ele iria ser rejeitado, que Ele iria morrer e que Ele iria ressuscitar, Pedro O repreende, como se estivesse dizendo: isso eu não quero, isso eu não quero saber, isso eu não quero seguir, isso não é o que eu estou buscando. Eu estou buscando a tranquilidade, a vitória! Eu estou buscando o Messias que nós aguardávamos, o Messias rejeitado, que morre, que é perseguido, este eu não quero.
Será que nós também não somos como Pedro? Será que nós, de fato, queremos seguir o Cristo crucificado?
Jesus precisou advertir Pedro e todos os discípulos, porque Pedro não pensava como Deus. Pedro queria seguir Jesus, de uma maneira meramente humana, como nós muitas vezes O seguimos. Nós queremos que tudo esteja do nosso jeito.
Por isso, que no final do evangelho (Mc 8,27-35), Jesus se volta para os discípulos e diz: se alguém me quer seguir, a proposta é para todos, todos nós estamos incluídos, não é uma proposta para alguns. Não é uma proposta para um grupo. É uma proposta para todos nós. E é uma proposta que nos questiona: se alguém me quer seguir, a primeira coisa que precisa fazer… renuncie a si mesmo.
Curioso, meus irmãos que quando olhamos a nossa vida, nós percebemos que uma das poucas coisas que nós queremos fazer, e temos feito, é renunciar a nós mesmos; tudo tem que ser do nosso jeito. Nós planejamos e Deus depois abençoa os nossos planos, os nossos projetos. A nossa vida, a nossa carreira, a nossa profissão. De certa maneira, é como que condicionar Deus aos nossos planos. E depois, Jesus diz, renuncie a si mesmo e tome a sua Cruz.
Quando nós olhamos a nossa vida, nós percebemos que, de fato, nós até gostamos da cruz, mas da cruz de madeira, da cruz bijuteria, que a gente pendura no pescoço, pendura no retrovisor do carro, pendura na porta da casa, quase como um amuleto para nos afastar do mau olhado. Mas a cruz da vida, a cruz do sofrimento, a cruz que bate à nossa porta todos os dias durante toda a nossa vida, essa cruz nós a queremos? Se nós não a queremos, não é possível seguir Jesus Cristo. Porque nós temos um mestre que morreu crucificado, nós temos um mestre que nos convidou a caminhar atrás dEle, carregando também a nossa cruz, reconhecendo-a, não como o fim, reconhecendo que a cruz é passagem na nossa vida, como foi na vida do próprio Senhor, e é preciso que nós também nos empenhemos para fazer esse caminho, assumindo também as nossas dores, em comunhão com Ele, como o profeta Isaías nos lembrava na primeira leitura (Is 50,5-9a), nos recordando que Deus está e estará sempre ao nosso lado, nos dando forças, nos sustentando, nos amparando, e por isso ele dizia “O Senhor Deus é meu auxiliador. Por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado”.
É a certeza que Jesus tinha e que todos nós temos, de que Deus permanece ao nosso lado, mesmo no meio das dores, porque às vezes a nossa ilusão é achar que porque estamos passando por problemas, que Deus nos abandonou. E é exatamente o contrário. É exatamente, na hora da dor, na hora do sofrimento, que nós mais contamos com Ele e mais podemos contar com Ele, porque Ele está ao nosso lado, nos sustentando, como um pai que cuida dos seus filhos. Mas um pai que quer filhos maduros. Não que quer privar os seus filhos de todos os problemas, de todos os sacrifícios. Quantas vezes nós ouvimos nossos pais dizendo, pode ir, e eles sabiam que nós talvez nos machucássemos, que nós cairíamos, mas eles estavam ao nosso lado, impediram que nós caíssemos? Muitas vezes não, quantos tombos nós tivemos na vida? Quantos tombos nossos pais permitiram que nós tivéssemos? Para crescermos.
O problema é que às vezes nós queremos seguir o Senhor como criança mimada que chora, e o pai e a mãe têm que vir, imediatamente, pra acudir, e não aprendemos a enfrentar as dores da vida, as lutas da vida, que todos nós as temos.
Que assim vivamos o que São Tiago nos propõe na segunda leitura
(Tg 2,14-19), nos fazendo reconhecer que a nossa fé se traduz na vida, se traduz nas obras. O que cremos transparece na nossa maneira de viver, nas nossas palavras, de tal maneira que a nossa fé seja percebida pelos outros, o tipo de fé e a qualidade de fé que temos irão transparecer, exatamente, na nossa maneira de viver.
Que permitamos hoje, que o Senhor nos faça, novamente o Seu convite, e que nós o aceitemos com consciência e com muita determinação.
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua Cruz e me siga.”
(Mc 8,34)