PADRE DOUGLAS – Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei! (Jo 15, 9-17)

O Senhor Jesus nos coloca diante do centro do Seu Evangelho, do centro da Sua proposta de vida pra todos nós.

O que de fato, o Senhor espera de nós? O que de fato, o Senhor propõe a nós? Que sejamos homens e mulheres marcados pelo amor. Mas não apenas um amor qualquer! Que sejamos marcados, tocados, e testemunhemos o Seu amor, o amor que dEle nós recebemos.

E ao ouvirmos esta palavra, nos remetemos ao final da ceia do lava-pés, quando Jesus se volta para os discípulos e diz: “Nisto, todos reconhecerão que vós sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Estamos diante do ideal da  nossa vida como cristãos, estamos, de fato, diante do centro do evangelho, diante do centro da nossa caminhada como cristãos, como discípulos de Cristo.             

Quando o Senhor nos dirige esta palavra, todos nós precisamos nos lembrar que não estamos, simplesmente, diante de uma ordem, de um mandato de fato, diante de um mandamento, mas ao contrário, estamos diante de uma necessidade: eu e você necessitamos amar e ser amados. Fomos feitos para amar.

São João (1Jo 4,7-10) em sua primeira carta, nos lembrava, “Deus é amor!” Se eu e você fomos criados à imagem deste Deus, que é amor, nossa vida só poderá ser vivida no amor, na dinâmica do amor. Todas as vezes em que optamos por não amar, estamos indo contra nós mesmos. É a mesma coisa que pedirmos a um pássaro que não cante, a uma flor que não desabroche, a uma árvore frutífera que não dê frutos. É o mesmo, quando pedimos a nós pra não amar, quando não amamos estamos indo contra nós mesmos, estamos, na verdade, não apenas fazendo mal aos outros, estamos fazendo mal a nós mesmos, porque nosso coração pulsa para amar, deseja amar, foi criado para amar.

Mas é preciso que todos nós nos lembremos, primeiramente, que antes de dar o amor, nós já recebemos. São João nos lembrava, “nisto consiste o amor”. Nós fomos amados, primeiramente, por Deus. Se hoje estamos aqui, é porque somos frutos do Seu amor! Nós fomos, somos e seremos sempre, amados por Deus, e amados concretamente, porque é Deus que nos cria, é Deus que nos sustenta na criação, é Deus que nos ampara, ao longo de nossa vida, e nos ama concretamente, mesmo quando eu e você não percebemos, quando nós nem sentimos, Deus está nos amando! E Deus nos ama todos os dias da nossa vida. Nos ama como a mãe ama seus filhos.

É interessante nos lembrarmos agora do profeta Isaías, quando Deus, através do profeta, dizia, “acaso pode a mãe abandonar o fruto do seu ventre?” (Is 49,13-16) Hoje diríamos, sem medo de errar: “Pode. Não só pode, como abandona!” Mas Deus completa, dizendo: “Mas eu nunca te abandonarei!” Deus nunca nos abandonou, Deus nunca nos abandona, Deus nunca nos abandonará, porque é um pai que nos ama, porque quer o nosso bem, porque nos guarda, mesmo na dor, mesmo no sofrimento, Ele continua cuidando de nós, como a mãe, que deseja tirar a dor do seu filho, mas muitas vezes, permite, porque aquela dor vai gerar crescimento, vai gerar amadurecimento. Porque aquela dor, muitas vezes, faz parte da sua caminhada. Assim Deus nos ama.

Mas é preciso que nos lembremos que o Senhor nos deu uma ordem. Vejam que palavra forte o final do evangelho nos mostrou, “Isto é o que Eu vos ordeno, amai-vos uns aos outros.” Mas qual amor? Qual o modelo de amor, qual o programa de amor, qual a receita para o nosso amor? É o Seu amor, é o amor de Jesus Cristo. E ao contemplarmos o Evangelho, percebemos como foi o amor de Jesus, como é e como deve ser o nosso amor.

O nosso amor, primeiramente, precisa ser, como o amor de Jesus, destinado a todos. O amor de Jesus não era destinado a um grupo, a uma patota, aos seus amigos… Todos poderiam experimentar o Seu amor, todos, ainda hoje, podem experimentar o Seu amor, como o amor de mãe a seus filhos. Todos são destinatários desse amor.

Mas ao mesmo tempo, o amor de Jesus sempre foi um amor gratuito. O Senhor não esperava nada em troca! O Senhor, depois, não se voltou a Pedro e disse: “Eu te amei tanto, eu cuidei de você, eu rezei por você, e agora você me nega?” Qual foi a cena do evangelho em que Jesus jogou na cara dos seus apóstolos, o amor que tinha para eles?

Por isso, meus irmãos, quando estamos esperando algo em troca, isto não é o amor verdadeiro, isto é carência, isto é conveniência, isto é dependência afetiva! Quando a mãe diz, “eu amei tanto você, eu cuidei tanto de você, e agora só recebo isso”? Não amou gratuitamente, porque se tivesse amado gratuitamente, não esperaria nada em troca, deixaria o filho partir e fazer o seu caminho. Aprendamos como Jesus, a amar gratuitamente, na gratuidade, porque na verdade, não precisamos receber nada em troca, porque ao amarmos, nós já estamos recebendo, e nem percebemos.

Mas o amor de Jesus, também, sempre foi um amor concreto. Não foi um amor de belas palavras, apenas, de belos discursos. Amemos com obras, como São João nos dizia: não amemos da boca pra fora, amor é concreto, amor se transforma em obras, em gestos. Assim o Senhor nos amou, e assim devemos amar.

Mas o amor de Jesus tinha ainda uma quarta característica, que o nosso amor também deve ter. Era sempre um amor destinado também, e sobretudo, aos seus inimigos “Amai aqueles que vos perseguem” (Mt 5,38-47). Se eu e você não somos capazes, não amamos quem faz o mal a nós, quem nos critica, quem nos calunia, quem nos persegue, ainda não amamos como cristãos, ainda não amamos como Jesus Cristo. Amamos, talvez, como qualquer pagão, que ama quem o ama, que retribui quem lhe faz bem. É preciso que nós, como Jesus, amemos quem não nos ama, amemos quem, ao contrário, nos odeia. Aí, somos cristãos, aí podemos dizer que, de fato, amamos como Jesus nos ama e nos amou. É preciso que aprendamos a alargar o nosso coração, a dilatar o nosso coração, para amar como o Senhor ama.

E por último, o amor de Jesus foi o amor de quem amou até o último suspiro. Jesus não colocou limite no seu amor. São João, ao iniciar a narrativa da ceia, diz: “Tendo amado os que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1) Amou até a última gota, até o último momento, até a última oportunidade de amar, até o último suspiro.

Assim deve ser o nosso amor! Não podemos dizer, cansei de amar! Ninguém cansa de amar. Amar, como dizia São João da Cruz, não cansa nem se cansa! Quando amamos, de fato, não nos cansamos e não cansamos os outros, porque o amor de verdade não cansa ninguém, nem o que ama, nem o que é amado. Este é o amor verdadeiro.

Que o Senhor, hoje, faça com que eu e você tomemos consciência do Seu amor. Experimentemos, no mais íntimo de nós, a nossa vocação ao amor. E que o Senhor nos dê hoje, a graça de darmos um passo, para que aprendamos a amar a Deus, a amar a nós mesmos e a amar os outros, como Ele nos amou.

Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei!

 

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