O evangelho de João (Jo 10,11-18) narra pra nós a continuidade do início do capítulo décimo, quando Jesus, agora, mais do que falar do Pai, mais do que falar do Seu reino, mais do que falar dos outros, Jesus fala de si mesmo, e se revela a nós, hoje, como o bom pastor.
Talvez ao pensar nesta imagem, todos nós percebamos que não é uma imagem tão próxima a nós, mas basta nos esforçarmos para pensar o que significa Jesus dizer que Ele é o bom pastor.
A primeira coisa que Jesus hoje, quer nos mostrar, é que de fato Ele é aquele que cuida de nós, que nos pastoreia, que nos ampara, que nos conduz pelas estradas da vida, Mas é interessante também, pensar, quando Jesus se descreve como um pastor, todas as vezes em que pensamos num pastor, pensamos naquele que cuida das ovelhas para o seu bem, para o seu sustento, pra sua manutenção, pra manutenção da sua vida, da sua família.
Mas no evangelho, Jesus usa uma imagem totalmente diferente: o bom pastor dá a vida por suas ovelhas. E ao longo do evangelho, Jesus repete, o tempo inteiro, a imagem de que é Ele que dá a Sua vida. Ele não quer a vida das ovelhas, Ele não quer se aproveitar das ovelhas. Ao contrário, Ele quer o bem das ovelhas, Ele quer fazer de tudo o que é possível, para que as ovelhas tenham vida e a tenham em abundância.
Totalmente diferente daquela imagem que o profeta Ezequiel (Ez 34) vai denunciar, em relação aos pastores de Israel, que queriam, na verdade, se aproveitar das ovelhas, usar das ovelhas, se alimentar das ovelhas gordas, se alimentar de suas lãs. Por isso, Deus intervém e diz que será Ele mesmo o pastor de Israel. Será Ele mesmo, Aquele que conduzirá o seu povo, como um bom pastor. S. Agostinho, séculos depois, fez um belíssimo comentário sobre esse texto!
Por isso, o evangelho é, claramente, para nós, a concretização do que Deus havia dito através do profeta Ezequiel. Mas quando escutamos esta palavra, talvez possamos, de certa maneira, nos incomodar e achar que Jesus quer que nos tornemos ovelhas submissas, do Seu redil, do Seu rebanho. Mas é exatamente o contrário, Jesus nos convida, na liberdade, para fazer parte do Seu rebanho. Nenhum de nós está obrigado a fazer parte do Seu rebanho.
Por isso, São Pedro (At 4,8-12) dizia: “A pedra que os pedreiros rejeitaram se tornou a pedra angular”, pra nos lembrar que o Senhor se revela a nós como o pastor, como a pedra angular da nossa vida. Mas todos nós temos a possibilidade de escolhê-lO como o pastor da nossa vida, ou não. Não somos ovelhas presas ao rebanho de Cristo, somos ovelhas livres, e assim o Senhor nos quer, ao longo de toda a nossa vida, de tal maneira que façamos parte do Seu rebanho, na liberdade de nossas escolhas. E ao mesmo tempo, Jesus nos faz recordar com essa palavra, que estamos num mundo marcado por inúmeros pastores.
Se olharmos bem, o que não falta entre nós são pastores, se olharmos bem, veremos que nós mesmos, queremos, muitas vezes, nos tornar pastores de nós mesmos e dos outros. E com isso, vamos abrindo mão do pastoreio de Jesus Cristo, vamos escolhendo outros pastores pra nossa vida, outros que nos conduzam.
E muitas vezes somos nós mesmos, que nos colocamos no lugar do bom pastor. Queremos conduzir nossas vidas, queremos determinar nossa vida, fazer aquilo que bem entendermos. E quando as coisas não dão certo, ainda perguntamos: onde foi que eu errei? o que aconteceu? Nem nos damos conta de que tudo isto vem como fruto de nossas escolhas, de nossas decisões. Não podemos, depois, querer dizer que Deus nos castigou porque nós não O escolhemos como pastor! Não! É fruto de nossas escolhas, da nossa liberdade.
Por isso, experimentamos, tantas vezes, situações difíceis na nossa vida, porque nós, também, como construtores, negamos a pedra angular, rejeitamos a pedra angular. É preciso que hoje, todos nós nos perguntemos, com muita sinceridade, quem, de fato, é o pastor de nossa vida? A quem seguimos? A quem ouvimos? A quem obedecemos? Quem, de fato, pastoreia nossa vida? Quem nos orienta?
O Senhor nos alerta, no evangelho, que Ele é o bom pastor, diferente do mercenário. O mercenário que, na verdade, só quer se aproveitar das ovelhas, só quer o seu bem, não o bem das ovelhas. E ao olharmos ao nosso redor, meus irmãos, veremos que, na verdade, estamos com mercenários de sobra e pastores em falta.
É preciso que aprendamos a não confiar nossa vida aos mercenários de hoje, a confiar nossa vida ao bom pastor, a aprender a não nos tornarmos manipulados por tantos mercenários, a não sermos usados por tantos mercenários, que sobram na nossa sociedade, e às vezes, sobram até dentro da igreja.
Que nós, hoje, nos confiemos, Àquele que é, de fato, o Bom Pastor, Àquele que, de fato, deu sua vida por nós, e continuaria dando todas as vidas que tivesse, Àquele que nos ama e quer o nosso bem.
Hoje, todos nós experimentamos, profundamente, o que São João (1 Jo 3,1-2) nos diz: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos”. Quando Jesus se revela a nós como bom pastor, Ele está nos lembrando que o Pai, como pastor do Seu povo, cuida de nós como Seus filhos, nos pastoreia e nos conduzirá ao longo de toda a vida, mesmo que tenhamos que passar por vales tenebrosos, mesmo que tenhamos que passar por inúmeros desafios, o Senhor continuará sendo o bom pastor, que dá a vida por cada um de nós.
Que agradeçamos a Ele o Seu pastoreio, agradeçamos a Ele por todos aqueles que Ele colocou a nossa volta para nos pastorear, mas que também peçamos perdão pela nossa rebeldia e também pelas vezes que O trocamos por outros, por mercenários, pelas vezes em que abrimos mão dEle como pedra angular da nossa vida. Que peçamos a Ele a graça de sermos sempre dóceis a Sua voz, para que a reconheçamos e a vivamos todos os dias de nossa vida.
Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas.
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