Padre Douglas: Senhor, gostaríamos de ver Jesus

As palavras que esses gregos acabaram de dirigir a Felipe, poderiam ser, perfeitamente, palavras pronunciadas por todos nós. Nós também gostaríamos de ver Jesus… mais ainda, nós gostamos de vê-lO, mais ainda, não apenas queremos vê-lO, queremos conhecê-lO, queremos ficar com Ele, queremos caminhar a nossa vida inteira junto dEle.

Nós estamos, exatamente, no final da primeira parte do evangelho de S. João, chamado Livro dos Sinais, e S. João nos mostra que esses gregos não queriam apenas ver Jesus, enxergá-lO! Queriam muito mais do que isso, queriam fazer aquela mesma experiência que os primeiros discípulos haviam feito, quando Jesus, depois de ser apresentado por João Batista, ouviram do próprio Senhor: “Vinde e vede” (Jo 1,39).

Na verdade, estes homens somos nós… somos nós, que queremos ver Jesus, e estar com Ele, caminhar com Ele! Mas estar com Jesus, implica para todos nós viver como Ele, caminhar como Ele. Jesus nos lembra que “se alguém quer me servir deve estar onde estou” (Jo 12,26).

Hoje, meus irmãos, estamos às portas de celebrarmos a abertura da Semana Santa e contemplarmos Jesus, que entra, aclamado, em Jerusalém. Nós queremos vê-lO entrar aclamado em Jerusalém, mas esta mesma Jerusalém, poucos dias depois, dirá: “crucifica-O”, e matarão o Senhor. O Senhor será elevado da terra, crucificado, morto!

Nós queremos também estar lá? Nós queremos caminhar com Jesus, entrar com Jesus em Jerusalém, subir com Ele ao Calvário! Se olharmos bem a nossa vida, normalmente, nós somos como aquela multidão, que depois de ser saciada, corre ao encontro de Jesus, porque foi alimentada, porque foi saciada, porque quer sinais, necessita de sinais. Mas é preciso que nós busquemos, não apenas o Cristo dos sinais, mas busquemos, também, o Cristo do Calvário, da morte, porque nós, também como Ele, faremos a experiência da ressurreição.

O evangelho de João (12,20-33) nos lembra, claramente: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só, mas, se morre, produz muito fruto.” É um sinal claro, pra nós, para lembrarmos que nós, também, somos como esse grão de trigo que cai na terra, que morre, mas morre para gerar vida. Assim somos todos nós.

Deste modo, entendemos o evangelho de João, que nos faz lembrar que a morte não foi a última palavra na vida de Jesus, e também não é na nossa. É preciso que aprendamos a viver o que cremos, a proclamar com a nossa vida, o que proclamamos com os lábios. Dizemos creio na vida eterna, cremos na eternidade, cremos que a nossa vida não se conclui quando se encerra nossa caminhada terrena… continuamos a viver eternamente, junto de Deus! É exatamente por isso, que rezamos pelos falecidos, porque cremos na vida eterna,  é exatamente por isso que esperamos um dia estar com Ele!

Desse modo, meus irmãos, precisamos nos lembrar, como o autor da carta aos hebreus (Hb 5,7-9) nos mostra, que o Senhor passou pela experiência de clamor e lágrimas, obedeceu a Deus, seguiu a voz de Deus, passou pela morte, e foi atendido, porque a morte não teve a última palavra sobre Ele, como não tem sobre nós.

Precisamos, meus irmãos, aprender a nos reconciliar com a morte. Precisamos, como nos lembra o Papa Francisco, aprender que a nossa vida é feita de sexta-feira santa, mas não só! Caminhamos para o sábado Santo, caminhamos para o Domingo de Páscoa, caminhamos para a ressurreição. Nossa vida não se encerra no Calvário, porque como ouvimos há algumas semanas, nossa meta é o Tabor, é a transfiguração, é a ressurreição. De tal maneira, que como nos dizia o profeta Jeremias (Jr 31,31-34), experimentemos Deus, que vem ao nosso encontro, e sela, definitivamente, a Sua aliança conosco.

Só assim, nós poderemos, de fato, pedir ao Senhor que crie em nós um coração novo, como no Salmo 50. Mas essa criação de um coração novo depende de nós. Estamos há mais de um mês nesta caminhada quaresmal. E o que mudou em nós? Já existe vida nova? Já existe um coração novo? Ou continuamos velhos, continuamos como sempre? Continuamos, talvez, até piorando a nossa vida… O que fizemos com a graça de Deus, que nos foi oferecida, abundantemente, ao longo destas quatro semanas?

Ainda temos um pouco mais… por isso, caberá a cada um de nós um empenho, para que estes últimos dias do tempo da quaresma sejam, de fato, frutuosos, proveitosos para todos nós, gerando em nós uma vida nova, convertida, transformada, para que assim, nós também, como Felipe e André estejamos prontos a levar os outros ao Cristo que encontramos. Apresentar Jesus Cristo aos outros não é missão de alguns, é missão de todos nós, porque se todos nós O encontramos, se todos nós O conhecemos, se todos nós convivemos com Ele, todos nós temos o dever de apresentá-lO a tantos homens e mulheres, sedentos dEle, desejosos de encontrar o Senhor!

Porque na verdade, não foram apenas esses gregos que queriam ver Jesus, éramos nós que queríamos vê-lO! E nós O vimos, nós O tocamos, nós nos alimentamos dEle, de tal forma, que podemos dizer como São João, em sua primeira carta: “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida – porque a vida se manifestou, e nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou –, o que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco.” (1Jo 1,1ss)

Que sejamos homens e mulheres,  arautos,  proclamadores do evangelho, anunciadores de Jesus Cristo, para que a nossa vida seja o grande anúncio pascal, que o mundo de hoje necessita. Para que mesmo que estejamos marcados por um tempo de morte, de dor e sofrimento, sejamos homens e mulheres da vida, da vida eterna, anunciadores da páscoa de Cristo. Para que assim, não celebremos a Páscoa apenas como mais uma festa.

Celebremos a Páscoa do Senhor como a nossa Páscoa, como a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, para que assim, nós também possamos cantar o Aleluia com o ressuscitado, com a certeza de que a Sua páscoa transformou a nossa vida, porque também nós, como Ele, somos o grão de trigo, que cai na terra morre e produz muita vida.

Que todos os dias da nossa jornada, digamos, com muita sinceridade: Senhor, gostaríamos de ver Jesus. Que um dia nós, não apenas desejemos vê-lO, mas que O contemplemos face a face e vivamos a eternidade inteira, contemplando Aquele que agora desejamos ver e ouvir, o Senhor!

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