PE. DOUGLAS – Ai de mim, se eu não pregar o evangelho (1Cor 9,16-19.22-23)

Ao escutarmos esta declaração de S. Paulo, dirigida aos Coríntios e a todos nós, talvez possamos perguntar se estas palavras também não caberiam a nós. Será que hoje, nós também não poderíamos, na verdade, não deveríamos dizer, ‘ai de mim, se eu não pregar o evangelho?’ Pregar o  evangelho não é, como dizia Paulo, simplesmente, uma atribuição de alguns. Pregar o evangelho, para Paulo e para todos nós, é uma necessidade. Necessitamos desta pregação, necessitamos levar aos outros uma palavra que não é nossa, que recebemos do Senhor. Mas ao mesmo tempo em que tomamos consciência desta missão, também nos questionamos: mas como pregar este evangelho, como levar aos outros este evangelho? Pra nós, não pode existir outro modelo central, senão o próprio Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor.

O evangelho de São Marcos (Mc 1,29-39) narra pra nós, claramente, o que significava na vida de Jesus e na nossa, pregar o evangelho, anunciar o evangelho aos outros. E se prestarmos bem atenção, perceberemos, claramente, 3 atitudes de Jesus, hoje, no evangelho, que podem estar presentes em  nossa vida. Podem e devem marcar a nossa vida, como discípulos de Cristo, como anunciadores, pregadores deste evangelho. Em ocasião anterior, Jesus estava na sinagoga e expulsou de um homem, um espírito mau, neste evangelho, Jesus não permanece na sinagoga, Jesus parte da sinagoga e vai pra casa de Simão e André. Talvez esta atitude, pra nós, seja quase algo banal, corriqueiro, mas é algo que deve chamar nossa atenção, pra nos lembrarmos que da mesma forma que Jesus, também nós não podemos resumir a nossa vida ao templo, à sinagoga, à Igreja.

A nossa vida é feita de Igreja e é feita de casa, é feita de templo e é feita também de vida ordinária, no meio do mundo. Nem eu nem você somos chamados, para uma vida, exclusivamente, pra dentro do templo. Como Jesus, nosso Mestre e Senhor, nós também estamos no templo, mas também partimos dele, exatamente, para que nós levemos pra fora dele, a palavra que escutamos.

E assim, o evangelho narra pra nós, 3 atitudes de Jesus, que devem estar presentes em nossa vida. Ao partir, Jesus vai ao encontro de uma família, vai a uma casa, uma visita, talvez como a nossa, talvez, visita esta, que todos nós fazemos. Mas a visita de Jesus levou vida àquela família, transformou aquela família. Ao encontrar a sogra de Pedro enferma, Jesus se compadece… E o evangelho narra, detalhadamente: “Jesus estende a mão, segura a mão da sogra de Pedro e a levanta”. Concede a ela a vida de que ela precisava, uma visita cheia de vida, cheia de graça, cheia do evangelho.

Por isso, hoje, poderíamos nos perguntar, nossas visitas são assim? Quando visitamos os outros, levamos vida para os outros? Levamos o evangelho para os outros? Levamos a graça de Deus para os outros? Ou será que somos aquela visita inconveniente, que quem nos recebe desejaria mais que fôssemos embora, do que ficássemos na casa.

Como é a nossa visita? Como é a nossa presença na vida dos outros, na casa dos outros? Levamos morte? levamos pessimismo? levamos notícias ruins? Ou como Jesus, levamos vida, e da mesma forma que o Senhor, nós somos hoje, chamados a passar, estendendo a nossa mão, e erguendo tantas pessoas, com o nosso auxílio, com o nosso cuidado, com a nossa compaixão, com a palavra que gera vida, que nos levanta, que nos reergue.

Assim, nós também, hoje, como Jesus, precisamos passar na vida de tantas pessoas caídas à beira do caminho, estender a nossa mão e levantá-las. O evangelho descreve que este levantar a sogra de Pedro é o mesmo verbo usado pra falar da ressurreição de Jesus, pra mostrar que é Ele que dá a vida nova aos outros, vida esta, da qual todos nós somos portadores. Ao mesmo tempo, o evangelho continua dizendo que as pessoas levavam os seus doentes, levavam todos os necessitados pra Jesus, pra nos lembrar que nós, também, como missionários, como evangelizadores, não queremos formar a nossa patota, o nosso grupo, o nosso gueto, nós queremos levar todos pra Jesus. Ele é o Mestre, Ele é o Centro, Ele é o Senhor. A Ele também nós levamos as pessoas e queremos que todos se encontrem com Ele, todos sejam, mais uma vez, levantados, revividos pelo Senhor, que hoje também nos reergue.

A segunda coisa que o evangelho de Marcos nos mostra e que está presente na vida de Jesus e deve estar presente na nossa, é Jesus que conservava o hábito de se recolher. O evangelho narra que Jesus procura, no início do dia, ainda de madrugada, procura um lugar solitário.

Meus irmãos, se existe algo que hoje, temos dificuldade de viver é a nossa solidão. Nós sentimos tanta dificuldade de estarmos sozinhos conosco, que entramos no carro, sozinhos, ligamos o rádio. Porque temos que ter alguma música, alguma voz… entramos em casa e ligamos a TV, porque temos que ouvir alguma coisa, ver alguma coisa. O curioso é que não conseguimos nem mesmo nos visitar, estar sozinhos conosco… Talvez a nossa presença seja tão difícil, que nem nós aguentamos ficar sozinhos conosco. Tem que ter alguém pra interagir, pra distrair um pouquinho a nossa cabeça.

Na verdade, a atitude de Jesus nos motiva, a também nós, conservarmos essa atitude, ter o nosso lugar de solidão, o nosso lugar de silêncio, dentro da nossa casa, na igreja… Aprender a nos recolher, aprender a silenciar. Estamos aqui pra isso, e às vezes, nem na igreja conseguimos calar a nossa boca! A gente fala o tempo inteiro. Parece que o silêncio não pode mais fazer parte da nossa vida. Dentro de casa, parece que temos que reaprender a silenciar. Ou a mulher não para de falar, ou é o homem, que não para de falar, ou são os filhos ou são todos, que dentro de casa falam o tempo inteiro. A dificuldade, meus irmãos, é de calarmos, de silenciarmos, pensarmos em nossa vida, em nossa caminhada… A atitude de Jesus, hoje, nos convida a irmos na contramão da correria e do barulho do mundo moderno, no qual estamos.

E por último, o evangelho diz que Jesus parte, para anunciar o evangelho, dizendo: “Vamos a outros lugares, devo pregar também ali, pois foi para isso, que Eu vim”.

Assim também nós, não somos chamados a nos  amarrar, a nos enraizarmos em lugar algum, porque somos peregrinos, somos peregrinos neste mundo, estamos de passagem, e como Jesus, também, somos chamados a anunciar o evangelho, onde quer que estejamos, por onde quer que passemos!

E aprendamos, meus irmãos, com Jesus, a estar a caminho. Nós, às vezes, vamos nos amarrando, amarrando a coisas, amarrando-nos a pessoas, a pastorais… Tudo é passageiro, nós somos passageiros. Como Jesus, nós somos chamados a ser sempre dóceis ao Espírito que vai nos impulsionando, que vai nos convidando a anunciar o evangelho hoje aqui, amanhã, em outro lugar, sempre a caminho. Que o espírito que animou Jesus, animou Paulo a ter consciência da necessidade de anunciar o evangelho, também nos anime, também nos impulsione, também nos ajude a pregar o evangelho, sobretudo, com a nossa vida.

Como dizia S. Francisco de Assis, ao enviar seus confrades para a missão, dizia-lhes: “Se for preciso, usem as palavras.” A Primeira pregação é a nossa vida, o primeiro anúncio do evangelho é o nosso testemunho. Talvez nem precisemos abrir a boca, porque o nosso testemunho será o grande anúncio do evangelho de Jesus Cristo.

Que a palavra que escutamos, encontre acolhida em nossos corações e nos torne, verdadeiramente, evangelizadores, pregadores da palavra que recebemos, porque de fato, hoje, eu e você podemos dizer, e devemos dizer, como Paulo: “Ai de mim, se eu não pregar o evangelho”.

Arte: Thiago Maia

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