PADRE DOUGLAS – Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens.

Ao longo da nossa vida, nós escutamos muitas palavras, muitas palavras nos são dirigidas e muitas palavras nós dirigimos aos outros.

Mas no domingo, instituído pelo Papa Francisco, como o domingo da palavra, somos convidados a reconhecer que existe uma palavra na nossa vida, que não deveria ser substituída por nenhuma outra, uma palavra, como diz o salmista (SI 118,105), que é luz para os nossos passos, uma palavra que não passa, mas ao contrário, aquela que permanece, que nos sustenta, que nos orienta, que conduz a nossa vida, de tal maneira, que como Paulo (1 Cor 7,31) nos lembrava, tomemos consciência de que estamos no meio de um mundo passageiro, com coisas e palavras passageiras.

Mas ao mesmo tempo, existe uma palavra que não passa: “Céus e terra passarão, mas a minha palavra permanecerá” (Mt 24,35). É a garantia que o Senhor nos dá, de que a Sua palavra é como rocha, que nos sustenta no desafio da vida de cada dia. Para que isso aconteça, é preciso então, que todos nós abramos nossos corações e nossas mentes, para acolher essa palavra que o Senhor nos dirige todos os dias da nossa vida.

A liturgia do Domingo da Palavra nos mostra (Mc 1, 14-20) que Jesus, mais uma vez, passa à beira do mar da Galileia, passa à beira da  nossa vida, e nos chama, nos convida a segui-lo. João (Jo 1,35-42) também nos mostrava que o Senhor passa à beira do mar da Galileia e chama André e Pedro, chama também Tiago e João.

Mas na verdade, o Senhor não passa apenas à beira do mar da Galileia, e não chama apenas os apóstolos, o Senhor passa também na nossa vida, e nos chama a segui-lO, nos chama a estar com Ele, a viver com Ele, a caminhar com Ele, a escutá-lO, a segui-lO, mas é preciso que todos nós nos lembremos de que o Senhor, sempre nos fará uma proposta, um convite. Não é uma imposição, não é uma obrigação, é um convite, que de fato, nos atrai, que de fato, nos seduz, mas nenhum de nós está obrigado.

O Senhor chama homens e mulheres livres, para segui-lO na liberdade, como fez com os apóstolos. Mas esse chamado pede de nós, também, a capacidade de deixar alguma coisa. André, Pedro, Tiago e João tiveram que deixar seus pais, suas famílias, seus medos, seus barcos, seus empregados, para seguir o Senhor. Também eu e você, sempre, teremos que deixar alguma coisa. Não é possível seguir Jesus e manter tudo como sempre foi. É preciso deixar pessoas, deixar coisas, deixar hábitos, deixar vícios…

Todos nós, ao ouvirmos o chamado do Senhor, precisamos nos perguntar, olhar a nossa vida e saber o que é preciso deixar para seguir o Senhor que nos chama. E o Evangelho faz questão de dizer que eles, imediatamente, não pensaram duas vezes, porque aquele chamado os atraía, como nos atrai, profundamente.

Nós até poderíamos dizer, como Jeremias, “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir. Foste mais forte do que eu, rompeste a minha surdez.” (Jr 20,7) O chamado do Senhor é tão atraente, que nós nos sentimos interpelados e atraídos a dizer sim e a segui-lO. Mas para que isto aconteça, precisamos nos lembrar de que o evangelho começa, nos mostrando Jesus, que anuncia o tempo de Deus, o reino de Deus. E nos faz um convite: “Convertei-vos e crede no Evangelho “.

Seguir o Senhor exige de nós um processo contínuo de conversão. Nós talvez o sigamos, talvez nós estejamos aqui, porque o sigamos, mas é preciso também e sobretudo, nos convertermos. O seguimento a Jesus Cristo pede de nós conversão, pede de nós mudança de vida. Não é possível fazer parte do Seu grupo, de Seus discípulos e continuarmos os mesmos, fazendo o que sempre fizemos… é preciso conversão, é preciso mudança de vida, e é preciso que a cada ponto, a cada ano, a cada dia, a cada semana, a cada mês, nos convertamos mais.

Como é triste, quando encontramos, às vezes, pessoas que dizem, estou na igreja, padre, já há 300 anos… mas não se converte, não muda de vida, e às vezes, até é pior, já está há tanto tempo na igreja e piora. Ao invés de melhorar, de se tornar um cristão melhor, piora, anda pra trás. É preciso andar pra frente, é preciso se converter, ser melhor, amanhã teremos a oportunidade de ser melhores. Hoje, Deus está nos dando a oportunidade de sermos melhores, de nos convertermos, desculpe a expressão, de tomarmos vergonha na cara e sermos cristãos, de fato e de direito.

Assim, meus irmãos, precisamos, então, crer no evangelho. Qual é o evangelho que nós seguimos, que nós pregamos, que nós anunciamos! “Convertei-vos e crede no evangelho, abracem o Evangelho”. Esta é a proposta de Jesus, do seu Evangelho, não de um evangelho qualquer, não o evangelho pregado muitas vezes entre nós, que não condiz com o evangelho de Jesus Cristo. Cuidado! tomemos cuidado, porque são muitos os evangelhos pregados, e muitos que não condizem com o evangelho de Jesus Cristo.

Desse modo, nós somos convidados pelo Senhor, a seguirmos, seguirmos no ordinário da vida, onde Ele nos chama, onde Ele nos encontra, no dia a dia da vida! É ali que Ele nos encontra, é ali que Ele nos fala, é ali que Ele nos chama, pra que ali, nos tornemos pescadores de homem.

Que nós atraiamos as pessoas para Jesus, tomemos cuidado, meus irmãos, para não afastarmos as pessoas de Jesus, pra não nos tornarmos muro no encontro com Jesus. Nós somos chamados a ser pontes, pontes que facilitam o acesso a Jesus, que possibilitam o encontro com Ele, encontro que eu e você tivemos. Deste modo, nós pescaremos muitos para o Senhor, atrairemos muitos pra Ele. Que nós nos sintamos, verdadeiramente, hoje, motivados a viver essa palavra, e que assim, assumamos o exemplo de Jonas. O Senhor pede a Jonas que cumpra a sua missão, através de 3 atitudes: “Levanta-te e põe-te a caminho de Nínive e anuncia-lhe a mensagem que eu te mandar” (Jn 3,1-5.10), a mensagem que eu vou te confiar.

É preciso nos levantarmos, sairmos da passividade, sairmos do comodismo, sairmos, talvez, do marasmo da vida, pra seguirmos em frente, pra nos pormos a caminho, pra seguirmos e anunciarmos a mensagem que o Senhor nos confiou. Não a nossa, não os nossos pensamentos, as nossas palavras, mas a mensagem do Senhor, e Sua palavra, e Seu evangelho, porque é essa palavra que o mundo deseja, por que o mundo anseia, e de que o mundo, realmente, necessita.

A exemplo de André, Pedro, Tiago, João, Jonas, aprendamos a silenciar e a escutar o Senhor que nos fala e nos confia a Sua palavra, o Seu evangelho, a Sua mensagem e que interpelados por esse chamado, e motivados pelo exemplo de tantos que nos precederam, nós peçamos sempre ao Senhor, como rezamos com o Salmo 24, que Ele nos mostre Seu caminho, que Ele nos mostre a Nínive para a qual somos enviados, porque eu e você temos uma Nínive e o Senhor nos enviou a alguém.

Hoje deveríamos nos perguntar: por que o Senhor me enviou? Para quem o Senhor me enviou, pra anunciar Seu evangelho? Como Jonas, também temos a nossa Nínive, também temos os destinatários da nossa missão, os nossos ninivitas.

E assim, hoje, deixemos que o Senhor, como fez com Pedro, olhe bem em nossos olhos e nos faça a sua proposta: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”.

Arte: Thiago Maia

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