É comum cantarmos pedindo ao Senhor que nos fale, porque precisamos ouvir a Sua voz. E de fato, precisamos escutar a Sua voz. Mas será que nós queremos… nós dizemos, fala Senhor que teu servo escuta.
Mas será que nós queremos escutar o Senhor que nos fala? Porque de fato, nós precisamos dEle, precisamos ouvir Sua voz. Será que nós sabemos escutá-lO? Será que somos capazes de silenciar, parar um pouco da correria, da nossa vida agitada e barulhenta, para escutar o Senhor?
A liturgia do 2º domingo do tempo comum nos coloca diante do Senhor que nos fala, que vem ao nosso encontro, que passa pela nossa vida, que fala no mais íntimo de nós, que fala, através dos seus representantes, e que continuará nos falando ao longo de toda nossa vida. Mas caberá a nós, um aprendizado constante, para que, de fato, saibamos escutar a Sua voz.
No evangelho de João (Jo 1,35-42), um dos relatos iniciais narra pra nós, exatamente, que Jesus foi indicado, por João Batista, aos seus seguidores. Da mesma maneira, um dia fomos apresentados a Jesus. Um familiar, um amigo, um catequista, um padre, um dia, alguém na nossa vida fez a mesma coisa, apontou para Jesus, nos mostrou quem era Jesus.
Mas ao mesmo tempo, vejam que coisa forte, que nós deveríamos aprender com João Batista. João é aquele que aponta para Jesus. Não aponta pra ele, não quer discípulos pra ele, não quer formar o seu grupo, a sua patota. João sabe também que não só ele, que todos nós somos chamados a nos tornar filhos de Jesus Cristo. Ele é o Mestre, Ele é o único Mestre da nossa vida. Somos todos discípulos, discípulos de Jesus Cristo.
Mas ao mesmo tempo, o evangelho narra que João apresenta Jesus a André e a S. João Evangelista. E André, imediatamente, o que faz? Quer que outros conheçam Jesus. Corre até seu irmão, Pedro, e diz, “encontramos o Messias, encontramos Aquele que procuramos”, nos mostrando que nós também somos convidados a aprendermos sempre, a apresentar Jesus aos outros, a falar de Jesus aos outros, a possibilitar aos outros um encontro com Jesus Cristo. E o evangelho termina, nos mostrando que eles pediram a Jesus que queriam conhecê-lO, que queriam vê-lO, queriam saber, de fato, quem Ele era! Jesus faz um convite: “Vinde e vede”. Como se estivesse dizendo, venham conviver comigo, venham caminhar comigo, venham conhecer quem Eu sou, com os olhos de vocês.
Agora não é mais João Batista que vai me apresentar, vocês agora vão me conhecer, olho a olho, no tête-à-tête, na convivência. Meus irmãos, isso não é privilégio de Pedro, André, de João, Tiago, e de qualquer outro discípulo, isso é graça pra mim e pra você, que podemos todos os dias, conviver com Jesus, escutá-lO, nos alimentar dEle, caminhar com Ele, ouvi-lO todos os dias da nossa vida. E o Senhor também nos diz: “Vinde e vede”, vinde ficar comigo, vinde passar a sua vida comigo! Um convite, uma oferta gratuita, a todos nós!
E o evangelho diz que Jesus olhou bem para Pedro. E o evangelho é claro, quando nos diz… vejam como S. João faz questão de narrar, “E Jesus olhou bem para ele”, como Ele também nos olha, e diz a Simão: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas”. Hoje, precisamos deixar que Jesus nos olhe, nos olhe nos olhos, nos olhe por dentro e diga o que quer de nós, diga o que espera de nós. Deixemos que Jesus nos olhe, deixemos que Jesus nos fale, deixemos que, de fato, este encontro transforme a nossa vida, como transformou a vida de Simão Pedro. E ao mesmo tempo, precisamos nos lembrar que, de fato, o Senhor nos fala sempre.
Paulo (1Cor 6, 13c-15ª.17-20) nos lembrava, como o Senhor nos fala, nos fala no mais íntimo de nós! Todos nós O escutamos, todos nós sabemos que Ele está aqui dentro, e por isso Paulo pergunta: “Será que vocês se esqueceram, será que estão ignorando, que o Espírito de Deus mora em vocês? Que vocês são templo do Espírito Santo, que o Espírito está aqui, está falando conosco, está falando ao longo da nossa vida. Mas às vezes, não O escutamos… às vezes pedimos que Ele nos fale, e Ele está falando, sussurrando, como a brisa suave que passa em nossa vida.
Mas normalmente, somos tão acelerados, tão faladores, que é difícil escutar o Espírito que fala, como uma brisa suave, que nos acalma, que nos tranquiliza. É assim que Ele nos fala, e por isso, Paulo nos lembrava que nós formamos um corpo, porque o Espírito nos une. O Espírito que habita em mim, habita em você, e é Ele que nos une, nos forma, como um corpo, uma igreja, um povo, uma comunidade. O que estamos experimentando aqui e agora é um único corpo, membros diferentes, pessoas diferentes, mas unidos, vinculados pelo Espírito, que nos faz um só corpo, uma só Igreja, um só povo, porque um só é o Espírito que em nós habita.
Para que façamos este caminho, poderíamos e deveríamos seguir o exemplo de Samuel (1Sm 3,3b-10.19). O relato de Samuel, no templo, mostrando também o menino que crescia em sabedoria e graça diante de Deus. E esse menino começa a escutar o Senhor. João, no evangelho, nos mostrou, também, o Senhor falando. Mas agora, é Deus que fala ao coração de Samuel. Mas Samuel não entende, Samuel não compreende, Samuel não sabe o que fazer. Entra a figura do sacerdote Eli.
Será, meus irmãos, que essa cena não tem tudo a ver com a nossa vida? Quando nós também, procuramos o padre, e dizemos: ‘Padre, eu não sei o que fazer, nesta situação; Padre, estou com problema no meu casamento, na minha vida, no meu trabalho, na minha pastoral. O que estamos querendo? O mesmo que Samuel: escutar Deus e fazer Sua vontade. Por isso, o sacerdote sempre foi, e sempre será aquele colocado no meio do povo, para ajudar o mesmo povo a escutar Deus, a escutar a Sua voz e fazer a Sua vontade. O padre não está na sua vida, para dizer, faça isso ou faça aquilo. O padre não é um ditador em nossa vida, o padre é, simplesmente, um João Batista, que aponta o caminho. Quem faz o caminho somos eu e você, a decisão é nossa.
Por isso, é preciso que nós não desperdicemos essa graça e, ao mesmo tempo, discernindo a voz de Deus, escutando-a e guardando-a em nossa vida, que vivamos como Samuel. A narrativa termina de uma maneira que nós devemos buscar viver na nossa vida. Samuel crescia e o Senhor estava com ele. Vejam o final: “E não deixava cair por terra nenhuma de suas palavras. Samuel aprendeu a escutar o Senhor e por isso, pôde colocar em prática sua palavra.
Que nós, agora, com consciência, com responsabilidade, e sobretudo com muita vontade, possamos dizer, no mais íntimo de nós “Fala Senhor, que teu servo Te escuta”.
Arte: Thiago Maia