Quando concluímos um ano e iniciamos um novo, é comum desejarmos e recebermos felicitações das pessoas que convivem conosco. Desejamos felicidade, paz, prosperidade, muitas bênçãos… A lista costuma ser sempre, muito grande. Mas é muito comum nós ouvirmos assim, “que no próximo ano, tenhamos saúde, porque o resto a gente corre atrás”. Foi assim, que terminamos 2019 e iniciamos 2020.
Estamos numa pandemia, e se depender das comemorações que vivenciamos, nesta última semana, ainda vamos ficar por um bom tempo na pandemia.
O que de fato, nós precisamos, para iniciar um ano? O que de fato, é essencial, para nós, nesse novo ano? O que nós precisamos pra nós, e devemos desejar para os outros? Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção. E basta! É o suficiente pra nós, que ainda estaremos enfrentando uma pandemia, ao longo desses meses. É o suficiente, pra nós, mesmo que enfrentemos tribulações, em nossas famílias, é o suficiente, pra nós, mesmo que tenhamos que enfrentar o desemprego, a dor, a enfermidade, tantos e tantos problemas, nos quais, eu e você, talvez estejamos, mas em tudo isso, ao longo desses dias desse novo ano, o que precisamos é que Deus nos dê a sua graça e sua bênção.
Mas, na verdade, o que é a graça de Deus? o que é a bênção de Deus? No Livro dos Números (Nm 6,22-27), Deus orienta Moisés, para que indique a Aarão, como deveria abençoar o povo de Israel, invocando o nome do Senhor. Na verdade, nós todos estamos testemunhando Deus que nos deu a sua graça e sua bênção.
Há poucos dias estávamos celebrando o nascimento do seu Filho. Ele é a bênção e a graça de Deus em nossa vida. Na verdade, a bênção de Deus, a graça de Deus têm um nome, têm um rosto… é o Senhor, é o próprio Cristo, Ele é a graça de Deus pra nós, Ele é a bênção de Deus em nossa vida, ao longo desse novo ano que se inicia. E é dEle que precisamos, para iniciar este ano. Por isso, que na verdade, no Livro dos Números, Deus ensina como o povo de Israel deveria ser abençoado, nós estamos vendo uma profecia, uma antecipação, daquilo que hoje experimentamos, Deus que nos abençoa com Seu Filho, Deus que nos concede a Sua graça, que se encarna, entra na nossa história, se torna um de nós e nos impulsiona a seguir em frente.
E como essa graça e essa bênção, chegam até nós? Chegam através de um “sim” humilde e generoso de uma mulher. Paulo (Gl 4, 4-7) dizia “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou-nos o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar todos os que estavam debaixo da Lei”. Somos nós, e Paulo continuava nos lembrando, que é graças a Ele, que nós somos filhos de Deus, graças a Ele, podemos nos voltar, em ação de graças ao Pai e chamá-lo de Pai, de reconhecermos Deus como o Pai que cuida de nós, e nos cuidará ao longo de todo este ano. É a certeza que temos de que Deus, que é nosso Pai, não nos abandona. Mesmo que tenhamos que enfrentar ainda muitos problemas, ao longo de 2021.
Mas é preciso que hoje, também nos lembremos, de que não adianta esperarmos um novo ano, como se tudo agora, fosse, de fato, novo. Eu e você, talvez ainda sejamos os mesmos. O novo ano espera que nós, também, sejamos novos. O novo ano só será melhor, se eu e você, formos melhores. O novo ano só será mais abençoado, se nós formos abençoados. O novo ano espera homens e mulheres novos. É Deus que vira a página e nos diz, um novo ano eu te ofereço. O que vamos fazer com ele, dependerá de nós. Caberá a nós, uma atitude firme, de sermos mais fiéis ao Senhor, mais dóceis a Ele ao longo de todo esse ano.
Mas que sobretudo, sejamos promotores da paz. Desde o pontificado do Papa Paulo VI, o primeiro dia do ano é o Dia Mundial de Oração pela Paz. E se tem algo de que necessitamos e precisamos, é a paz dentro de nós, para que possamos levá-la aos outros, sermos portadores da paz, com o olhar, com uma palavra, com um gesto, porque com guerra, e confusão, já estamos acostumados e especializados. É preciso que nos especializemos em trabalhar com a paz, em promover a paz, dentro e fora de nós.
Por isso, podemos acolher a narrativa de São Lucas (Lc 2, 16-21), como um programa para o nosso ano. Primeiro, assumindo a atitude dos pastores, que foram, às pressas a Belém e encontraram o recém-nascido, a Virgem Maria e São José. Como os pastores, ao longo deste novo ano, somos convidados a voltar sempre para Belém, porque a Igreja é Belém, aqui encontramos o Senhor, a Sua mãe e S. José. Nela, nos alimentamos de sua palavra, do seu corpo e de seu sangue, somos abastecidos para continuarmos a viver, mesmo que tenhamos que enfrentar inúmeros desertos, somos abastecidos pelo Senhor, que cuida de nós e nos pastoreia. Assim, é preciso voltar sempre a Belém, não um dia, não apenas uma semana, ou um mês, mas todos os dias deste novo ano que Deus nos concede.
Mas ao mesmo tempo, é preciso uma segunda atitude, a atitude da Virgem Maria. “Maria, porém, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração”. É necessário que aprendamos a parar, a silenciar. Se existe algo, meus irmãos, que esse ano nos mostrou é que não conseguimos silenciar… não conseguimos parar de falar. Chega a ser curioso, que até em uma missa transmitida, as pessoas estão falando, porque não param de comentar! Qual o sentido de comentar a missa transmitida? De comentar ou responder alguma coisa? É a necessidade de falar e de falar, desenfreadamente.
É preciso que aprendamos a silenciar, a contemplar e meditar, como Maria, pensar no que aconteceu conosco, ou que está acontecendo. Nós vivemos um ritmo frenético o tempo inteiro, sempre correndo, o tempo inteiro falando. As redes sociais estão explodindo de pessoas que não sabem parar de falar. As redes sociais servem, na verdade, como um instrumento eficaz, pra quem não sabe ficar quieto. Pra quem não sabe seguir o exemplo da Virgem Maria, nossa Mãe.
Que neste novo ano nos calemos um pouco mais, ouçamos um pouco mais, meditemos um pouco mais, silenciemos um pouco mais, e com certeza, nossa vida será melhor.
E por último, que sigamos o exemplo dos pastores, que voltaram, voltaram para sua terra, voltaram para o seu ambiente, voltaram para os seus, contando tudo o que haviam visto e ouvido, glorificando a Deus, honrando a Deus! Que sejamos nós, como esses pastores, que anunciam a paz, que levam a boa nova a todos os que encontrarmos, aprendamos a falar do Senhor, aprendamos a falar de suas obras, porque falar dos outros, nós já nos especializamos. Falemos de nós e falemos do Senhor! Este é o programa para o novo ano. Se não temos o que falar, calemos, silenciemos e comecemos este novo ano não apenas com o pé direito, o esquerdo, ou sem os pés! Iniciemos este ano, totalmente entregues ao Senhor, para que assim, ao longo destes mais de 350 dias que teremos pela frente, nos empenhemos a viver, verdadeiramente, como filhos e filhas do Deus da paz, filhos e filhas da Virgem Maria, nossa mãe. Que assim, hoje e sempre, todos nós tenhamos a certeza de que o que de fato, precisamos, é de que Deus nos dê a sua graça e a sua bênção.