PADRE DOUGLAS – A minha alma se alegra no meu Deus

Ao celebrarmos o 3º domingo do Advento, chamado domingo da alegria, poderíamos nos perguntar: existe motivo para nos alegrarmos? Como vamos  nos alegrar hoje? Qual o sentido da nossa alegria? Por que nos alegrarmos diante do cenário no qual nós estamos? Parece que ao contrário, temos inúmeros motivos para nos cansarmos, nos abatermos, nos desanimarmos, nos deprimirmos… Por que nos alegrarmos?

Se hoje perguntássemos à liturgia, qual o motivo da nossa alegria, poderíamos dizer que o motivo central para nos alegrarmos, hoje, é a certeza do Espírito Santo em nossa vida. Graças a Ele, do nosso coração pode brotar, pode nascer uma alegria que permanece.

Paulo, escrevendo aos Gálatas (Gl 5,22) descreve que um dos frutos do Espírito é a alegria. Uma alegria que não é qualquer alegria, não é uma alegria passageira, não é uma alegria que tem como motivação coisas passageiras, que hoje experimento, e amanhã não experimento mais. Não é uma alegria fruto do álcool, das drogas, dos prazeres desenfreados. É uma alegria que permanece, e permanece, mesmo quando temos inúmeros motivos pra não nos alegrarmos, mas continuamos alegres…

E a liturgia da palavra desse domingo descreve pra nós como essa alegria se manifesta, como essa alegria brota do nosso coração e porque ela brota do nosso coração, a partir do momento em que nós tomamos consciência de que o espírito de Deus habita em nosso coração.

O profeta Isaías (Is 61,1-2ª) dizia: o espírito do Senhor está sobre mim, Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres, para levar a libertação aos cativos. Isaías nos mostra o primeiro sinal, o primeiro motivo da alegria do nosso coração. A alegria que nasce da certeza de que o Espírito Santo de Deus nos ungiu, de que nós somos, de fato, homens e mulheres ungidos pelo Espírito Santo, marcados pelo Espírito Santo. Assim foi no nosso Batismo, assim foi no dia da nossa Confirmação.

Assim são todos os dias… todos os dias eu e você somos, novamente, ungidos pelo Espírito, tocados pelo Espírito. Pra quê? Pra sermos portadores, pra sermos, de fato, como que portadores de uma graça, de um dom que não é nosso. O Espírito do Senhor está sobre mim! Ele me ungiu para levar a boa-nova aos pobres. Este é o motivo da nossa alegria, a certeza de que nós somos ungidos pelo Espírito, para levarmos, para anunciarmos a boa-nova a tantas pessoas que dela necessitam.

Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses (1Ts 5,16-24), nos apresenta como que um segundo motivo dessa alegria. Paulo começa dizendo “Estai sempre alegres. Rezai sem cessar.” E por que nos alegrarmos? Paulo nos lembra: “Que o próprio Deus da paz vos santifique totalmente (…).” Nossa alegria é porque Deus nos santifica, é porque Deus nos toca, é porque Deus, de fato, nos reveste da sua graça, faz com que nós sejamos preservados, guardados, cuidados por Ele. É a certeza que Paulo tinha, e lembra aos tessalonicenses e a cada um de nós, que Deus, de fato, está nos pastoreando, está nos santificando!

E por isso, Paulo lembra: “Não apagueis o espírito”. Um dos desafios da nossa vida é não tomarmos consciência de que o Espírito de Deus nos habita. Muitas vezes nós não nos damos conta daquilo que o mesmo Paulo diz ao Coríntios: “Acaso, ignorais que vós sois templos do Espírito?” Será que nós nos esquecemos de que o Espírito de Deus nos habita, está dentro de cada um de nós, nós somos portadores deste Espírito? Será que nós nos esquecemos? Será que nós estamos apagando, sufocando, o Espírito de Deus? Ou será que, ao contrário, estamos dando livre acesso a ele, abrindo o nosso coração, abrindo a nossa vida, deixando que ele tome todos os espaços? “Não apagueis o espírito”, continua Paulo, “Não desprezeis as profecias, mas examinai tudo e guardai o que for bom. Afastai-vos de toda espécie de maldade!”  Paulo nos convida a não desperdiçarmos a graça de Deus que vem ao nosso encontro, a não perdermos a graça de acolher o dom de Deus, não perdermos a graça de acolher a Sua palavra, a Sua profecia, que nos é dirigida, que toca a nossa vida.

Mas ao mesmo tempo, fazermos um caminho cuidadoso e observarmos: o que na nossa vida ainda é de Deus e o que não é de Deus. Examinarmos – no final do ano, costumamos encontrar, nas lojas, aquela placa que diz “Fechada para balanço”- . O final de ano é também, de certa forma, propício para nós fecharmos um pouco, fazermos o nosso balanço, fazermos o nosso exame, nos perguntarmos, ‘como foi esse ano?’ Paulo dizia: “Examinai tudo e guardai o que for bom.” O que foi bom, vamos guardar, vamos levar pra 2021! O que não foi, pode ficar. Nós não somos condenados a repetir nada, eu e você não estamos condicionados, estamos livres… Podemos escolher, podemos escolher o que é bom, manter o que nos faz bem e nos afastar de toda espécie de maldade.

Quantas vezes nós não nos damos conta de que, até, inconscientemente, nós procuramos o mal, procuramos a maldade. Parece que nós, em alguns momentos da vida, gostamos de ser maus, gostamos do mal, gostamos de permanecer no mal. Parece até que estamos viciados com a maldade. Paulo diz: “Afastai-vos de toda espécie de maldade”. Onde está presente a maldade na minha vida? Qual o tipo de maldade que eu ainda pratico? São meus pensamentos maldosos, são minhas palavras, são minhas atitudes? Minhas soluções são maldosas? Não podemos nos esquecer, meus irmãos, de que eu e você somos, muitas vezes, tentados pelo mal. Muitas vezes, até sem nos darmos conta, nós estamos nos deixando levar pela maldade. É preciso que nós nos afastemos de todo tipo de maldade.

São João Evangelista (Jo 1,6-8.19-28) nos apresenta o terceiro motivo da nossa alegria. Alegria que vem da certeza de que sempre teremos em nossa vida, um João Batista. Nós sempre teremos um precursor, sempre teremos alguém que prepara o caminho do Senhor. Sempre poderemos contar com homens e mulheres que fazem a mediação, homens e mulheres que nos apontam o Senhor, nos levam para o Senhor. Como é gratificante, quando nós encontramos um amigo, quando encontramos talvez, até uma pessoa desconhecida, que nos alerta, nos faz despertar para o caminho do Senhor! Faz-nos perceber nossos erros, nos faz perceber que estamos caminhando mal, que nos ajuda a aplainar o caminho do Senhor. Parece que são pessoas que, de certa forma, nos sustentam, nos suportam, nos ajudam, da nossa família, do nosso trabalho, da nossa comunidade, do nosso círculo de amizade. São tantos homens e mulheres que, como João Batista, estão apontando para o Senhor, estão nos ajudando a aplainar o nosso caminho na estrada da vida. Muitas vezes, eles são, de fato, como uma voz que clama no deserto da nossa vida.

Mas é preciso que nós nos lembremos de que todos nós necessitamos de João Batista, mas necessitamos também, nos tornarmos em outro João Batista. Temos a missão de sermos pontes para o Senhor, de apontarmos para Ele, de levarmos os outros para o encontro com Ele, de reconhecermos que somos apenas a voz. Ele é a palavra, nós apenas apontamos, porque Ele é o caminho, nós apenas indicamos, Ele é o fim!

Da mesma forma que João Batista fez com Pedro e André, eu e você podemos fazer: apontar para Jesus, e dizer “eis o Cordeiro de Deus”. Fazer com que tantas pessoas se encontrem com o Senhor, graças a nossa indicação. É a vocação que todos nós temos, de viver como João Batista.

Só assim, só acolhendo o Espírito, só tomando consciência da presença do Espírito em nossa vida, é que nós, de fato, deixaremos nascer, naturalmente, espontaneamente, do nosso coração, a alegria que vem desse mesmo Espírito. E só assim poderemos viver, todos os dias, ao longo da nossa vida, a exemplo de Maria, nossa Mãe, o que cantamos no Salmo:

A minha alma se alegra no meu Deus!

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