PADRE DOUGLAS – “Eis que vem o nosso Deus! Ele vem para salvar.”

Ao escutarmos estas palavras do salmista (Sl 84), todos nós somos convidados a experimentar, em nosso coração, como que um transbordamento da nossa esperança.

 Todos nós podemos nos sentir hoje abatidos, cansados, desanimados, mas o salmista como que limpa nossos olhos e nos faz enxergar o Senhor que se aproxima, o Senhor que vem ao nosso encontro, o Senhor que vem trazer a paz que buscamos, e precisamos, o Senhor que vem curar nossas feridas, como curou o paralítico, no evangelho (Lc 5,17-26).

E como o Senhor vem? Como o Senhor chegará até nós? Chegará através de uma mulher, através da Virgem Maria. Ao longo da novena da Imaculada e celebrando as vésperas da Virgem de Guadalupe, nós fomos conduzidos a contemplar a Virgem Maria como mãe de um povo ferido, do qual fazemos parte por conta do momento histórico em que estamos. Somos nós, membros desse povo ferido por tantos motivos, por tantas realidades, que poderíamos dizer que a ferida não foi curada, a ferida, talvez, ainda nem esteja cicatrizada. Mas o que importa é sabermos que temos uma mãe cuidando de nós! E mais ainda, uma mãe, que através do seu sim, nos dá Aquele que cura as nossas feridas, nos dá Aquele que sara as nossas enfermidades.

Mas ao mesmo tempo, hoje, somos convidados a olhar pra Maria, como a portadora da paz! Se tem algo de que estamos precisando, é da paz! Não uma paz qualquer, mas aquela que vem do próprio espírito, como fruto do espírito, aquela que vem do príncipe da paz, como o profeta Isaías nos anuncia, e o príncipe da paz também nos vem pela Virgem Maria.

Caberá então a nós, diante da Virgem Maria, primeiramente, deixarmos brotar do nosso coração uma profunda gratidão. Gratidão a ela, pelo seu sim, gratidão a ela, porque continua cuidando de nós, e como mãe nos diz, como ouvimos em Guadalupe: “Não estou eu aqui que sou sua mãe?” Esta é a certeza que temos de que a nossa mãe não nos abandona, de que a nossa mãe cuida de nós, nos ampara, nos orienta e nos conduz na estrada da vida.

Mas ao mesmo tempo, deve brotar do nosso coração, diante da Virgem Maria, um desejo, sincero, de sermos homens e mulheres que levam a cura para os outros, não homens e mulheres que causam feridas, que causam dores, que causam danos, mas  homens e mulheres, que como a Virgem Maria, levam a cura, levam o alívio para aqueles que sofrem. Só podemos fazer isto como Maria. Não levando a nossa cura, não levando a nossa palavra, mas como ela, levando Jesus Cristo, doando Jesus Cristo, oferecendo o Senhor e doando a Sua Palavra.

E é o que a Escritura nos mostra, quando o profeta Isaías, diante de um povo cansado, abatido, desanimado, ele é impulsionado por Deus e por seu espírito, a levar uma palavra de consolo para este povo. Esta palavra, hoje, é dirigida a todos nós, sem dúvida alguma, mas é também uma palavra que precisamos levar aos outros: “Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio” (Is 35, 1-10). Nós poderíamos dizer, como podemos nos alegrar, no meio de uma pandemia, como nós vamos nos alegrar, no meio de tantas crises, no meio de tanta violência? Nós vamos nos alegrar, e nos alegramos sempre, no Senhor, porque Ele nos foi dado, Ele nos será dado, Ele é a garantia de nossa alegria, alegria essa, que não passa, mesmo que estejamos no meio das dores. E assim o profeta continua, conduzindo-nos a todos: “Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus’ (…) Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados.”

Meus irmãos, nós poderíamos dizer que a profecia de Isaías foi escrita hoje, foi escrita agora, pra mim e pra você, que também nos sentimos, tantas vezes, abatidos, desanimados, cansados, preocupados e inseguros. Mas o Senhor, conhecendo a nossa realidade, nos diz: “Criai ânimo, não tenhais medo, fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados”, nos impulsionando a seguirmos em frente, a caminharmos. E o profeta termina, dizendo: “Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos: cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto”, porque o nosso Deus vem, e o nosso Deus virá.

Não podemos, meus irmãos, celebrar esse advento, como se fosse um teatro. Não podemos celebrar o Natal como se fosse uma bela encenação! Acabou o teatro, a gente volta pra casa, com a cabeça baixa, como se tudo estivesse perdido. Claro que não! Celebramos o Natal, celebramos a Imaculada Conceição, celebramos o Advento, pra renovar a certeza de que o nosso Deus caminha conosco, de que o nosso Deus é o nosso pastor, combate ao nosso lado! É o que a liturgia tem nos mostrado ao longo dessas semanas, e assim, o evangelho nos coloca diante desse Deus, que entra na nossa história e nos cura, e nos toca. Vejam, as pessoas estavam maravilhadas com o que Jesus fazia. O evangelho termina com as pessoas aclamando: “Hoje vimos coisas maravilhosas!” (Lc 5,17-26).

Daqui a alguns dias, nós diremos, hoje nasceu para nós um Salvador, um menino nos foi dado e não nos será tirado. Não podemos, meus irmãos, deixar que o Natal se transforme num teatro. Não podemos deixar que o Natal se transforme numa festa pagã, da comida, do presente, dos enfeites. O Natal é pra nós, motivo de esperança, de alegria e de fortaleza, pra que assim, todos nós, sejamos como esse paralítico. Deixemo-nos conduzir até Jesus, deixemos que os outros nos levem até Jesus, deixemos que Jesus cure nossas paralisias. Mas que sobretudo, eu e você sejamos capazes de levar tantos paralíticos para Jesus, porque é Ele que cura, é Ele que sara nossas feridas. Sejamos criativos, como temos sido ao longo dessa pandemia, sejamos criativos, para fazer com que tantos homens e mulheres se encontrem com o Senhor. O mesmo Senhor que queremos seguir durante todos os dias da nossa vida.

Que assim, no encontro com o Senhor, eu e você sejamos curados, eu e você sejamos libertos de todo tipo de paralisia e que assim, sejamos homens e mulheres da cura e da paz. Que a Virgem Maria, nossa mãe, a Imaculada Conceição, nos ensine a experimentarmos, de fato, a dor, a experimentarmos a ferida e o sofrimento, não como fim, mas como uma passagem, como uma páscoa. E que assim, acolhamos o dom da paz, que vem do príncipe da paz, que vem do espírito. Somente assim nós poderemos experimentar, no mais íntimo de nós, uma paz que não passa, uma paz que podemos vivenciar, mesmo no meio de uma guerra, porque essa paz é fruto da certeza de Deus presente na nossa vida, como a Virgem Maria experimentou ao longo da sua: a paz é fruto do Espírito. Que sejamos nós, hoje, homens e mulheres anunciadores dessa verdade, mas que antes, sejamos homens e mulheres possuidores desta verdade que acabamos de rezar:

“Eis que vem o nosso Deus! Ele vem para salvar.”

Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Postagens Relacionadas
Leia mais

A VOZ DO PASTOR – As quaresmeiras estão floridas

Amados Irmãs e irmãos, Por toda parte, as quaresmeiras estão floridas. Elas nos anunciam que estamos para reviver os momentos principais e literalmente cruciais da nossa fé. As quaresmeiras nos alertam para o ponto ômega e a certeza fundadora: Jesus não irá fugir nem nos abandonar. Ele ficará conosco. “Abbá, Pai, tudo te é possível: afasta de mim este cálice, mas ...
Total
0
Share