Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
Essa brincadeira infantil traduz alguns pensamentos filosóficos. Não quero entrar nas controvérsias metafísicas deste debate, embora isso dê “pano pra manga”. Este exemplo, por frívolo que seja, ilustra bem a diferença entre os materialistas e os idealistas.
O materialismo imagina que tudo tenha vindo de um ovo primordial que, um dia, e por mero acaso, chocou-se a si mesmo, sem nenhuma ave antecessora. O materialismo pula uma fase, porque um ovo existe para produzir uma ave, mas uma ave não existe apenas para produzir um ovo: ela pode existir também para ir para a panela. O materialismo encurta as visões.
Já o idealismo considera que um ovo é bom se for suficiente para a prática da avicultura, ou mau, se for usado em desagravos populares: não é de hoje que ovos são atirados em políticos, para deixarem de ser venais ou falastrões, ou os dois.
Ovos nos fazem pensar nas causas das coisas. Se alguém quiser conhecer bem as coisas, precisa ir além e conhecer, mais e melhor, as causas das coisas.
É inútil passar a vida indagando sobre a antecedência de ovos ou aves.
Mas não podemos nos entregar apenas ao governo da eficiência crua. A eficiência, por si só, é fútil. Se um homem foi assassinado é porque o assassino foi eficiente. Não é? Se for na sociedade da eficiência que queremos viver, somos muito fúteis. A quem só apetece a vitória, acaba chegando sempre atrasado para a batalha.
Antes de conhecer as coisas, é preciso conhecer as causas das coisas.
Conta isso para os seus filhos, essa criançada bonita que, hoje, só pensa se houver uma tela à frente do pensamento. Nós precisamos deles para nos libertar de nós mesmos. Por isso, precisamos libertá-los deles mesmos, antes que se percam em perguntas e respostas vazias.
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói