Padre Douglas – O Senhor está perto da pessoa que O invoca

Quando nós escutamos estas palavras do salmista (Sl 144), experimentamos, como que um bálsamo que estivesse sendo derramado sobre nossos corações. Todos nos sentimos confortados, reconfortados por esta palavra tão significativa que nos dá a certeza de que de fato, o Senhor está ao nosso lado e vem ao nosso encontro, sempre que O invocamos.

Mas o salmo 144 não apenas nos dá a certeza de que o Senhor está ao nosso lado, vem ao nosso encontro, quando nós O invocamos, mas nos faz pensar num convite, num chamado, que o senhor nos faz, para que nós estejamos junto dEle, para que não apenas Ele dê um passo, e venha ao nosso encontro, mas que sejamos nós, também, a dar o passo e irmos ao encontro dEle, para estar com Ele, viver com Ele e permanecer com Ele.

Nesse mesmo sentido, Jesus faz a todos nós um convite: “Ide também para minha vinha” (Mt 20,7). A narrativa da parábola (Mt 20, 1-16a) que Jesus nos apresenta é, claramente, um convite, a todos nós! Todos nós somos destinatários do convite e exatamente, por isso, o patrão, o dono da vinha sai às 6, às 9, ao meio-dia, às 3 e às 5 da tarde, para mostrar que Ele chama todos, não apenas um grupo é destinatário deste convite. O evangelho de Mateus, claramente direcionado aos judeus, que se convertiam ao cristianismo, quer mostrar para o povo de Israel que se considerava a vinha do Senhor, para mostrar para aquele povo, que se considerava o povo eleito, o povo escolhido, o povo querido por Deus, e para o povo de Deus, de fato, toda a humanidade é chamada a fazer parte. Não apenas os judeus eram convidados, por isso, na parábola, fica claro que o dono da vinha sai às 6, às 9, ao meio-dia e às 3, exatamente os horários nos quais os judeus faziam suas orações. Mas o patrão muda aquela cronologia e aparece às 5 da tarde, e chama a todos, para sua vinha. Para nos mostrar que este convite não é um convite destinado a um grupo eleito, não é destinado a uma patota, não é destinado a um grupo fechado, mas é um convite destinado a todo homem a toda mulher, todos nós, hoje, ouvimos o Senhor nos chamando, “Ide também vós para a minha vinha”. E eu e você, hoje, podemos agradecer a Deus, porque um dia, escutamos este convite, um dia, você e eu também fomos encontrados por Ele, e ao escutarmos o Seu convite, viemos fazer parte da Sua vinha, a vinha do Senhor, a Sua Igreja, o Seu povo, a Sua comunidade.

Mas isto não pode apenas nos consolar, isto também deve nos questionar! Como nós estamos nesta vinha? Talvez o Senhor nos tenha encontrado desocupados e passamos a fazer parte da Sua vinha? E talvez também possamos estar na Sua vinha desocupados…

Como disse Paulo, aos Tessalonicenses, muito ocupados em não fazer nada (2Ts 3,11). Podemos estar na vinha do Senhor como parasitas, apenas beneficiados da vinha, mas não fazemos nada pela vinha, não contribuímos com a vinha, nos omitimos, nos ausentamos e nos ocupamos em não fazer nada. Esta palavra nos interpela, a nos sentirmos participantes desta vinha, desta comunidade e nos dedicarmos em prol da mesma, que é a Igreja, e não podemos deixar de lembrar aquele ditado popular, quando costumamos dizer que “venha a nós sempre, vosso reino, nada”. Às vezes estamos assim, estamos na vinha do Senhor só no venha a nós, só queremos receber, receber, receber… dar, nada! Entregar nossa vida? Nada! Servir na vinha? Nada! Estamos, muitas vezes, na vinha do Senhor, como verdadeiros parasitas… usufruindo da vinha do Senhor. Mas graças a Deus, Ele nos convida a dar um passo, nos convida a nos empenharmos, a nos dedicarmos, fielmente, à Sua vinha e em prol desta mesma vinha.

Mas o evangelho nos mostra algo que também eu e você experimentamos na vinha do Senhor. Um dos empregados começa a resmungar contra o patrão. O que este empregado experimentou, o que nós também, podemos experimentar: a inveja, o ciúme, o mal da comparação. Esta palavra nos convida a superar esta lógica infantil, que muitas vezes, predomina entre nós… Parecemos muitas vezes, crianças,  quando a mãe começa a dar as coisas, e o irmão diz, mas ele ganhou mais do que eu… Quantas vezes deixamos essa lógica prevalecer na nossa vida de igreja, quantas vezes nos deixamos levar por uma imaturidade, parecemos crianças, que só queremos nos alimentar da mãe-Igreja. É preciso crescer, é preciso aprender agora, a dar mais do que receber. Este empregado é a figura clara do povo de Israel, é a figura clara do filho mais velho, que quando encontra o filho mais novo dentro de casa, se vira para o pai e diz: “eu trabalho para ti há tantos anos, e tu nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos…” Este filho nunca experimentou a paternidade daquele pai, esse filho nunca experimentou a graça de estar com o pai, como este empregado nunca experimentou a graça de estar na vinha do Senhor, o que era maravilhoso! Ele não ficou apenas uma hora, ele ficou o dia inteiro! Ele estava com o Senhor! Mas não,  o ciúme, a inveja, a comparação, dominaram, prevaleceram em seu coração!

Não nos esqueçamos, meus irmãos, lembrava-nos o Papa Francisco no Ângelus do dia 20/09/2020, que o primeiro santo canonizado da Igreja é o Bom Ladrão, São Dimas! O que ele fez? Seguiu Jesus, durante toda a sua vida? Não, nos 45 do segundo tempo… Diz ”Senhor, lembra-te de mim, quando estiveres em teu reino”. E o que escuta de Jesus? “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Talvez se S. Pedro estivesse ao pé da Cruz, tivesse dito a Jesus: “Mas como? Agora você vai dar o reino dos céus pra ele? E nós, que estamos com o Senhor há 3 anos?”

Quantas vezes nós somos este empregado resmungão, quantas vezes somos este filho mais velho, que em vez de acolher o novo que chega, ficamos resmungando!

Não nos esqueçamos, meus irmãos, do que Isaías nos lembra (Is 55, 8s): Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, meus projetos não são como os vossos projetos. Não nos coloquemos no meio da nossa lógica, não queiramos que Deus aja na lógica humana.  Aja na mediocridade humana, que muitas vezes prevalece entre nós, Deus é Deus e irá agir sempre na liberdade como Deus.

Caberá a nós, hoje, acolhermos o convite de Paulo, e vivermos como ele. Vejam que ousadia de Paulo, dizer: “Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro.” (Fl 1, 21).

Meus irmãos, se nós chegarmos aos pés do apóstolo Paulo, nós já podemos agradecer a Deus e podemos até dizer: “Senhor, pode me levar que já estou pronto! Já está bom demais…”

Por isso, Paulo nos convidava (Fl 1,27): Vivei à altura do evangelho. Saiamos da nossa mediocridade, saiamos da nossa visão elitista, superficial, saiamos do nosso mundinho, saiamos do nosso gueto, saiamos da praça desocupados, entremos na vinha do Senhor, nos dediquemos na vinha do Senhor, consumamos a nossa vida, na vinha do Senhor.

E que hoje, ao escutarmos o Senhor que nos convida, que digamos sim a Ele, que tenhamos a certeza clara de que não apenas queremos estar com Ele, mas queremos buscá-lO, vê-lO que está perto de cada um de nós. Que venha ao nosso encontro, que nos convida a fazer parte da Sua Trinidade, da Sua família, do Seu povo, da Sua Igreja.

O Senhor está perto da pessoa que O invoca!

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  1. Maravilha de comentário, que riqueza, como é bom receber seus pôsteres, eles me exotam, edificam e tranborda meu coração… gratidão!
    Sua bênção!

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