Nunca me esqueço das aulas de filosofia, com Heráclito propagando desde 500 a.C. que tudo flui, numa permanente tensão entre contrários em busca de um ponto de equilíbrio. Nunca poderemos entrar no mesmo rio duas vezes, porque a água, já na segunda vez, será outra.
Zygmunt Bauman afirmou que em nossos tempos as relações escorrem líquidas, pelos dedos. Todas as condições que justificavam a existência das instituições desapareceram na velocidade da mudança de valores, meios de vida e crenças. A impressão que ficou é que, daqui para frente, tudo que for inventado, já nasce velho. Heráclito estava certo: tudo flui. Hoje, as coisas nem são mais líquidas, são gasosas.
Como, então, identificar soluções robustas, com resultados esperados, no tempo certo?
No mundo pós-pandemia, a mobilidade física, a social e a mental irão se alternar, esbarrando-se umas nas outras. A mobilidade física já começou: a primeira preocupação das autoridades sanitárias é a de evitar aglomerações. Dentro dos espaços, a proximidade não é bem-vinda. Para o bem do todo, estão proibidos abraços, beijos e manifestações de afeto, tão comuns a nós, brasileiros.
A pandemia trouxe mudanças radicais. Toda logística de trabalhar e viver, ir e vir, foi alterada, para nosso próprio bem.
Enquanto freneticamente se busca vacinas e remédios, ficamos de olho no futuro. É que parece que o presente já não tem muito a nos oferecer.
O que esperar? Internet 5G, 6G… 10G, mais robôs nas fábricas, cabeamentos óticos, a exploração dos limites do visual sobre os outros canais de percepção? Coisas desaparecerão e outras serão criadas. Tudo flui, às nossas vistas, entre nossos dedos, como afirmaram Heráclito e Bauman.
Não é bom esquecer que a ciência e a pesquisa são as guardiãs do futuro. Considere isso.
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói